sábado, 22 de junho de 2013

Bertrand du Guesclin, um efêmero conde bretão na Galiza




 As biografias de Bertrand du Guesclin (Beltram Gwesklin em bretão), chamado Águia da Bretanha e Dogo Negro da Brocelianda, não costumam mencionar o fato de que por um curto período, ao menos nominalmente, foi senhor de um dos mais importantes condados da Galiza medieval. Em 1366, Du Guesclin —um dos personagens mais célebres da Guerra dos Cem Anos— foi nomeado conde de Lemos, mas tudo indica que em nenhum momento chegou a governar o condado. Este pouco conhecido episódio é mencionado por alguns historiadores galegos, como Germán Vázquez e Eduardo Pardo de Guevara, quem o qualifica de «breve e confuso capítulo da história do condado de Lemos».


Fortaleza condal e mosteiro de Monforte de Lemos (Foto Alberto López)

A nomeação de Bertrand du Guesclin como conde de Lemos produziu-se no contexto de uma longa guerra civil entabulada no século XIV pela posse da coroa de Castela, à qual estava submetido o Reino da Galiza desde o reinado de Fernando III. A guerra enfrentava os partidários do rei Pedro I, o Cruel e de seu meio-irmão Henrique de Trastâmara. Este último, que acabou por ocupar o trono e reinou com o nome de Henrique II, teve um importante apoio nas tropas mercenárias de Du Guesclin, caraterizadas por uma grande eficácia militar e uma ferocidade extrema. Quando o caudilho bretão foi nomeado conde de Lemos, no entanto, não era o único que ostentava essa dignidade, e a guerra em que tomava parte estava longe de ser ganhada. Nesse mesmo ano, Pedro I outorgou o mesmo título (que ainda não era hereditário nessa altura) ao nobre galego Fernando Ruiz de Castro, um dos mais importantes partidários que teve ao longo do conflito. Fernando Ruiz de Castro era filho do anterior conde de Lemos —Pedro Fernández de Castro, chamado o da Guerra— e meio-irmão de Inês de Castro, a famosa rainha morta de Portugal. Sua ajuda foi especialmente útil a Pedro I quando se refugiou na Galiza depois de ser derrotado em Sevilha pelas tropas de Henrique e Bertrand du Guesclin.


Batalha de Nájera segundo uma miniatura das crónicas de Jean Froissart
  O curso da guerra, inicialmente favorável a Henrique de Trastâmara, pareceu mudar em 1367, quando Pedro desbaratou o exército do seu adversário na batalha de Nájera com o auxílio de tropas inglesas sob o comando do Príncipe Negro. Porém, o conflito deu mais tarde um novo giro e Henrique alcançou uma vitória definitiva em 1369 na batalha de Montiel. Depois de ser derrotado, ao que parece, Pedro I morreu em um forcejo com seu meio-irmão. A tradição diz que o próprio Bertrand du Guesclin ajudou Henrique no assassinato, segurando o vencido enquanto proferia uma frase que se tornaria um lugar-comum na língua espanhola: Ni quito ni pongo rey, pero ayudo a mi señor (Nem tiro nem ponho rei, mas ajudo meu senhor). Segundo outros testemunhos, quem ajudou Henrique a perpetrar o fratricídio foi o nobre galego Fernão Perez de Andrade. Após a derrota, Fernando Ruiz de Castro tentou de levantar na Galiza a resistência contra o novo rei. Mas por finais de 1370 Henrique enviou suas tropas para sufocar a rebelião e os mercenários de Du Guesclin assaltaram as fortalezas de Monforte de Lemos e Castro Caldelas. Fernando Ruiz de Castro foi vencido perto de Lugo por inícios de 1371. Du Guesclin voltou para o reino de França e não chegou a tomar posse do condado de Lemos. 

Batalha de Auray, na Guerra de Sucessão da Bretanha
Nascido em 1320 no castelo de La Motte-Broons, perto de Dinan, Bertrand du Guesclin pertencia à baixa nobreza bretã. Analfabeto e de caráter violento, destacou desde muito novo na carreira das armas. Começou tomando parte na Guerra de Sucessão da Bretanha (1341-1364) à frente de um exército de aventureiros e mercenários. Foi armado cavaleiro em 1357 e combateu ao serviço do rei francês Carlos V contra o monarca navarro Carlos II, o Mau. Ao terminar este conflito, as companhias que comandava subsistiram praticando a rapina. Carlos V desfez-se do problema enviando Du Guesclin a servir Henrique de Trastâmara na guerra civil castelhana. Quando o chefe mercenário voltou à França em 1370, foi nomeado condestável e continuou a participar em diversos conflitos bélicos, nomeadamente nas lutas para expulsar os ingleses dos domínios que detinham em território francês. Morreu em 1380, no cerco da fortaleza de Châteauneuf-de-Randon. 
   A estratégia militar de Bertrand du Guesclin caraterizou-se pelas táticas da guerra de atrito, a guerrilha e a terra arrasada. Na França foi tido tradicionalmente por um herói nacional. Muitos nacionalistas bretões, pelo contrário, consideraram-no um traidor por ter lutado ao serviço da coroa francesa contra a Bretanha, que era nessa época um ducado independente.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Cavernas no límite das geleiras da Serra do Courel (Galiza)

