sábado, 25 de maio de 2013

O dólio: um esquecido instrumento musical românico na Ribeira Sacra (Galiza)

Mísula da igreja de Atán (Foto : Alberto López)
A igreja de Santo Estevo de Atán, no concelho de Pantón, faz parte do vasto património românico da Ribeira Sacra. Pertenceu a um mosteiro desaparecido que já é mencionado em fontes documentais do século IX. Um desses documentos, datado do ano 816, contém a mais antiga referência conhecida sobre a viticultura na região. O edifício sofreu numerosas reformas e alterações, e da velha fábrica românica só restam o portal e um conjunto de mísulas esculpidas. Conserva também alguns elementos de origem pré-românica. Na fachada sul da igreja chama a atenção uma peculiar figura lavrada numa mísula, uma cabeça humana que parece estar a sorver vinho de uma pipa. Esculturas muito similares a esta podem ver-se em diversas igrejas românicas do norte da Península Ibérica. Essas figuras foram denominadas bebedores ou bêbedos e interpretadas como sátiras da embriaguez e da gula. Porém, segundo um estudo recente, tais esculturas não têm nenhuma intenção moralizadora. São representações reais de um antigo instrumento musical, um tipo de aerofone que deixou muito poucas pegadas históricas.


Dólio de Oloritz (Foto: Romanicoaragones.com)
O instrumento, totalmente desconhecido até há poucos anos, foi identificado pelo historiador e musicólogo Faustino Porras Robles, especialista em representações musicais na arte românica, quem publicou em 2007 um trabalho sobre este assunto na Revista de Folklore que edita a Fundação Joaquín Díaz. Porras Robles deu a este instrumento —cujo nome original se desconhece— a denominação de dólio, do latim dolium (pipa ou tonel). O pesquisador descarta a possibilidade de os objectos representados nestas esculturas serem cubas de vinho e frisa que em todos os casos estão situados por baixo da figura humana. «Se se tratasse de uma imagem carregada de conteúdo simbólico e finalidade moralizante, o tonel situar-se-ia sobre as costas do personagem para apresentá-lo como a pesada carga que deve suportar aquele que não domina as suas fraquezas», aponta. Por outro lado, indica que este «tonel» apresenta amiúde uma feição cilíndrica, mas em outros casos tem forma de elipse ou de prisma, e além disso aparece sempre representado com um grande bico —por onde supostamente «bebe» o personagem— que não desempenharia nenhuma função em um tonel real. Estas figuras, aliás, aparecem em certos lugares acompanhadas de outras que indubitavelmente representam músicos e dançarinos.
 
Interior da igreja de Atán (Foto: Carlos Rueda)
As representações iconográficas do dólio estão espalhadas por todo o norte da Península. No seu trabalho de 2007, Faustino Porras Robles  menciona as igrejas de Monasterio de Rodilla, Miñón, Escalada, Moarves de Ojeda (Castela e Leão), S. Romão de Lousada, Sta. Marinha de Esposende, S. Tomé de Serantes, Santiago de Bembrive, S. Martinho de Moanha, S. Pedro de Rebón, a freguesia de Santiago na cidade da Corunha e a catedral de Lugo (Galiza). Em um novo artigo publicado em fevereiro de 2013 alarga a listagem, indicando também a presença do instrumento em esculturas medievais de El Pla de Santa Maria (Catalunha), Artze, Oloritz, Vadoluengo (Navarra), Canales de la Sierra (La Rioja), Los Barrios de la Bureba, Navas de Bureba, Tablada de Villadiego, Vallejo de Mena, Villamayor de Treviño, Ventosilla (Castela e Leão), Santo Estevo de Atán e Santiago de Compostela (Galiza).

Organistrum (Wikimedia Commons)

Baseando-se na cronologia das representações plásticas do dólio, Porras Robles considera que o instrumento foi usado sobretudo na segunda metade do século XII, ainda que parece ter pervivido até à Baixa Idade Média. O exemplo mais tardio que se conhece é uma escultura da Casa Gótica de Santiago de Compostela, do século XIV. O investigador fez também uma estimação acerca do possível tamanho desses instrumentos, calculando que poderiam medir entre 45 e 50 centímetros os de maior volume (os mais frequentes) e arredor de 30 centímetros os mais pequenos. Analisando a iconografia, supõe que era um aerofone de tom grave e pouca variedade sonora, cuja função seria a de enriquecer melodias executadas com outros instrumentos, contribuindo para o desenvolvimento da polifonia que estava em auge nesse período histórico. Na maioria dos casos, o dólio aparece integrado em cenas jogralescas, com outros músicos que tocam instrumentos de corda e de sopro, com dançarinas, animais amestrados e contorcionistas, pelo que cabe inferir que foi utilizado principalmente em contextos populares. A causa provável da desaparição do dólio —acrescenta o autor do estudo— seria o desenvolvimento de outros instrumentos de técnica mais evoluída e com possibilidades protopolifónicas, como a gaita, o alboque ou o organistrum (predecessor da sanfona), que tornariam desnecessário o seu uso. 

domingo, 19 de maio de 2013

Batuko Tabanka, música de Cabo Verde feita na Galiza

Videoclipe de Brinca kumi, de Batuko Tabanka
Batuko Tabanka é um grupo musical formado por mulheres da comunidade de origem cabo-verdiana residente no concelho de Burela, no norte da Galiza. A partir da década de 1970, numerosos imigrantes vindos de Cabo Verde assentaram-se nesta vila, onde se encontra um dos mais importantes portos pesqueiros do mar Cantábrico, para trabalhar nas pescas. Dentro desta comunidade imigrada formou-se primeiramente a associação Tabanka, com o fim de conservar e dignificar a cultura tradicional do seu país de origem. No interior da associação surgiu depois o grupo musical, cujo nome reúne as denominações de dois gêneros tradicionais da música cabo-verdiana: o batuko (batuque, batuku ou batuk) e a tabanka, caraterísticos da ilha de Santiago.

