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quarta-feira, 19 de junho de 2013

Cavernas no límite das geleiras da Serra do Courel (Galiza)

Exploração da caverna da Tara
Em 2009, o clube espeleológico Maúxo, com sede em Vigo, e o Instituto de Geologia Isidro Parga Pondal, da Universidade da Corunha, editaram a brochura As grandes covas do Courel, que recolhe pesquisas realizadas ao longo de quatro anos em diversas cavernas cársticas desta serra do leste da Galiza, caraterizada por uma grande diversidade geológica e biológica. A publicação descreve as principais caraterísticas de quatro cavernas calcárias: Arcóia, Pena Paleira, Rio Pérez e Tara. Todas elas encontram-se no límite das geleiras que existiram durante o Pleistoceno nas zonas mais altas da serra.


Concreções calcárias na caverna de Arcóia
O estudo científico destas cavidades, cuja formação está associada aos processos de drenagem das antigas massas de gelo, começou em tempos muito recentes. Algumas delas foram descobertas em 1993 e 2007. Na publicação catalogam-se os diversos tipos de espeleotemas que os espeleólogos e geólogos puderam observar neste conjunto de grutas: estalactites, estalagmites, antiestalagmites, helictites, escorrimentos, gours, calcitas flutuantes, coralóides...


Estalagmite de Arcóia (seção)
O Instituto de Geologia Isidro Parga Pondal, em colaboração com a universidade estadunidense da Geórgia, está a utilizar estalagmites extraídas da caverna de Arcóia em um projeto de investigação cujo fim é obter um registo dos climas pré-históricos das montahas da Galiza. Essa informação consegue-se analisando os isótopos de carbono e oxigênio que ficam encerrados no interior destes espeleotemas durante o seu lento processo de formação. Com esta técnica é possível determinar as condições de umidade e temperatura que se davam na região há milhares de anos. Em uma primeira tentativa obteve-se uma sequência de dados climáticos que se estende desde há 14.000 anos —por finais da última glaciação— até à época atual. Agora estão a realizar-se análises com um fragmento de uma estalagmite de maior tamanho, e portanto muito mais antiga, das quais se pretende extrair dados dos últimos 235.000 anos. Os pesquisadores já identificaram nesta estalagmite as pegadas de sete etapas bioclimáticas diferentes.

As geleiras pré-históricas deixaram muitas outras pegadas na Serra do Courel, como a lagoa de Lucenza, situada 1.400 metros acima do nível do mar.

Grutas de la cota glaciar de la Sierra del Courel (Galicia)

Exploración de la cueva de A Tara
En 2009, el club espeleológico Maúxo, radicado en Vigo, y el Instituto de Geología Isidro Parga Pondal, de la Universidad de A Coruña, editaron el folleto As grandes covas do Courel, que recoge investigaciones realizadas durante cuatro años en diversas grutas kársticas de esta sierra del este de Galicia, caracterizada por una gran diversidad geológica y biológica. La publicación describe las principales características de cuatro cavernas: Arcoia, Pena Paleira, Río Pérez y A Tara. Todas ellas están situadas en el límite de los glaciares que existieron durante el Pleistoceno en las zonas más altas de la sierra.

Formaciones calizas en la cueva de Arcoia
 El estudio científico de estas cavidades, cuya formación está asociada a los procesos de drenaje de las antiguas masas de hielo, comenzó en tiempos muy recientes. Algunas de ellas fueron descubiertas en 1993 y 2007. En la publicación se catalogan los diversos tipos de espeleotemas que los espeleólogos y geólogos han podido observar en este conjunto de grutas: estalactitas, estalagmitas, helictitas, conulitos, coladas, gours, calcitas flotantes, coraloides...


Estalagmita de Arcoia (sección)
El Instituto de Geología Isidro Parga Pondal, en colaboración con la universidad estadounidense de Georgia, está utilizando estalagmitas extraídas de la cueva de Arcoia en un proyecto de investigación cuyo objetivo es obtener un registro de los climas prehistóricos de las montañas de Galicia. Esa información se consigue
analizando los isótopos de carbono y oxígeno que quedan
encerrados en el interior de estos espeleotemas durante su lento proceso de formación. Con esta técnica se pueden determinar las condiciones de humedad y temperatura que se dieron en la zona hace millares de años. En un primer ensayo se obtuvo una secuencia de datos climáticos que se extiende desde hace 14.000 años —a finales de la última glaciación— hasta la época actual. Ahora se están realizando análisis con un fragmento de estalagmita de mayor tamaño, y por lo tanto mucho más antigua, de los que se espera extraer datos de los últimos 235.000 años. Los investigadores ya identificaron en esta estalagmita las huellas de siete etapas bioclimáticas diferentes.

