Desenho da Chioglossa lusitanica publicado na primera descrição científica da espécie (Barbosa du Bocage, 1864) |
Ch. lusitanica - Foto Gustavo Rivas (La Voz de Galicia) |
Entre os achados realizados no local figuram os primeiros fósseis conhecidos da salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), um anfíbio urodelo endêmico cuja área de distribuição está limitada ao norte de Portugal, Galiza, Astúrias e a extremidade ocidental da Cantábria. A espécie foi descrita pela primeira vez em 1864 pelo zoólogo português José Vicente Barbosa du Bocage. Os restos fósseis foram achados em um nível arqueológico que, conforme a datação radiométrica efetuada com o método do carbono-14, tem uma antiguidade de cerca de 4.500 anos.
A salamandra-lusitânica, conhecida em galego como saramaganta ou píntega rabilonga, é o único representante vivo do género Chioglossa, ao qual também pertence a espécie extinta Chioglossa meini, conhecida por restos fósseis encontrados na França, na Alemanha, na Suíça, na Áustria e na República Checa. A presença deste anfíbio, muito sensível à poluição, é um importante indicador da qualidade ambiental das águas. A descoberta vai ajudar a reconstruir a história da propagação desta espécie no território que ocupa atualmente e conhecer melhor a evolução do clima na área. Os pesquisadores acreditam que durante o último período glacial a Chioglossa lusitanica sobreviveu em áreas de refúgio situadas em torno dos rios Douro e Mondego, em Portugal, expandindo-se depois para o norte à medida que o clima se tornava mais suave.
Escavação em Valdavara - Foto Alberto López (La Voz de Galicia) |
A análise dos fósseis de microvertebrados deste depósito foi divulgada em um artigo publicado na revista Geobios. O autor principal do trabalho, Juan Manuel López-García (pertencente ao Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social), nota que a investigação permitiu observar um aumento na diversidade de táxons de microvertebrados na Pré-história recente (cerca de 4.500 anos) em relação com o Magdaleniano (entre 13.000 e 15.000 anos). Segundo o pesquisador, esta circunstância está provavelmente relacionada com uma expansão da vegetação e uma melhoria geral do clima. Na Pré-história recente apareceram na região espécies como o musaranho-de-dentes-brancos (Crocidura russula) e o rato silvestre ruivo (Myodes glareolus), que estiveram ausentes durante o Magdaleniano, o que é possivelmente devido à melhoria do clima que ocorreu no início do Holoceno, 11.700 anos atrás. No local também se encontraram os primeiros registos fósseis da Península Ibérica da rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi) e do fura-pastos (Chalcides striatus). Além disso, foi documentada pela primeira vez no noroeste peninsular a antiga presença do rato-de-cabrera (Microtus cabrerae) e do rato Micromys minutus, agora ausentes desta área geográfica.