Exploração da caverna da Tara
Em 2009, o clube espeleológico Maúxo, com sede em Vigo, e o Instituto de Geologia Isidro Parga Pondal, da Universidade da Corunha, editaram a brochura As grandes covas do Courel, que recolhe pesquisas realizadas ao longo de quatro anos em diversas cavernas cársticas desta serra do leste da Galiza, caraterizada por uma grande diversidade geológica e biológica. A publicação descreve as principais caraterísticas de quatro cavernas calcárias: Arcóia, Pena Paleira, Rio Pérez e Tara. Todas elas encontram-se no límite das geleiras que existiram durante o Pleistoceno nas zonas mais altas da serra.


Concreções calcárias na caverna de Arcóia
O estudo científico destas cavidades, cuja formação está associada aos processos de drenagem das antigas massas de gelo, começou em tempos muito recentes. Algumas delas foram descobertas em 1993 e 2007. Na publicação catalogam-se os diversos tipos de espeleotemas que os espeleólogos e geólogos puderam observar neste conjunto de grutas: estalactites, estalagmites, antiestalagmites, helictites, escorrimentos, gours, calcitas flutuantes, coralóides...


Estalagmite de Arcóia (seção)
O Instituto de Geologia Isidro Parga Pondal, em colaboração com a universidade estadunidense da Geórgia, está a utilizar estalagmites extraídas da caverna de Arcóia em um projeto de investigação cujo fim é obter um registo dos climas pré-históricos das montahas da Galiza. Essa informação consegue-se analisando os isótopos de carbono e oxigênio que ficam encerrados no interior destes espeleotemas durante o seu lento processo de formação. Com esta técnica é possível determinar as condições de umidade e temperatura que se davam na região há milhares de anos. Em uma primeira tentativa obteve-se uma sequência de dados climáticos que se estende desde há 14.000 anos —por finais da última glaciação— até à época atual. Agora estão a realizar-se análises com um fragmento de uma estalagmite de maior tamanho, e portanto muito mais antiga, das quais se pretende extrair dados dos últimos 235.000 anos. Os pesquisadores já identificaram nesta estalagmite as pegadas de sete etapas bioclimáticas diferentes.

As geleiras pré-históricas deixaram muitas outras pegadas na Serra do Courel, como a lagoa de Lucenza, situada 1.400 metros acima do nível do mar.

Grutas de la cota glaciar de la Sierra del Courel (Galicia)

Exploración de la cueva de A Tara
En 2009, el club espeleológico Maúxo, radicado en Vigo, y el Instituto de Geología Isidro Parga Pondal, de la Universidad de A Coruña, editaron el folleto As grandes covas do Courel, que recoge investigaciones realizadas durante cuatro años en diversas grutas kársticas de esta sierra del este de Galicia, caracterizada por una gran diversidad geológica y biológica. La publicación describe las principales características de cuatro cavernas: Arcoia, Pena Paleira, Río Pérez y A Tara. Todas ellas están situadas en el límite de los glaciares que existieron durante el Pleistoceno en las zonas más altas de la sierra.

Formaciones calizas en la cueva de Arcoia
 El estudio científico de estas cavidades, cuya formación está asociada a los procesos de drenaje de las antiguas masas de hielo, comenzó en tiempos muy recientes. Algunas de ellas fueron descubiertas en 1993 y 2007. En la publicación se catalogan los diversos tipos de espeleotemas que los espeleólogos y geólogos han podido observar en este conjunto de grutas: estalactitas, estalagmitas, helictitas, conulitos, coladas, gours, calcitas flotantes, coraloides...


Estalagmita de Arcoia (sección)
El Instituto de Geología Isidro Parga Pondal, en colaboración con la universidad estadounidense de Georgia, está utilizando estalagmitas extraídas de la cueva de Arcoia en un proyecto de investigación cuyo objetivo es obtener un registro de los climas prehistóricos de las montañas de Galicia. Esa información se consigue
analizando los isótopos de carbono y oxígeno que quedan
encerrados en el interior de estos espeleotemas durante su lento proceso de formación. Con esta técnica se pueden determinar las condiciones de humedad y temperatura que se dieron en la zona hace millares de años. En un primer ensayo se obtuvo una secuencia de datos climáticos que se extiende desde hace 14.000 años —a finales de la última glaciación— hasta la época actual. Ahora se están realizando análisis con un fragmento de estalagmita de mayor tamaño, y por lo tanto mucho más antigua, de los que se espera extraer datos de los últimos 235.000 años. Los investigadores ya identificaron en esta estalagmita las huellas de siete etapas bioclimáticas diferentes.