Uma atuação de Batuko Tabanka em 2008
Com base na tradição musical do arquipélago, as integrantes do grupo compõem os seus próprios temas, cantados em crioulo cabo-verdiano, que aludem amiúde à sua vida quotidiana e à sua experiência como imigrantes. Cultivam um estilo muito diferente da morna que popularizou Cesária Évora, a intérprete cabo-verdiana mais conhecida mundialmente. Em dezembro de 2009 apareceu seu primeiro disco, Djunta mô (Juntemos as mãos), em que colaboram músicos de Cabo Verde, Galiza, Portugal, Brasil e a Estremadura espanhola.

sábado, 18 de maio de 2013

A literatura de Machado de Assis segundo Guerra da Cal : um grande projeto inconcluso

Machado de Assis
Há agora 55 anos, o escritor, filólogo e crítico literário galego Ernesto Guerra da Cal (1911-1994) anunciou pela primeira vez o seu projeto de consagrar um vasto estudo à obra de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), um dos maiores autores das letras brasileiras e um dos grandes vultos da literatura em língua portuguesa de todos os tempos. O anúncio teve uma importante repercussão, porquanto Guerra da Cal gozava na altura de um sólido prestígio intelectual. Seu livro Língua e estilo de Eça de Queirós (1954) contribuíra em grande medida para a revalorização e a difusão internacional da obra do grande romancista português, e encontrara larga acolhida nos meios culturais brasileiros, a começar por Gilberto Freyre: É um livro esse, do professor Da Cal, que nenhum devoto brasileiro do Eça e do
seu estilo, da sua expressão literária, deve deixar de ler
.
Sua obra de criação também foi bem considerada no Brasil. O grande poeta e crítico Manuel Bandeira elogiou o primero poemário de  Guerra da Cal, Lua de Além-Mar (1959). O projeto de dedicar a Machado de Assis um estudo semelhante ao que publicara sobre Eça de Queirós foi assim recebido com muito interesse e divulgado em diferentes meios de comunicação brasileiros, como o Jornal do Brasil, o Diário de Pernambuco, o Diário de Notícias da Bahia e o Jornal de Letras e o Correio da Manhã do Rio de Janeiro, entre outras publicações.

Ernesto Guerra da Cal em 1960
 Ernesto Guerra da Cal residia desde 1939 em Estados Unidos, onde se exilara depois de ter combatido no bando republicano na Guerra Civil Espanhola. Em 1945 adotou a cidadania estadunidense. Durante toda a sua vida foi um firme defensor do reintegracionismo, corrente que vindica a relação histórica e linguística da Galiza com o mundo lusófono. Desenvolveu um intenso labor académico como professor na Universidade de Nova Iorque, preocupando-se especialmente por difundir no âmbito norte-americano e anglófono as culturas e literaturas de expressão portuguesa.  Em agosto de 1959 foi nomeado doutor honoris causa da Universidade da Bahia pelo seu apoio à cultura do Brasil e participou nessa mesma cidade no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. Em 1960, pelo mesmo motivo, recebeu a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a Medalha Padre Anchieta e a designação de cidadão de honra da cidade do Rio de Janeiro.


Guerra da Cal recebendo o título de doutor honoris causa na Bahia em 1959
  Guerra da Cal, provavelmente por falta de tempo, nunca pôde levar a termo o seu grande estudo sobre  Machado de Assis. Porém, continuava a acalentar o projeto em 1970, época em que visitou a Universidade Federal do Rio de Janeiro para apresentar uma edição brasileira da sua obra sobre Eça de Queirós. Nessa altura qualificou o estilo machadiano como mais hermético e difícil de analisar e dissecar do que o estilo do romancista português. Em 1981 publicou em Portugal um ensaio sobre o conto de Machado de Assis Missa do Galo, onde afirmou que neste gênero literário ele atingiu a máxima altura nas modernas letras luso-brasileiras -e talvez nas universais.
     Um trabalho publicado em 2004 pelo filólogo, ensaísta e jornalista galego Joel R. Gômez reconstroi a história da relação de Ernesto Guerra da Cal com a cultura brasileira e do seu nunca realizado projeto sobre Machado de Assis. Um outro estudo mais recente, publicado em 2013 na Revista da Universidade Federal de Goiás, aprofunda na longa labuta de Da Cal como defensor e divulgador da cultura e dos interesses do Brasil em Estados Unidos.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Caverna de Valdavara (Becerreá, Galiza) : primeiro registo fóssil de Chioglossa lusitanica, uma salamandra endêmica do noroeste ibérico