Los glaciares prehistóricos dejaron muchas otras huellas en la Sierra del Courel, como la laguna de Lucenza, a 1.400 metros de altura.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Caverna de Valdavara (Becerreá, Galiza) : primeiro registo fóssil de Chioglossa lusitanica, uma salamandra endêmica do noroeste ibérico

Desenho da Chioglossa lusitanica publicado na primera descrição científica da espécie (Barbosa du Bocage, 1864)
 A caverna de Valdavara, no concelho de Becerreá (no leste da província de Lugo), tornou-se nos últimos anos um dos principais pontos de referência para o estudo da pré-história da Galiza. A existência de um sítio arqueológico nesta pequena gruta cárstica, localizada seiscentos metros acima do nível do mar, foi descoberta por finais da década de 1950 pelo pesquisador amador Carmelo Alonso. No entanto, as escavações sistemáticas só começaram no ano 2007, no âmbito do projeto Ocupações humanas durante o Pleistoceno na bacia média do Minho, em que colaboram cientistas das universidades de Santiago e Tarragona. Desde então encontraram-se na caverna abundantes vestígios de assentamentos humanos do Paleolítico Superior, do Mesolítico, do Neolítico e da Idade do Bronze

Ch. lusitanica - Foto Gustavo Rivas (La Voz de Galicia)
  Mas a jazida também contém um dos mais importantes depósitos de fósseis de microvertebrados da Galiza, onde foram identificadas dezenas de espécies de anfíbios, répteis, insetívoros, quirópteros e roedores. Dado que a fauna de pequeno tamanho é particularmente sensível às mudanças climáticas, este depósito fossilífero oferece um grande interesse para estudar as alterações do clima e do meio ambiente na transição do Pleistoceno ao Holoceno no noroeste da Península Ibérica. A jazida possui um especial valor, porque na Galiza é muito raro encontrar fósseis de qualquer época. A natureza ácida dos solos da maior parte do seu território (devido à presença abundante de granito) não permite a conservação dos vestígios biológicos antigos. Isto apenas é possível em algumas áreas de rocha calcária como as montanhas onde está localizada a caverna de Valdavara.
   Entre os achados realizados no local figuram os primeiros fósseis conhecidos da salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), um anfíbio urodelo endêmico cuja área de distribuição está  limitada ao norte de Portugal, Galiza, Astúrias e a extremidade ocidental da Cantábria. A espécie foi descrita pela primeira vez em 1864 pelo zoólogo português José Vicente Barbosa du Bocage. Os restos fósseis foram achados em um nível arqueológico que, conforme a datação radiométrica efetuada com o método do carbono-14, tem uma antiguidade de cerca de 4.500 anos.
   A salamandra-lusitânica, conhecida em galego como saramaganta ou píntega rabilonga, é o único representante vivo do género Chioglossa, ao qual também pertence a espécie extinta Chioglossa meini, conhecida por restos fósseis encontrados na França, na Alemanha, na Suíça, na Áustria e na República Checa. A presença deste anfíbio, muito sensível à poluição, é um importante indicador da qualidade ambiental das águas. A descoberta vai ajudar a reconstruir a história da propagação desta espécie no  território que ocupa atualmente e conhecer melhor a evolução do clima na área. Os pesquisadores acreditam que durante o último período glacial a Chioglossa lusitanica  sobreviveu em áreas de refúgio situadas em torno dos rios Douro e Mondego, em Portugal, expandindo-se depois para o norte à medida que o clima se tornava mais suave.

Escavação em Valdavara - Foto Alberto López (La Voz de Galicia)
 A análise dos fósseis de microvertebrados deste depósito foi divulgada em um artigo publicado na revista Geobios. O autor principal do trabalho, Juan Manuel López-García (pertencente ao Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social), nota que a investigação permitiu observar um aumento na diversidade de táxons de microvertebrados na Pré-história recente (cerca de 4.500 anos) em relação com o Magdaleniano (entre 13.000 e 15.000 anos). Segundo o pesquisador, esta circunstância está provavelmente relacionada com uma expansão da vegetação e uma melhoria geral do clima. Na Pré-história recente apareceram na região espécies como o musaranho-de-dentes-brancos (Crocidura russula) e o rato silvestre ruivo (Myodes glareolus), que estiveram ausentes durante o Magdaleniano,  o que é possivelmente devido à melhoria do clima que ocorreu no início do Holoceno, 11.700 anos atrás. No local também se encontraram os primeiros registos fósseis da Península Ibérica da rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi) e do fura-pastos (Chalcides striatus). Além disso, foi documentada pela primeira vez no noroeste peninsular a antiga presença do rato-de-cabrera (Microtus cabrerae) e do rato Micromys minutus, agora ausentes desta área geográfica.