Los glaciares prehistóricos dejaron muchas otras huellas en la Sierra del Courel, como la laguna de Lucenza, a 1.400 metros de altura.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O primeiro mamute descoberto na Galiza (1961)

Dente molar do mamute de Buxán (Foto: Xoán A. Soler - La Voz de Galicia)
Em 1961 foram descobertos em uma pedreira do concelho do Íncio (província de Lugo) os primeiros restos fósseis de mamute encontrados na Galiza. O achado produziu-se de um modo fortuíto no lugar de Buxán, durante as tarefas de extração de rocha calcária para uma fábrica de cimento da antiga empresa Cementos del Noroeste, hoje pertencente à multinacional portuguesa Cimpor. Os restos apareceram misturados com argila no interior de uma fenda rochosa. O chefe da pedreira, Ramón Pedreño, compreendeu que deviam pertencer a uma espécie extinta de grande porte e comunicou a descoberta ao geólogo Isidro Parga Pondal, accionista da empresa cimenteira. Ao examinar as peças, o cientista constatou que se tratava de um conjunto de dentes e fragmentos de osso de um mamute.

Mammuthus primigenius - Ilustração de Mauricio Antón
Os restos fósseis achados na pedreira de Buxán consistem em um molar inferior direito quase inteiro, de 19,5 centímetros de comprimento e 14 de largura, e um pedaço de molar inferior esquerdo, de 8 centímetros de comprimento e 18 de largura. No local também apareceram duas vértebras fragmentadas, um pedaço de osso longo e pequenos fragmentos ósseos não identificados. No estudo das peças participou o paleontólogo Emiliano Aguirre, quem anos mais tarde seria o primeiro diretor das escavações das célebres jazidas paleolíticas da Serra de Atapuerca. Os pesquisadores  concluíram que os restos pertenciam a um mamute lanoso (Mammuthus primigenius). Desde então não se descobriram mais vestígios desta espécie na Galiza. O fóssil de Buxán continua sendo o animal de maior tamanho, de qualquer época, encontrado no noroeste da Península Ibérica.

Woolly mammoth: Secrets from the Ice (Documentário da BBC - 2012)
 Os restos do mamute de Buxán conservam-se no Museu de História Natural Luis Iglesias, pertencente à Universidade de Santiago de Compostela. Desconhece-se a sua antiguidade exacta, pois até agora não se realizou com eles uma datação radiométrica. Cabe supor, porém, que datam de um dos períodos mais frios do Pleistoceno. Um estudo publicado pelos paleontólogos Diego Álvarez-Lao e Nuria García na revista Quaternary Science Reviews explica que a presença de espécies como o mamute lanoso, o rinoceronte lanoso e a rena na Península Ibérica não foi constante, mas que se regista apenas nos episódios de frio más intenso da Idade do Gelo. Durante esses períodos, os animais adaptados ao clima glacial veriam-se obrigados a migrar para o sul para sobreviverem, pois as camadas de gelo que então cobriam vastas regiões do centro e do norte de Europa não lhes permitiam encontrar pastagens. No sul do continente conviveram com espécies como o veado, a corça e o javali, mais próprias dos climas temperados.

El primer mamut descubierto en Galicia (1961)

Molar del mamut de Buxán (Foto: Xoán A. Soler - La Voz de Galicia)
En 1961 se descubrieron en una cantera del municipio de O Incio (provincia de Lugo) los primeros restos fósiles de mamut encontrados en Galicia. El hallazgo se produjo de manera fortuita en la localidad de Buxán, durante las tareas de extracción de piedra caliza para una fábrica de cemento de la antigua empresa Cementos del Noroeste, hoy perteneciente a la multinacional portuguesa Cimpor. Los restos aparecieron mezclados con arcilla en el interior de una grieta rocosa. El jefe de cantera Ramón Pedreño se dio cuenta de que debían de pertenecer a alguna especie extinguida de gran tamaño y comunicó el descubrimiento al geólogo Isidro Parga Pondal, accionista de la empresa cementera. Al examinar las piezas, el cientifico constató que se trataba de un conjunto de dientes y fragmentos de hueso de un mamut.

Mammuthus primigenius - Ilustración de Mauricio Antón
Los restos fósiles encontrados en la cantera de Buxán consisten en un molar inferior derecho casi entero de 19,5 centímetros de longitud y 14 de anchura, y un trozo de molar
inferior izquierdo, de 8 centímetros de largo y 18 de anchura. En el lugar también se hallaron dos vértebras fragmentadas, un pedazo de un hueso largo y pequeños trozos de hueso no identificados. En el estudio de estas piezas participó el paleontólogo Emiliano Aguirre, quien años más tarde sería el primer director de las excavaciones del célebre yacimiento paleolítico de Atapuerca. Los investigadores concluyeron que los restos pertenecían a un mamut lanudo (Mammuthus primigenius). Desde entonces no se han descubierto otros vestigios de esta especie en Galicia. El fósil de Buxán sigue siendo el animal de mayor tamaño, de cualquier época, encontrado en el noroeste de la Península Ibérica.