Desenho da Chioglossa lusitanica publicado na primera descrição científica da espécie (Barbosa du Bocage, 1864)
 A caverna de Valdavara, no concelho de Becerreá (no leste da província de Lugo), tornou-se nos últimos anos um dos principais pontos de referência para o estudo da pré-história da Galiza. A existência de um sítio arqueológico nesta pequena gruta cárstica, localizada seiscentos metros acima do nível do mar, foi descoberta por finais da década de 1950 pelo pesquisador amador Carmelo Alonso. No entanto, as escavações sistemáticas só começaram no ano 2007, no âmbito do projeto Ocupações humanas durante o Pleistoceno na bacia média do Minho, em que colaboram cientistas das universidades de Santiago e Tarragona. Desde então encontraram-se na caverna abundantes vestígios de assentamentos humanos do Paleolítico Superior, do Mesolítico, do Neolítico e da Idade do Bronze

Ch. lusitanica - Foto Gustavo Rivas (La Voz de Galicia)
  Mas a jazida também contém um dos mais importantes depósitos de fósseis de microvertebrados da Galiza, onde foram identificadas dezenas de espécies de anfíbios, répteis, insetívoros, quirópteros e roedores. Dado que a fauna de pequeno tamanho é particularmente sensível às mudanças climáticas, este depósito fossilífero oferece um grande interesse para estudar as alterações do clima e do meio ambiente na transição do Pleistoceno ao Holoceno no noroeste da Península Ibérica. A jazida possui um especial valor, porque na Galiza é muito raro encontrar fósseis de qualquer época. A natureza ácida dos solos da maior parte do seu território (devido à presença abundante de granito) não permite a conservação dos vestígios biológicos antigos. Isto apenas é possível em algumas áreas de rocha calcária como as montanhas onde está localizada a caverna de Valdavara.
   Entre os achados realizados no local figuram os primeiros fósseis conhecidos da salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), um anfíbio urodelo endêmico cuja área de distribuição está  limitada ao norte de Portugal, Galiza, Astúrias e a extremidade ocidental da Cantábria. A espécie foi descrita pela primeira vez em 1864 pelo zoólogo português José Vicente Barbosa du Bocage. Os restos fósseis foram achados em um nível arqueológico que, conforme a datação radiométrica efetuada com o método do carbono-14, tem uma antiguidade de cerca de 4.500 anos.
   A salamandra-lusitânica, conhecida em galego como saramaganta ou píntega rabilonga, é o único representante vivo do género Chioglossa, ao qual também pertence a espécie extinta Chioglossa meini, conhecida por restos fósseis encontrados na França, na Alemanha, na Suíça, na Áustria e na República Checa. A presença deste anfíbio, muito sensível à poluição, é um importante indicador da qualidade ambiental das águas. A descoberta vai ajudar a reconstruir a história da propagação desta espécie no  território que ocupa atualmente e conhecer melhor a evolução do clima na área. Os pesquisadores acreditam que durante o último período glacial a Chioglossa lusitanica  sobreviveu em áreas de refúgio situadas em torno dos rios Douro e Mondego, em Portugal, expandindo-se depois para o norte à medida que o clima se tornava mais suave.

Escavação em Valdavara - Foto Alberto López (La Voz de Galicia)
 A análise dos fósseis de microvertebrados deste depósito foi divulgada em um artigo publicado na revista Geobios. O autor principal do trabalho, Juan Manuel López-García (pertencente ao Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social), nota que a investigação permitiu observar um aumento na diversidade de táxons de microvertebrados na Pré-história recente (cerca de 4.500 anos) em relação com o Magdaleniano (entre 13.000 e 15.000 anos). Segundo o pesquisador, esta circunstância está provavelmente relacionada com uma expansão da vegetação e uma melhoria geral do clima. Na Pré-história recente apareceram na região espécies como o musaranho-de-dentes-brancos (Crocidura russula) e o rato silvestre ruivo (Myodes glareolus), que estiveram ausentes durante o Magdaleniano,  o que é possivelmente devido à melhoria do clima que ocorreu no início do Holoceno, 11.700 anos atrás. No local também se encontraram os primeiros registos fósseis da Península Ibérica da rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi) e do fura-pastos (Chalcides striatus). Além disso, foi documentada pela primeira vez no noroeste peninsular a antiga presença do rato-de-cabrera (Microtus cabrerae) e do rato Micromys minutus, agora ausentes desta área geográfica.

Cueva de Valdavara (Becerreá, Galicia) : primer registro fósil de Chioglossa lusitanica, una salamandra endémica del noroeste ibérico

Dibujo de la Chioglossa lusitanica publicado en la primera descripción científica de la especie (Barbosa du Bocage, 1864)
 
   La cueva de Valdavara, en el municipio de Becerreá (en el este de la provincia de Lugo), se ha convertido en los últimos años en uno de los principales referentes para el estudio de la prehistoria en Galicia. La existencia de un yacimiento arqueológico en esta pequeña gruta cárstica, situada a seiscientos metros de altura sobre el nivel del mar,  ya fue descubierta a finales de la década de 1950 por el investigador aficionado Carmelo Alonso. Sin embargo, las excavaciones sistemáticas no empezaron hasta el año 2007, dentro del proyecto Ocupaciones humanas durante el Pleistoceno en la cuenca media del Miño, en el que colaboran científicos de las universidades de Santiago y Tarragona. Desde entonces se han hallado en la cueva abundantes rastros de poblamientos humanos del Paleolítico Superior, el Mesolítico, el Neolítico y la Edad del Bronce

