Engenho de mandioca, de Modesto Brocos, 1892 (Wikimedia Commons) |
Em 1872 chegou pela primeira vez ao Brasil o pintor, gravador e desenhista Modesto Brocos, nascido em Santiago de Compostela (Galiza) em 1852. Era o irmão mais novo do escultor Isidoro Brocos, uma das figuras mais relevantes da arte galega contemporânea, professor de Pablo Picasso na Escola de Belas Artes da Corunha. Modesto Brocos recebeu de seu irmão as primeiras lições de desenho e com apenas 18 anos de idade emigrou para a Argentina, onde trabalhou como ilustrador para a revista Anales de Agricultura e outras publicações. Dois anos mais tarde estabeleceu-se no Rio de Janeiro. Durante a sua primeira estada no Brasil freqüentou como aluno livre a Academia Imperial de Belas Artes, foi discípulo dos artistas Vítor Meireles e João Zeferino da Costa e realizou xilogravuras para o periódico ilustrado O Mequetrefe.
Retrato da escritora galega Rosalia de Castro, por Brocos |
Brocos retornou à Europa em 1877. No decurso dos seguintes anos residiu na França, na Espanha e na Itália. Em Paris foi aluno da Escola Nacional Superior de Belas-Artes, onde teve como condiscípulos os pintores Georges Seurat e Joaquín Sorolla. Em Madri estudou na Real Academia de Belas-Artes de São Fernando e em Roma, na Academia Chigi. Em 1890 voltou ao Rio de Janeiro e no ano seguinte, depois de adquirir a cidadania brasileira, foi nomeado professor da Escola Nacional de Belas Artes. Nesta mesma escola apresentou em 1892 uma exposição individual da qual fazia parte uma das suas mais célebres obras, o quadro Engenho de mandioca. Em 1895 foi apresentada outra das suas pinturas mais famosas, A Redenção de Cam, comentada elogiosamente pelo poeta Olavo Bilac. A obra ilustra a tese do branqueamento gradual da população negra, então promovida oficialmente no Brasil. Apesar das suas ideias políticas avançadas, Brocos não deixou de ver-se influído por esse ideal racista imperante na época, abraçado também por destacados intelectuais brasileiros como Euclides da Cunha ou Monteiro Lobato.
Depois de uma nova estada na Espanha e na Itália, Brocos fixou-se definitivamente no Brasil em 1900. Ensinou na Escola Nacional de Belas Artes e no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, e deixou uma obra artística numerosa e variada, inspirada em grande parte em motivos característicos da sua pátria adotiva. Em 1915 editou o ensaio A questão do ensino de Belas Artes e em 1933 deu ao prelo o livro Retórica dos pintores, uma obra teórica que está a ser revalorizada na atualidade. Em 1930, seis anos antes da sua morte, publicou em espanhol o romance Viagem a Marte, uma peculiar obra de literatura utópica em que transparece uma ideologia próxima ao socialismo. Em 2007, o Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro dedicou-lhe a exposição Modesto Brocos, um estrangeiro nos trópicos.