Woolly mammoth: Secrets from the Ice (Documental de la BBC - 2012)
 Los restos del mamut de Buxán se conservan en el Museo de Historia Natural Luis Iglesias, perteneciente a la Universidad de Santiago de Compostela. Su antigüedad exacta se desconoce, ya que hasta ahora no se ha realizado con ellos una datación radiométrica. Pero cabe suponer que data de uno de los periodos más fríos del Pleistoceno. Un estudio publicado por los paleontólogos Diego Álvarez-Lao y Nuria García en la revista Quaternary Science Reviews explica que la presencia de especies como el mamut lanudo, el rinoceronte lanudo y el reno en la Península Ibérica no fue constante, sino que se registra solo en los episodios de frío más intenso de la Edad de Hielo. En esos periodos, los animales adaptados al clima glacial se habrian visto obligados a migrar hacia el sur para sobrevivir, puesto que los mantos de hielo que cubrieron por entonces extensas regiones del centro y del norte de Europa les impedían encontrar pastos. En el sur del continente convivieron con especies como el ciervo, el corzo y el jabalí, más propias de los climas templados.


quinta-feira, 13 de junho de 2013

Modesto Brocos, um pintor galego no Brasil

Engenho de mandioca, de Modesto Brocos, 1892 (Wikimedia Commons)








Em 1872 chegou pela primeira vez ao Brasil o pintor, gravador e desenhista Modesto Brocos, nascido em Santiago de Compostela (Galiza) em 1852. Era o irmão mais novo do escultor Isidoro Brocos, uma das figuras mais relevantes da arte galega contemporânea, professor de Pablo Picasso na Escola de Belas Artes da Corunha. Modesto Brocos recebeu de seu irmão as primeiras lições de desenho e com apenas 18 anos de idade emigrou para a Argentina, onde trabalhou como ilustrador para a revista Anales de Agricultura e outras publicações. Dois anos mais tarde estabeleceu-se no Rio de Janeiro. Durante a sua primeira estada no Brasil freqüentou como aluno livre a Academia Imperial de Belas Artes, foi discípulo dos artistas Vítor Meireles e João Zeferino da Costa e realizou xilogravuras para o periódico ilustrado O Mequetrefe.

Retrato da escritora galega Rosalia de Castro, por Brocos
Brocos retornou à Europa em 1877. No decurso dos seguintes anos residiu na França, na Espanha e na Itália. Em Paris foi aluno da Escola Nacional Superior de Belas-Artes, onde teve como condiscípulos os pintores Georges Seurat e Joaquín Sorolla. Em Madri estudou na Real Academia de Belas-Artes de São Fernando e em Roma, na Academia Chigi. Em 1890 voltou ao Rio de Janeiro e no ano seguinte, depois de adquirir a cidadania brasileira, foi nomeado professor da Escola Nacional de Belas Artes. Nesta mesma escola apresentou em 1892 uma exposição individual da qual fazia parte uma das suas mais célebres obras, o quadro Engenho de mandioca. Em 1895 foi apresentada outra das suas pinturas mais famosas, A Redenção de Cam, comentada elogiosamente pelo poeta Olavo Bilac. A obra ilustra a tese do branqueamento gradual da população negra, então promovida oficialmente no Brasil. Apesar das suas ideias políticas avançadas, Brocos não deixou de ver-se influído por esse ideal racista imperante na época, abraçado também por destacados intelectuais brasileiros como Euclides da Cunha ou Monteiro Lobato.  

Depois de uma nova estada na Espanha e na Itália, Brocos fixou-se definitivamente no Brasil em 1900. Ensinou na  Escola Nacional de Belas Artes e no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, e deixou uma obra artística numerosa e variada, inspirada em grande parte em motivos característicos da sua pátria adotiva. Em 1915 editou o ensaio A questão do ensino de Belas Artes e em 1933 deu ao prelo o livro Retórica dos pintores, uma obra teórica que está a ser revalorizada na atualidade. Em 1930, seis anos antes da sua morte, publicou em espanhol o romance Viagem a Marte, uma peculiar obra de literatura utópica em que transparece uma ideologia próxima ao socialismo. Em 2007, o Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro dedicou-lhe a exposição Modesto Brocos, um estrangeiro nos trópicos.

sábado, 8 de junho de 2013

Literatura galega na «Estilística da língua portuguesa» de Manuel Rodrigues Lapa


Capa da undécima edição da obra de Rodrigues Lapa
Em 1945 apareceu a primeira edição da Estilística da língua portuguesa, uma das obras mais conhecidas do filólogo português Manuel Rodrigues Lapa. Conforme as ideias do autor, quem sempre defendeu que as línguas portuguesa e galega são «radicalmente a mesma» —segundo as suas próprias palavras—, o livro caraterizou-se por oferecer numerosos comentários sobre a literatura galega. Nas sucessivas edições que conheceu este tratado, Rodrigues Lapa foi incluíndo exemplos estilísticos tirados das obras dos escritores galegos Xavier Alcalá, Eduardo Blanco Amor, Ramón Cabanillas, A. R. Castelao, Xosé Maria Díaz Castro, Rafael Dieste, Ánxel Fole, Uxio Novoneyra, Ramón Otero Pedrayo, Sílvio Santiago e Luís Seoane. Estes autores são mencionados em pé de igualdade com os portugueses Almeida Garrett, Alves Redol, João de Barros, Barbosa du Bocage, Raúl Brandão, Castelo Branco, Camões, Diogo do Couto, Eça de Queirós, Ferreira de Castro, Fialho de Almeida, Alexandre Herculano, Fernão Lopes, Antero de Quental, Malheiro Dias, Oliveira Martins, Venceslau de Morais, Vitorino Nemésio, António Nobre, Ramalho Ortigão, Camilo Pessanha, Fernando Pessoa, Fernão Mendes Pinto, Aquilino Ribeiro, Mário de Sá Carneiro, Luís de Sousa, Miguel Torga, Trindade Coelho, Cesário Verde e António Vieira, e os brasileiros Jorge Amado, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Graça AranhaJoão Guimarães Rosa, José Lins do Rego, Lima Barreto, Machado de Assis, Cecília Meireles, Monteiro Lobato, Raúl Pompeia, Graciliano Ramos e Érico Veríssimo, entre outros.