Ch. lusitanica - Foto Gustavo Rivas (La Voz de Galicia)
Pero el yacimiento contiene también uno de los más importantes depósitos  de fósiles de microvertebrados del territorio gallego, en el que se han podido identificar decenas de especies de anfibios, reptiles, insectívoros, quirópteros y roedores. Dado que la fauna de pequeño tamaño es especialmente sensible a los cambios climáticos,  este depósito fosilífero ofrece un gran interés para el estudio de las transformaciones del clima y del medio ambiente en el tránsito del Pleistoceno al Holoceno en el noroeste de la Península Ibérica. El yacimiento posee un particular valor, porque en Galicia es muy poco común encontrar fósiles de cualquier época. La naturaleza ácida del suelo de la mayor parte de su territorio (debida a la abundante presencia del granito) no permite la conservación de restos biológicos antiguos. Esto solo es posible en algunas áreas de roca caliza, como las montañas en las que se encuentra la cueva de Valdavara.
   Entre los hallazgos realizados en este yacimiento figura el de los primeros restos fósiles conocidos de la salamandra rabilarga (Chioglossa lusitanica), un anfibio urodelo endémico cuya área de distribución se limita al norte de Portugal, Galicia, Asturias y el extremo occidental de Cantabria. La especie fue descrita por primera vez en 1864 por el zoólogo portugués José Vicente Barbosa du Bocage. Los restos fósiles aparecieron en un nivel arqueológico al que las dataciones radiométricas con el método del carbono-14 han asignado una antigüedad de en torno a 4.500 años.
    La salamandra rabilarga, conocida en gallego como saramaganta o píntega rabilonga, es el único representante vivo del género Chioglossa, al que también pertenece la especie extinta Chioglossa meini, de la que han encontrado fósiles en Francia, Alemania, Suiza, Austria y la República Checa. La presencia de este anfibio, muy sensible a la contaminación, es un importante indicador de la calidad ambiental de las aguas. El hallazgo ayudará a reconstruir la historia de la propagación de esta singular especie por el territorio que ocupa en la actualidad y a conocer mejor la evolución del clima en la zona. Los investigadores creen que durante la última glaciación la Chioglossa lusitanica sobrevivió en áreas de refugio en torno a los ríos Duero y Mondego, en Portugal, y que se fue expandiendo hacia el norte a medida que el clima se volvía más benigno.


Excavación en Valdavara - Foto Alberto López (La Voz de Galicia)
 El análisis de los microvertebrados fósiles de este yacimiento fue divulgado en un artículo publicado en la revista Geobios. El autor principal de este trabajo, Juan Manuel López-García, (perteneciente al Institut Català de Paleoecologia Humana i Evolució Social), señala que el estudio permitió observar un incremento en  la diversidad de los taxones de microvertebrados en la Prehistoria reciente (hace unos 4.500 años) en relación con el Magdaleniense (hace entre 13.000 y 15.000). En opinión del investigador, esta circunstancia está probablemente relacionada con una mayor expansión de la vegetación y una mejora general de las condiciones climáticas. En la Prehistoria reciente aparecen en la región especies como la musaraña gris (Crocidura russula) y el topillo rojo (Myodes glareolus), que estuvieron ausentes durante el Magdaleniense, lo que posiblemente se debe a la mejoría climática que se produjo a comienzos del Holoceno, hace unos 11.700 años. En el yacimiento se encontraron también los primeros registros fósiles del sapillo pintojo ibérico (Discoglossus galganoi) y del eslizón tridáctilo ibérico (Chalcides striatus). Además, se ha podido documentar por primera vez en el noroeste de la península la antigua presencia del topillo de Cabrera (Microtus  cabrerae) y del ratón espiguero (Micromys minutus), hoy ausentes de esta área geográfica.


sexta-feira, 10 de maio de 2013

«Rico de muertes, más que de metales» : Pedro Antonio Fernández de Castro Andrade y Portugal, X conde de Lemos y XIX virrey del Perú

Retrato del conde en el Palacio de Gobierno de Lima

Poco recordado hoy en su país de origen, Pedro Antonio Fernández de Castro Andrade y Portugal, décimo conde de Lemos, dejó un rastro duradero de su gobierno en el antiguo Virreinato del Perú, que estuvo bajo su dominio desde 1667 hasta su muerte en 1672. De esos cinco años de mandato quedó en la historia de la colonia una huella profunda, controvertida y sangrienta, que ha sido estudiada, entre otros, por los historiadores peruanos Jorge Basadre y Guillermo Lohmann Villena.


De sus primeros años de vida poco o nada es lo que se conoce. Nació en octubre de 1632, en Madrid según algunas fuentes, o en el palacio de su familia en Monforte de Lemos, según otras. Pertenecía a una de las estirpes más poderosas y antiguas de Galicia, orgullosa de su viejo parentesco con los reyes de Portugal. Su padre, Francisco Fernández de Castro, noveno conde de Lemos, fue virrey de Aragón y de Cerdeña. Entre sus antecesores hubo virreyes de Nápoles, el más famoso de los cuales es su tío abuelo Pedro Fernández de Castro, séptimo conde de Lemos. Pedro Antonio Fernández de Castro usó el título de conde de Andrade  hasta la muerte de su padre, en 1662, y de ahí en adelante fue el décimo conde hereditario de Lemos. Poco tiempo después, en octubre de 1663, estando en Nápoles, mandó a un criado suyo disparar un pistoletazo contra un clérigo con el que al parecer había tenido unas palabras. Según el historiador gallego Germán Vázquez, todo se redujo a una broma que no tuvo otras consecuencias que el consiguiente susto del clérigo. Sin embargo, el virrey de Nápoles ordenó detenerlo, conducirlo de vuelta a España en una galera y encarcelarlo en el Alcázar de Segovia, donde pasó algún tiempo.

