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sábado, 8 de junho de 2013

Literatura galega na «Estilística da língua portuguesa» de Manuel Rodrigues Lapa


Capa da undécima edição da obra de Rodrigues Lapa
Em 1945 apareceu a primeira edição da Estilística da língua portuguesa, uma das obras mais conhecidas do filólogo português Manuel Rodrigues Lapa. Conforme as ideias do autor, quem sempre defendeu que as línguas portuguesa e galega são «radicalmente a mesma» —segundo as suas próprias palavras—, o livro caraterizou-se por oferecer numerosos comentários sobre a literatura galega. Nas sucessivas edições que conheceu este tratado, Rodrigues Lapa foi incluíndo exemplos estilísticos tirados das obras dos escritores galegos Xavier Alcalá, Eduardo Blanco Amor, Ramón Cabanillas, A. R. Castelao, Xosé Maria Díaz Castro, Rafael Dieste, Ánxel Fole, Uxio Novoneyra, Ramón Otero Pedrayo, Sílvio Santiago e Luís Seoane. Estes autores são mencionados em pé de igualdade com os portugueses Almeida Garrett, Alves Redol, João de Barros, Barbosa du Bocage, Raúl Brandão, Castelo Branco, Camões, Diogo do Couto, Eça de Queirós, Ferreira de Castro, Fialho de Almeida, Alexandre Herculano, Fernão Lopes, Antero de Quental, Malheiro Dias, Oliveira Martins, Venceslau de Morais, Vitorino Nemésio, António Nobre, Ramalho Ortigão, Camilo Pessanha, Fernando Pessoa, Fernão Mendes Pinto, Aquilino Ribeiro, Mário de Sá Carneiro, Luís de Sousa, Miguel Torga, Trindade Coelho, Cesário Verde e António Vieira, e os brasileiros Jorge Amado, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Graça AranhaJoão Guimarães Rosa, José Lins do Rego, Lima Barreto, Machado de Assis, Cecília Meireles, Monteiro Lobato, Raúl Pompeia, Graciliano Ramos e Érico Veríssimo, entre outros.

Discurso de Rodrigues Lapa em apoio à Revolução dos Cravos
Manuel Rodrigues Lapa nasceu em Anadia em 1897. Estudou filologia românica na Faculdade de Letras de Lisboa, onde mais adiante seria professor. Doutorou-se em 1930 com uma tese intitulada Das origens da poesia lírica em Portugal na Idade Média. Enfrentou-se desde muito cedo com a ditadura fascista de António de Oliveira Salazar e em 1933 foi afastado do ensino universitário depois de ter proferido uma conferência sobre A política do idioma e as universidades. Em 1935, por um decreto-lei, foi privado de acesso a qualquer emprego público. Durante os seguintes anos trabalhou no ensino privado e dirigiu o semanário cultural O Diabo enquanto desenvolvia um intenso labor intelectual e editorial. Em 1949 defendeu o fim da ditadura em uma entrevista no Diário de Lisboa, em resultas do qual foi preso pela polícia política. Em 1957 exilou-se para o Brasil e ensinou literatura portuguesa na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte.
      Uma boa parte da vasta obra filológica de Rodrigues Lapa está relacionada com a língua e a cultura da Galiza, que visitou pela primeira vez em 1932. No livro Estudos galego-portugueses: por uma Galiza renovada (Lisboa, 1979) reuniu trabalhos de temática galega publicados ao longo da sua vida.

sábado, 18 de maio de 2013

A literatura de Machado de Assis segundo Guerra da Cal : um grande projeto inconcluso

Machado de Assis
Há agora 55 anos, o escritor, filólogo e crítico literário galego Ernesto Guerra da Cal (1911-1994) anunciou pela primeira vez o seu projeto de consagrar um vasto estudo à obra de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), um dos maiores autores das letras brasileiras e um dos grandes vultos da literatura em língua portuguesa de todos os tempos. O anúncio teve uma importante repercussão, porquanto Guerra da Cal gozava na altura de um sólido prestígio intelectual. Seu livro Língua e estilo de Eça de Queirós (1954) contribuíra em grande medida para a revalorização e a difusão internacional da obra do grande romancista português, e encontrara larga acolhida nos meios culturais brasileiros, a começar por Gilberto Freyre: É um livro esse, do professor Da Cal, que nenhum devoto brasileiro do Eça e do
seu estilo, da sua expressão literária, deve deixar de ler
.
Sua obra de criação também foi bem considerada no Brasil. O grande poeta e crítico Manuel Bandeira elogiou o primero poemário de  Guerra da Cal, Lua de Além-Mar (1959). O projeto de dedicar a Machado de Assis um estudo semelhante ao que publicara sobre Eça de Queirós foi assim recebido com muito interesse e divulgado em diferentes meios de comunicação brasileiros, como o Jornal do Brasil, o Diário de Pernambuco, o Diário de Notícias da Bahia e o Jornal de Letras e o Correio da Manhã do Rio de Janeiro, entre outras publicações.

Ernesto Guerra da Cal em 1960
 Ernesto Guerra da Cal residia desde 1939 em Estados Unidos, onde se exilara depois de ter combatido no bando republicano na Guerra Civil Espanhola. Em 1945 adotou a cidadania estadunidense. Durante toda a sua vida foi um firme defensor do reintegracionismo, corrente que vindica a relação histórica e linguística da Galiza com o mundo lusófono. Desenvolveu um intenso labor académico como professor na Universidade de Nova Iorque, preocupando-se especialmente por difundir no âmbito norte-americano e anglófono as culturas e literaturas de expressão portuguesa.  Em agosto de 1959 foi nomeado doutor honoris causa da Universidade da Bahia pelo seu apoio à cultura do Brasil e participou nessa mesma cidade no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. Em 1960, pelo mesmo motivo, recebeu a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a Medalha Padre Anchieta e a designação de cidadão de honra da cidade do Rio de Janeiro.


Guerra da Cal recebendo o título de doutor honoris causa na Bahia em 1959
  Guerra da Cal, provavelmente por falta de tempo, nunca pôde levar a termo o seu grande estudo sobre  Machado de Assis. Porém, continuava a acalentar o projeto em 1970, época em que visitou a Universidade Federal do Rio de Janeiro para apresentar uma edição brasileira da sua obra sobre Eça de Queirós. Nessa altura qualificou o estilo machadiano como mais hermético e difícil de analisar e dissecar do que o estilo do romancista português. Em 1981 publicou em Portugal um ensaio sobre o conto de Machado de Assis Missa do Galo, onde afirmou que neste gênero literário ele atingiu a máxima altura nas modernas letras luso-brasileiras -e talvez nas universais.
     Um trabalho publicado em 2004 pelo filólogo, ensaísta e jornalista galego Joel R. Gômez reconstroi a história da relação de Ernesto Guerra da Cal com a cultura brasileira e do seu nunca realizado projeto sobre Machado de Assis. Um outro estudo mais recente, publicado em 2013 na Revista da Universidade Federal de Goiás, aprofunda na longa labuta de Da Cal como defensor e divulgador da cultura e dos interesses do Brasil em Estados Unidos.