Discurso de Rodrigues Lapa em apoio à Revolução dos Cravos
Manuel Rodrigues Lapa nasceu em Anadia em 1897. Estudou filologia românica na Faculdade de Letras de Lisboa, onde mais adiante seria professor. Doutorou-se em 1930 com uma tese intitulada Das origens da poesia lírica em Portugal na Idade Média. Enfrentou-se desde muito cedo com a ditadura fascista de António de Oliveira Salazar e em 1933 foi afastado do ensino universitário depois de ter proferido uma conferência sobre A política do idioma e as universidades. Em 1935, por um decreto-lei, foi privado de acesso a qualquer emprego público. Durante os seguintes anos trabalhou no ensino privado e dirigiu o semanário cultural O Diabo enquanto desenvolvia um intenso labor intelectual e editorial. Em 1949 defendeu o fim da ditadura em uma entrevista no Diário de Lisboa, em resultas do qual foi preso pela polícia política. Em 1957 exilou-se para o Brasil e ensinou literatura portuguesa na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte.
      Uma boa parte da vasta obra filológica de Rodrigues Lapa está relacionada com a língua e a cultura da Galiza, que visitou pela primeira vez em 1932. No livro Estudos galego-portugueses: por uma Galiza renovada (Lisboa, 1979) reuniu trabalhos de temática galega publicados ao longo da sua vida.

Morcegos da Galiza, um projeto de estudo e conservação dos quirópteros do noroeste ibérico

Morcego-de-ferradura-pequeno (Rhinolophus hipposideros)
 Em 2008, a associação conservacionista Drosera —criada na cidade de Lugo quatro anos atrás— pôs em andamento o programa Morcegos da Galiza, cuja finalidade é desenvolver pesquisas científicas sobre as populações de quirópteros do noroeste da Península Ibérica, promover iniciativas para a conservação destas espécies e levar a efeito campanhas de divulgação e sensibilização social acerca da sua importância ambiental, lutando contra os preconceitos e falsas crenças que os envolvem. O programa compreende a realização do Atlas de Morcegos da Galiza, o censo mais completo e atualizado das diferentes espécies de quirópteros presentes no território galego. Os pesquisadores de Drosera, com o apoio de observadores voluntários, catalogaram até hoje 24 espécies de morcegos nesta área geográfica. Dentro do mesmo programa começou a se celebrar na Galiza a Noite Europeia dos Morcegos, um evento internacional que compreende numerosas atividades de divulgação e sensibilização ambiental.




No programa Morcegos da Galiza ocupa um importante espaço o Projeto Hippos, centrado nas pesquisas sobre o morcego-de-ferradura-pequeno (Rhinolophus hipposideros), um dos quirópteros mais ameaçados da Europa, cujo declínio parece dever-se principalmente à  transformação dos habitats, o uso generalizado de pesticidas e o desaparecimento de abrigos. A espécie extinguiu-se há pouco tempo na Bélgica e na Holanda, e suas populações viram-se reduzidas na Alemanha, na Suíça e na Itália. Na Galiza é ainda uma espécie comum, largamente distribuída pelo território. Porém, a falta de dados históricos sobre a evolução das populações galegas impede de avaliar corretamente sua situação atual.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A arte da guerra, primeira edição em língua galega de uma obra clássica da cultura chinesa

Em 2013, a editora Teófilo Edicións publicou a primera edição completa em língua galega de A arte da guerra (孫子兵法) uma das mais célebres obras da cultura clássica chinesa. A tradução foi realizada por Xulio Ríos, diretor do Instituto Galego de Análise e Documentação Internacional (IGADI), com a supervisão de Yan Linchang, Hu Min, Ánxelo Gonzalves Vicente, Wei Ling e Zhu Wenjun. Trata-se de uma edição bilingue que inclui também o texto original chinês atribuído a Sun Tzu (孙武 ou 孫武, Sūn Wǔ em pinyin, grafado nesta tradução como Sun Zi), considerado como o tratado de estratégia militar mais antigo do mundo. A obra parece ter sido escrita no século V a.C., durante o Período dos Reinos Combatentes.