Vista del Callao hacia 1670, en un grabado de Arnoldus Montanus
Al fallecer el conde de Santisteban, virrey del Perú, el conde de Lemos pretendió al cargo en competencia con otros treinta y seis aspirantes. Hablillas de la época —dice Jorge Basadre— creen que en la elección de Lemos como Virrey del Perú tuvo importancia decisiva el padre jesuita alemán Nizard, confesor de la Reina Gobernadora. La casa condal de Lemos mantenía desde hacía ya muchos años una estrecha relación con la Compañía de Jesús. También era un jesuita el propio confesor del conde, el padre Juan Ignacio de Ávila. Por una u otra razón, el 1 de octubre de 1666 la Cámara de Indias extendió los despachos de su nombramiento. El 3 marzo de 1667, el nuevo virrey embarcó en el puerto de Cádiz en el galeón Nuestra Señora del Rosario y Santo Domingo junto con su mujer, sus dos hijos y un séquito formado por 128 personas. El 27 de abril llegaron a Cartagena de Indias y el 28 de mayo, a Portobelo. De allí pasaron a Panamá, desde donde zarparon hacia Paita. La flota del conde salió el 26 de septiembre de este puerto y el 9 de noviembre arribó al Callao, donde se le tributó un majestuoso recibimiento. El barco ofrecía una hermosa vista adornado con gallardetes y grímpolas confeccionadas con tafetán carmesí, mas nada podía igualar el aspecto que presentaban las murallas del Callao, colmadas de todo género de gente, cuyos trajes de colores y mantillas en las mujeres hacíanlas parecer un 'jardín de flores', cuenta Lohmann Villena.
 
Representación pictórica de la plaza Mayor de Lima en 1680
   El 21 de noviembre de 1667, el conde de Lemos hizo su entrada en Lima y tomó posesión formal de su nuevo cargo de virrey. Pero durante el viaje ya había actuado como tal, dando muestras de un carácter autoritario y expeditivo. Como dice Basadre, nunca dio la sensación de intruso o de recién llegado al poder: se sintió siempre a sus anchas en él, como en su señorío de Monforte, en Galicia. A su paso por Panamá hizo destituir y encarcelar al gobernador Juan Pérez de Guzmán y Gonzaga —envuelto por entonces en un grave conflicto con los oidores de la Audiencia y los oficiales reales— y lo llevó preso al Perú. También se interesó por Jamaica, arrebatada doce años antes a la corona española por Inglaterra, y trazó planes para su reconquista.

El cerro de Potosí en un grabado francés de 1685
Con todo, una de sus principales preocupaciones al asumir el gobierno fue la de enfrentarse a la llamada rebelión de Laicacota. En esta región minera del actual departamento de Puno se había descubierto en 1657 el más importante yacimiento de plata del virreinato después del famoso cerro de Potosí. Las minas eran explotadas, entre otros, por los hermanos Gaspar y José de Salcedo, naturales de Sevilla y quizá los hombres más ricos de América en esa época, que en 1661 habían contribuido a sofocar brutalmente una insurrección de mineros mestizos. Al comenzar el mandato del conde de Lemos, la región estaba siendo sacudida por un conflicto armado entre colonos de origen andaluz y vasco que se disputaban el dominio de los yacimientos. La situación hacía temer a las autoridades coloniales una pérdida total del control de la corona sobre esos territorios. El conde tomó partido por los mineros vascos y en contra de los Salcedo y sus seguidores. Primeramente encarceló a Gaspar de Salcedo tras ordenarle que acudiese al Callao a ofrecer explicaciones. Seguidamente organizó una intervención militar en la región y se colocó él mismo al frente de la fuerza expedicionaria. En una decisión insólita, mientras estuvo ausente de la capital puso al frente del gobierno a su propia esposa, Ana Francisca de Borja Centellas Doria y Colonna, hija del octavo duque de Gandía. La condesa Ana, apodada Patona por los limeños, se convirtió así en la primera mujer que gobernó el Perú (durante seis meses menos un día). El célebre escritor peruano Ricardo Palma la evocó en uno de sus relatos y en tiempos mucho más recientes el personaje ha inspirado también una novela histórica.

Arcángel arcabucero, c. 1680 (Wikimedia Commons)
La pacificación de la región minera se llevó a cabo de forma drástica. El hacendado José de Salcedo fue apresado por las tropas virreinales, juzgado, condenado y ajusticiado en el garrote tres horas después de ser dictada la sentencia. Otros 41 hombres declarados como rebeldes fueron ejecutados en suplicios públicos y hubo otros setenta condenados a muerte en rebeldía. Se calcula que unas dos mil personas se dieron a la fuga. En castigo por la sedición, Fernández de Castro mandó arrasar las tres mil viviendas que tenía entonces la población de Laicacota y dispuso que la capital de la provincia fuese de ahí en adelante la ciudad de Puno, a la que dio el nombre de San Carlos de Austria, en homenaje al rey Carlos II el Hechizado. Las labores en las minas de plata de Laicacota se interrumpieron por un tiempo. Más tarde, el virrey ordenó explotar de nuevo el yacimiento como si fuese propiedad de la corona, pero las minas habían sido anegadas por el agua y los trabajos de extracción no pudieron reanudarse. Más allá  de las minas abandonadas y destruidas, estaba el campo de batalla de Laicacota y todavía, un siglo después, se le veía blanqueado por los huesos (Jorge Basadre).

Dibujo de Waman Puma de Ayala (siglo XVII)
Durante su mandato, el conde de Lemos no dejó de preocuparse por las condiciones de vida de la poblacion indígena y en sus informes oficiales denunció reiteradamente la bárbara explotación de los nativos por parte de los colonizadores. Todos en este reino se aprovechan de su trabajo como si fuesen hombres de metal, siendo los más desvalidos y miserables que se conoce, escribió en una ocasión, añadiendo: No hay nación en el mundo tan fatigada. Yo descargo mi conciencia con informar a Vuestra Majestad con esta claridad: no es plata lo que se lleva a España, sino sangre y sudor de indios. Se negó a conceder licencias para abrir nuevos chorrillos, talleres textiles artesanales en los que hombres, mujeres y niños indígenas trabajaban a destajo en unas condiciones atroces. En este terreno, su proyecto más ambicioso consistió en extinguir en las minas de Potosí el sistema de trabajo forzoso conocido como mita, que obligaba a los indios —elegidos por sorteo en las poblaciones de dieciséis provincias— a extenuarse hasta la muerte en la extracción de plata. El virrey puso especial empeño en que ese régimen de semiesclavitud fuese abolido y sustituido por el empleo voluntario. Yo no vine a las Indias a arriesgar mi salvación, dijo en respuesta a un memorial en que el que se señalaban los graves perjuicios económicos que causarían sus medidas a los colonos si se pusiesen en práctica. Hizo además encarcelar al procurador que había redactado el memorial y multar a quienes lo habían firmado. Pero la influencia de los acaudalados mineros que se enriquecían con el trabajo forzado de los indios consiguió abortar estos planes de reforma. La mita no sería suprimida hasta la proclamación de la Constitución de Cádiz, en 1812, solo nueve años antes de la independencia del Perú.

Mercado de esclavos en Cartagena de Indias
El conde también fundó en Lima un hospital de indios que, según testimonios de la época, visitó con frecuencia para lavar y dar de comer a los enfermos con sus propias manos. Se dice que lloraba en público al ver el estado de pobreza y postración de los que iban allí a pedir refugio. La conmiseración que mostró hacia los indígenas, sin embargo, no parece ajena a las razones de estado. Apurar y molestar a los indios es tratar de acabar este Reino pues con ellos se conserva, escribió en una carta a la reina regente. Tampoco le impedía desconfiar profundamente de los mestizos. Poco después de su llegada al Callao hizo despedir a más de ciento treinta marineros, soldados y artilleros que lo eran —o parecían serlo— y ordenó que la plaza fuese defendida por quinientos soldados que debían ser todos españoles. No parece que el virrey sintiese mucha compasión por los numerosos esclavos africanos que vivían por entonces en los territorios que gobernaba. Lo que le preocupó fue el contrabando de esclavos suministrados por traficantes de naciones enemigas de España. Durante su mandato se prohibió que los agentes del negrero genovés Domenico Grillo, considerado sospechoso en este sentido, llevasen a cabo ventas de esclavos en Lima.   

Retrato del conde Pedro Fernández de Castro

La exaltación religiosa es considerada como uno de los principales rasgos de la personalidad de Pedro Fernández de Castro, recordado en el Perú como el virrey devoto. Su biografía está ciertamente repleta de muestras de fervor católico. La tripulación del navío que lo llevó al Callao se extrañaba viendo las continuas celebraciones religiosas del conde y su familia durante la travesía. Mandó oficiar treinta misas por el alma de cada uno de los hombres que hizo ahorcar en Puno (en total, 1.260 misas). Alojó en su palacio a unos prisioneros ingleses a los que intentó convertir al catolicismo. Lo consiguió con dos de ellos. Otro murió sin haber dejado de ser luterano y el virrey mandó arrojar su cadáver al campo.
  

Santa Rosa de Lima, por Claudio Coello
 Junto con su confesor, el jesuita Francisco del Castillo, concibió y llevó a cabo el proyecto de construir en Lima la iglesia de Nuestra Señora de los Desamparados. Él mismo trabajó en las obras como albañil. Para inaugurar el templo organizó una suntuosa procesión en la que la imagen de la Virgen fue conducida por la calle Mercaderes sobre un pavimento hecho de barras de plata (valorado en más de dos millones de ducados). Promovió grandes festejos para celebrar la beatificación y la canonización de Rosa de Lima, la primera santa americana. Sirvió como sacristán de su confesor y a veces se le vio barrer y sacudir las alfombras, atizar las lámparas y componer los ramos de flores en la iglesia. Se esforzó por imponer en la capital del virreinato un modo de vida acorde con su mentalidad devota. Ordenó que todos se arrodillaran en las calles y plazas cuando la campana de la catedral anunciaba que en la misa mayor se estaba alzando el Santísimo. Fundó un asilo para prostitutas regeneradas —el beaterio de las Desamparadas de la Purísima Concepción—, obligándolas por la fuerza a ingresar en él. Salía de noche para registrar las casas de la gente acusada de llevar una vida disoluta. Destituyó, encarceló y desterró a Chile a los que suponía culpables de faltar a las buenas costumbres. Huyendo de esta ola de moralismo forzoso, más de cinco mil personas abandonaron Lima en esa época. Fue como un éxodo de nocharniegos, bohemios, mujeriegos y demás gente de la misma calaña —refiere Basadre—. Lo que más se escuchaba en las confesiones eran murmuraciones contra el virrey. Mientras que él, a su vez, escribía a la Reina jubiloso, pensando que ese era el mejor de sus éxitos como gobernante: 'He quitado los pecados principales'.