 A arte da  guerra começou a ser traduzida para as línguas ocidentais a partir do século XVIII, mas as primeiras versões tidas por fidedignas datam do século XX. Desde 1995 existe uma edição em português, publicada originalmente no Brasil por Caio Fernando Abreu e Miriam Paglia. 

terça-feira, 4 de junho de 2013

Cova Eirós, a pegada mais profunda do homem de Neandertal na Galiza

Escavações na jazida de Cova Eirós (Foto: GEPN / IPHES)

No verão boreal de 2008 foi descoberto no sítio paleolítico de Cova Eirós (no concelho de Triacastela, perto do Caminho de Santiago) o rasto mais importante do homem de Neandertal conhecido até agora na Galiza. Não é esta a primeira jazida do Paleolítico Médio achada no noroeste da Península Ibérica. Anteriormente já foram descobertas algumas indústrias líticas desse período nos concelhos de Cortegada, Toén e Monforte de Lemos. Porém, Cova Eirós apresenta um interesse científico muito maior do que esses outros locais. É a única jazida neandertal galega situada em uma caverna cárstica e contém não só um grande número de artefatos de pedra de várias épocas, como também muitos fósseis de animais e outros restos orgânicos que podem fornecer abundantes informações sobre a tecnologia, os métodos de aprovisionamento e as mudanças climáticas e ambientais da pré-história remota. Também é o único sítio paleolítico do noroeste ibérico onde se conservam pegadas de ocupações dos neandertais e do Homo sapiens moderno, o qual permite comparar as estratégias de sobrevivência e os estilos de vida dessas duas espécies humanas em um mesmo território.

Recriação dos neandertais de Cova Eirós por Xurxo Constela
Em escavações sucessivas realizadas desde então na caverna —no quadro do projeto Ocupações humanas durante o Pleistoceno da bacia média do Minho, em que  colaboram pesquisadores das universidades de Santiago de Compostela e Tarragona— apareceram dois níveis arqueológicos correspondentes a duas épocas diferentes do  Paleolítico Médio, que foram datados com a técnica da termoluminescência do quartzo. Um desses níveis tem entre 84.000 e 87.000 anos. O outro nível, mais profundo, foi datado de 118.000 anos, o que o coloca entre os mais antigos assentamentos do homem de Neandertal registados no norte da península, embora seja muito mais recente do que o da caverna de Letzetxiki, no País Basco, cuja antiguidade remonta a cerca de 300.000 anos.

Ponta de quartzito de tipo Levallois (Foto: GEPN / IPHES)
Nestes dois níveis arqueológicos foram encontrados numerosos artefatos de tecnologia musteriense, a mais caraterística do homem de Neandertal. Um estudo sobre as indústrias do nível mais recente, publicado em 2011 na revista Trabajos de Prehistoria, identificou pontas de projétil utilizadas como armas de caça e diferentes tipos de ferramentas empregadas para despedaçar  animais, cortar e talhar madeira e preparar peles secas para a confecção de vestimentas. As ferramentas do nível mais antigo têm uma feição mais tosca e entre elas há um número muito menor de peças elaboradas com as técnicas Levallois e discoidal, as mais sofisticadas que desenvolveram os neandertais. Os materiais também são de qualidade inferior, com menos presença de quartzitos de granulação fina e abundância de peças grossas de quartzo. Segundo os arqueólogos, isso pode indicar um nível tecnológico menos desenvolvido, mas também pode ser devido a que os grupos que fabricaram tais ferramentas ocuparam a caverna durante períodos mais curtos, gastando menos tempo em procurar materiais de boa qualidade e em fabricar utensílios líticos. Os ocupantes do nível mais recente, pelo contrário, teriam morado no abrigo por longos períodos, seguindo uma estratégia de sobrevivência em longo prazo e dedicando mais tempo à busca de matérias-primas e ao fabrico de utensílios.

Lasca de quartzo de Cova Eirós (Foto: Alberto López - La Voz de Galicia)
Um traço que diferencia as indústrias de Cova Eirós de outros assentamentos neandertais da vizinha Cordilheira Cantábrica é o uso freqüente de quartzo para produzir ferramentas líticas. Nos depósitos da área cantábrica é muito menos comum encontrar peças feitas com essa matéria-prima, mais difícil de talhar do que o sílex e o quartzito, pois o quartzo quebra-se de um modo mais irregular. O uso deste material indica uma adaptação às condições ambientais da região, onde abunda o quartzo, enquanto o sílex não é encontrado de forma natural. Essa particularidade técnica também tem sido observada em certos assentamentos neandertais da região francesa de Midi-Pirineus, onde escasseia o sílex e onde o quartzo foi frequentemente utilizado no fabrico de ferramentas de pedra.
  Nos níveis arqueológicos do Paleolítico Médio de Cova Eirós, juntamente com uma grande quantidade de ossos de animais de várias espécies, apareceram restos carbonizados de materiais vegetais. Os arqueólogos tentam atualmente averiguar se esses resíduos orgânicos são vestígios de fogueiras.