Enciclopedia Pulga (Barcelona, 1958)
A finales de noviembre de 1672, el virrey se vio aquejado de una grave enfermedad cuya naturaleza exacta se desconoce.
Murió el 6 de diciembre, a los 38 años de edad. Cumpliendo sus deseos, su corazón fue extraído del cadáver y depositado a los pies de la imagen de la Virgen de los Desamparados en la iglesia que él mandó construir, bajo una inscripción: Aquí yace el corazón del Excelentísimo Señor Conde de Lemos como en vida se le ofreció a la Emperatriz de los Cielos y Madre de Dios, se le ofreció también en la muerte. Su cuerpo embalsamado fue trasladado a Galicia para recibir sepultura en el panteón familiar del convento de San Antonio de Padua, en Monforte de Lemos, que en 1809 sería destruido por las tropas francesas durante la Guerra Peninsular.
   Siempre tuvo fama de soberbio y arrogante, pese a sus alardes de humildad religiosa. Trataba con desdén a los nobles que consideraba de un rango inferior al de su antiguo linaje. Hubo quien afirmó haberle oído decir que entre él y el rey había un dedo de diferencia y el más pequeño. No dudó en enfrentarse a los intereses de los ricos y poderosos —como los hermanos Salcedo— cuando le pareció que suponían una amenaza para la autoridad del estado absolutista y del imperio que defendía. Quedaron numerosos recuerdos históricos de su mandato breve y frenético, pero todas las reformas que trató de impulsar en la colonia desembocaron en el fracaso. Una de las más patéticas impresiones que su actuación como gobernante deja, es la inutilidad de sus esfuerzos para solucionar los problemas, señala Jorge Basadre. Los gobernadores y corregidores que destituyó por incompetentes o corruptos tardaron poco tiempo en volver a ocupar sus cargos. Quiso abolir el trabajo forzoso de los indígenas y no pudo. Tampoco consiguió relanzar la producción de la mina de mercurio de Huancavélica, de gran importancia para el laboreo de la plata en el virreinato. Sus planes para la reconquista de Jamaica nunca llegaron a realizarse. 
      El poeta Pedro Peralta y Barnuevo, en su Lima fundada, alabó el justo, magnífico Gobierno del conde, pero al mismo tiempo lo calificó de rico de muertes, más que de metales. Sus detractores lo pintaron a menudo como un déspota sanguinario. Solo está en sus glorias cuando ahorca y descuartiza, dijo de él el jesuita Ruiz de Alarcón. Otros testimonios lo describen contemplando con un anteojo a los reos que eran degollados en la plaza.

Auto de fe en la Plaza Mayor de Madrid (detalle). Pintura de Francisco Ricci, 1683
   En el siglo XIX, el historiador Manuel de Mendiburu hizo hincapié en el contraste entre sus gestos de religiosidad extremada y sus despiadados métodos de gobierno: El conde de Lemos que de una manera tan cruel hizo en Puno los ruidosos castigos de que hemos hecho memoria, y sin haber tenido la menor misericordia con algunas de las víctimas de su rigor innecesario e implacable, dejó en Lima muchos recuerdos de su vida mística y de su religiosidad llevada al último grado de exageración. Y en verdad hacía cosas extravagantes y hasta ridículas que desdecían de la sensatez y manejo circunspecto de un mandatario de su jerarquía. Estas costumbres y hechos, ciertamente no guardaban armonía con sus actos despóticos y violentos, revestidos siempre de una rencorosa dureza, incompatible con la caridad y la indulgencia que deben morigerar el subido temple de la justicia.
   Con un criterio similar, el psiquiatra y escritor Hermilio Valdizán lo catalogó como enfermo mental en su libro Locos de la Colonia (1919), pero Basadre considera desacertado este juicio y opina que el comportamiento del virrey no deja de concordar con la mentalidad dominante en la época y en la clase social a la que pertenecía. Es decir, que su personalidad, en la que la violencia se mezclaba con la devoción, juntando extrañamente el cadalso y la misa, el rosario y el potro de tortura, el golpe de pecho y el desafío, no fue mucho más demencial, cruel y fanática que la misma sociedad en la que vivió. 


    Ya en la agonía —cuenta su confesor, el padre Castillo— dijo que 'el demonio no habría de entrar en el aposento porque la Virgen taparía la puerta con su manto y que esperaba ir al Cielo a repicar las campanas en la fiesta de la Purísima que allí se celebraría'.



 
Obras
Ricardo Palma, Tradiciones peruanas (Lima, 1872-1891)
Manuel de Mendiburu, Diccionario Histórico-Biográfico del Perú (Lima, 1874-1885)
Jorge Basadre, El Conde de Lemos y su tiempo (Lima, 1945)
Guillermo Lohmann Villena, El Conde de Lemos, virrey del Perú (Madrid, 1946)
Germán Vázquez, Historia de Monforte y su Tierra de Lemos (Lugo, 1969-1972)