Pingente gravetiano de Cova Eirós (Foto: GEPN / IPHES)
Em Cova Eirós descobriram-se também importantes vestígios de ocupações do Paleolítico Superior. Entre eles figuram as primeiras mostras de indústrias da cultura aurignaciana registadas na Galiza. Nas escavações realizadas em 2009 apareceu o objeto de adorno mais antigo conhecido até hoje no noroeste ibérico. Trata-se de um colmilho de um carnívoro de pequeno porte —provavelmente uma raposa-vermelha— talhado e perfurado para servir como pingente. As datações com carbono-14 atribuíram uma antiguidade de 26.000 anos a esta peça, enquadrada na cultura gravetiana,  assim como outros artefatos descobertos no mesmo nível. Estas são também as primeiras indústrias desse período cultural encontradas na Galiza. A cultura gravetense desenvolveu-se durante uma das fases mais frias da última glaciação. A caverna fica a uma altura de 780 metros acima do nível do mar, perto do límite das geleiras que cobriam nessa época as zonas mais altas das serras orientais galegas. O achado indica que, mesmo nesse periodo de frio extremo, a região ofereceu umas condições ambientais suportáveis para os grupos humanos. Até aí, a ausência de jazidas dessa época fizera supor que o território galego ficara na altura totalmente desabitado.

Uma das pinturas rupestres achadas na galeria interior (Foto: GEPN / IPHES)
Em agosto de 2012, aliás, foi dado a conhecer o achado em Cova Eirós das primeiras mostras de arte parietal paleolítico descobertas na Galiza, um conjunto de pinturas e gravuras localizado em uma galeria interior da caverna. Segundo as estimações dos pesquisadores, algumas dessas manifestações artísticas poderiam situar-se entre os períodos Gravetense e Solutrense —com uma antiguidade aproximada de entre 25.000 e 20.000 anos—, enquanto as outras datariam do período Magdaleniano e poderiam ter entre 15.000 e 10.000 anos.

Escavações na galeria exterior (Foto: Alberto López - La Voz de Galicia)
 Em conjunto, a jazida de Cova Eirós contem a sequência mais completa de assentamentos paleolíticos de diferentes épocas  documentada até agora no noroeste da penísula. Os arqueólogos supõem que a caverna pode conservar também testemunhos de épocas anteriores ao homem de Neandertal. Uma sondagem com georradar indicou que os sedimentos que conformam o solo da cavidade têm uma profundidade de cerca de três metros. As escavaçoes só atingiram até à data uma profundidade de metro e meio e não se sabe ainda o que pode haver nos níveis mais profundos do subsolo. Na atualidade está em processo de produção o primeiro documentário sobre os achados arqueológicos realizados nesta caverna.

domingo, 2 de junho de 2013

Cova Eirós, el rastro más profundo del hombre de Neandertal en Galicia

Excavaciones en el yacimiento de Cova Eirós (Foto: GEPN / IPHES)
En el verano boreal de 2008 fue descubierto en el yacimiento paleolítico de Cova Eirós (en el municipio de Triacastela, cerca del Camino de Santiago) el rastro más importante del hombre de Neandertal conocido hasta ahora en Galicia. No es el primer yacimiento del Paleolítico Medio encontrado en el noroeste de la Península Ibérica. Con anterioridad ya se habían localizado algunas industrias líticas de ese periodo en los municipios de Cortegada, Toén y Monforte de Lemos. Pero Cova Eirós ofrece un interés científico mucho mayor que el de estos otros lugares. Es el único yacimiento neandertal gallego situado en una cueva cárstica y contiene no solo un gran número de artefactos líticos de diversas épocas, sino también muchos fósiles de animales y otros vestigios orgánicos, con lo que puede proporcionar abundantes informaciones sobre la evolución tecnológica, los tipos de alimentación y los cambios climáticos y ambientales de la prehistoria remota. Es además el único yacimiento paleolítico del noroeste ibérico que conserva a la vez huellas de las ocupaciones del hombre de Neandertal y del Homo sapiens moderno, lo que permite comparar las estrategias de supervivencia y los modos de vida de estas dos especies humanas en un mismo territorio.

Recreación de los neandertales de Cova Eirós por Xurxo Constela
En las sucesivas excavaciones realizadas desde entonces en la gruta —dentro del proyecto Ocupaciones humanas durante el Pleistoceno de la cuenca media del Miño, en el que colaboran investigadores de las universidades de Santiago de Compostela y Tarragona— se han podido datar dos niveles arqueológicos correspondientes a distintas épocas del Paleolítico Medio utilizando la técnica de la termoluminiscencia del cuarzo. Uno de ellos tiene entre 84.000 y 87.000 años. El otro nivel, más profundo, fue datado en 118.000 años, lo que lo sitúa entre los poblamientos neandertales más antiguos registrados en el norte de la península, aun siendo mucho más reciente que el de la cueva de Letzetxiki, en el País Vasco, cuya antigüedad se remonta a unos 300.000 años.

Punta de cuarcita de tipo Levallois (Foto: GEPN / IPHES)
En estos dos niveles arqueológicos se hallaron numerosos artefactos de tecnología musteriense, característica del hombre de Neandertal. Un estudio sobre las industrias del más reciente de estos niveles, publicado en 2011 en la revista Trabajos de Prehistoria, identificó puntas de proyectil usadas como armas de caza y diversas clases de herramientas utilizadas para despiezar animales, cortar y tallar madera y preparar pieles secas para confeccionar vestimentas. 
Las herramientas del nivel más antiguo presentan una factura más tosca y entre ellas hay un número mucho más reducido de piezas fabricadas con las técnicas Levallois y discoidal, las más sofisticadas que produjo el hombre de Neandertal. Los materiales también son de peor calidad, con una menor presencia de cuarcitas de grano fino y más abundancia de piezas gruesas de cuarzo. Según los arqueólogos, esto puede indicar un nivel tecnológico menos desarrollado, pero también podría deberse a que los grupos que fabricaron tales herramientas ocuparon la cueva durante periodos más breves, invirtiendo menos tiempo en buscar materiales de buena calidad y en tallar los útiles líticos. Los pobladores del nivel más reciente, en cambio, habrían vivido en este refugio durante periodos más prolongados, siguiendo una estrategia de supervivencia más planificada y a largo plazo y dedicando más tiempo a la búsqueda de materias primas y a la fabricación de utensilios.

Lasca de cuarzo de Cova Eirós (Foto: Alberto López - La Voz de Galicia)
Un rasgo que diferencia estas industrias de las de otros asentamientos neandertales de la vecina Cordillera Cantábrica es el uso frecuente del cuarzo para elaborar herramientas liticas. En los yacimientos cantábricos es mucho menos habitual hallar piezas fabricadas con esta materia prima, más difícil de tallar que el sílex o la cuarcita, ya que se rompe de una forma más irregular. El uso de este material  indica una adaptación a las condiciones ambientales de la zona, donde el cuarzo abunda, mientras que no se encuentra el sílex de forma natural. Esta peculiaridad técnica también se ha observado en los yacimientos neandertales de Quercy, en el sur de Francia, donde escasea igualmente el sílex y se utilizó a menudo el cuarzo en la fabricación de útiles líticos.
    En los niveles arqueológicos del Paleolítico Medio de Cova Eirós, junto con una gran cantidad de huesos de animales de diversas especies, se han encontrado restos de materias vegetales carbonizadas. Los arqueólogos intentan averiguar actualmente si se trata de rastros de hogueras.

Colgante gravetiense de Cova Eirós (Foto: GEPN / IPHES)
En Cova Eirós se han descubierto también importantes rastros de ocupaciones del Paleolítico Superior. Entre ellos figuran las primeras muestras de industrias de la cultura auriñaciense registradas en Galicia. En las excavaciones de 2009 se encontró el objeto de adorno más antiguo conocido hasta ahora en el noroeste ibérico. Se trata de un colmillo de carnívoro de pequeño tamaño —posiblemente un zorro— tallado y perforado para servir como colgante. Las dataciones por carbono-14 han asignado una antigüedad de 26.000 años a esta pieza, encuadrada en la cultura gravetiense,  al igual que otros artefactos descubiertos en el mismo nivel. Estas son también las primeras industrias de esa etapa cultural halladas en Galicia. La cultura gravetiense se desarrolló durante una de las fases más frías de la última glaciación y la cueva se encuentra a a 780 metros de altura sobre el nivel del mar, cerca del límite de los glaciares que cubrieron en esa época las zonas más altas de las montañas orientales gallegas. El hallazgo sugiere que incluso en ese periodo de frío extremo la región ofreció unas condiciones ambientales soportables para los grupos humanos. La ausencia de yacimientos de esa etapa había hecho suponer a algunos investigadores que el territorio gallego pudo haber quedado por entonces totalmente deshabitado.

Una de las pinturas descubiertas en la galería interior (Foto: GEPN / IPHES)
En agosto de 2012, por otra parte, se dio a conocer el hallazgo en Cova Eirós de las primeras muestras de arte parietal paleolítico descubiertas en Galicia, un conjunto de pinturas y grabados situados en una galería interior de la cueva. Según las estimaciones de los investigadores, algunas de estas manifestaciones artísticas podrían situarse entre los periodos Gravetiense y Solutrense, —con una antigüedad aproximada de entre 25.000 y 20.000 años—, mientras que otras datarían del periodo Magdaleniense y podrían tener entre 15.000 y 10.000 años.

Excavación en la galería exterior (Foto: Alberto López - La Voz de Galicia)
 En conjunto, el yacimiento de Cova Eirós contiene la secuencia más completa de poblamientos paleolíticos de diferentes épocas que se ha podido documentar hasta el momento en el noroeste de la penísula. Los investigadores creen que la gruta puede encerrar también testimonios de épocas anteriores al hombre de Neandertal. Un sondeo con georradar indicó que los sedimentos que forman el suelo de la cavidad tienen una profundidad de cerca de tres metros. Por ahora solo se ha excavado en torno a metro y medio y no se sabe lo que puede haber en los niveles más profundos del subsuelo. En la actualidad está en proceso de producción el primer documental sobre los hallazgos arqueológicos realizados en este yacimiento.