quarta-feira, 1 de maio de 2013

Contos populares da Irlanda em tradução galega

Tris Tram, uma pequena editora com sede em Lugo (Galiza), publicou em 1999 Contos populares irlandeses, uma edição em galego das histórias tradicionais compiladas em 1892 por Joseph Jacobs em seu livro Celtic Fairy Tales
 O livro de Jacobs contém 26 contos recolhidos por vários folcloristas entre as populações de língua gaélica da Irlanda e da Escócia. O livro editado por Tris Tram contém catorze contos de origem irlandesa: Connla and the Fairy Maiden [Connla e a fada], Guleesh, The Field of Boliauns [A leira dos nabos], The Horned Women [As mulheres dos cornos], Hudden and Dudden and Donald O'Neary [Hudden, Dudden e Donald O'Neary], The Story of Deirdre [A história de Deirdre], Munachar and Manachar [Munachar e Manachar], King O'Toole and his Goose [O rei O'Toole e o seu ganso], Jack and his Comrades [Jack e os seus camaradas], The Shee An Gannon and the Gruagach Gaire [Shee An Gannon e Gruagach Gaire], A Legend of Knockmany [Uma lenda de Knockmany], Fair, Brown, and Trembling [Bela, parda e tremente], Jack ans his Master [Jack e o seu amo] e The Story-Teller at Fault [O contador de histórias ao que não lhe ocorria nada].  

Tram Tris também publicou em 1996 o livro Contos celtas, uma antologia de contos populares da Irlanda, da Escócia, do País de Gales, da Ilha de Man, da Ilha de Wight e da Bretanha. Este volume inclui os contos irlandeses Fior Usga e The Spirit Horse [O cavalo encantado], de Thomas Crofton Croker (do livro Fairy Legends and Traditions of the South of Ireland, 1825-27), e The Soul Cages [As gaiolas de almas], de Thomas Keightley (do livro The Fairy Mythology, 1850-1870).


Contos populares irlandeses. Joseph Jacobs. Tradução da Equipa Tris Tram (Editorial Tris Tram, Lugo 1999. ISBN: 84-89377-22-7)
Contos celtas. VV.AA. Tradução da Equipa Tris Tram (Editorial Tris Tram, Lugo 1996. ISBN: 84-89377-03-0)

terça-feira, 30 de abril de 2013

Fósseis da Era Paleozoica nas ruínas do castelo de Carbedo (Serra do Courel, Galiza)


Ruínas do castelo de Carbedo (Foto Roi Fernández)
 As ruínas do lendário castelo de Carbedo sempre foram um dos lugares mais emblemáticos e populares da Serra do Courel, no extremo leste da Galiza. Muito menos conhecido é o fato de que ao pé da antiga fortaleza —construída em algum momento incerto da Baixa Idade Média— se conservam testemunhos de épocas incomparavelmente mais velhas. As rochas em que se assenta o castelo contêm fósseis de pequenos animais que viveram no Cambriano Inferior, há entre 530 e 515 milhões de anos.
  
Antiga moeda de 100 pesetas sobre rastos de arqueociatos
  A descoberta destes fósseis não é nova, mas é praticamente desconhecida fora dos círculos científicos. A existência da jazida foi dada a conhecer em um estudo dos geólogos Thilo Bechstädt e A. Russo publicado na Revista de la Sociedad Geológica de España em 1994. O castelo de Carbedo é mencionado erroneamente neste estudo como Carredo. Este não é o único lugar da serra onde os pesquisadores acharam pegadas biológicas dessa fase do Paleozoico. O trabalho de Bechstädt e Russo apresenta os resultados de uma investigação realizada na zona situada entre as localidades de Visunha e Pedrafita do Courel, onde aflora a chamada Formação Vegadeo, um vasto conjunto de rochas calcárias e dolomíticas que foi identificado pela primeira vez pelo geólogo francês Charles Barrois no século XIX. Os autores do estudo também descobriram fósseis do mesmo tipo perto das aldeias de Moreda e Visunha.

Alguns tipos de arqueociatos (Wikimedia Commons)
Os fósseis encontrados nestes lugares não são muito reconhecíveis à primeira vista, já que eles não têm conchas, pinças ou outras estruturas que permitam distingui-los com facilidade. Alguns deles são arqueociatos, uns pequenos animais de forma cónica ou cilindro-cónica e vários centímetros de comprimento que alguns cientistas incluem na família dos poríferos ou esponjas, enquanto para outros constituem um grupo separado. Estas criaturas estavam presentes em grande parte do planeta e seus fósseis foram localizados em todos os continentes. Apesar dessa expansão, já estavam extintos no Cambriano Médio, entre dez e quinze milhões de anos depois de terem aparecido.
    Os outros fósseis presentes na jazida pertencem ao grupo dos calcimicróbios, uns organismos microscópicos que se agrupavam em grandes colônias, formando os recifes de coral mais antigos que se conhecem. Tal como acontece na Serra do Courel, os arqueociatos e os calcimicróbios aparecem normalmente associados nos depósitos fossilíferos dessa época. Tudo indica que esses organismos viviam em plataformas de águas rasas —charcas ou lagoas— localizadas nas margens continentais. Os arqueociatos são de particular interesse para os cientistas porque eles experimentaram grandes transformações evolutivas —o que ajuda a reconhecer as diferentes fases bioclimáticas que ocorreram durante esse período geológico— e seus fósseis são muito úteis para determinar onde estavam os limites dos antigos continentes  e mares. Sua presença no castelo de Carbedo indica que, embora este lugar fique agora a 930 metros acima do nível do mar, as rochas em que assenta se formaram nas margens do oceano. Durante o Cambriano Inferior, grande parte das terras emergidas estavam agrupadas no supercontinente Gondwana. Os terrenos que atualmente constituem a Serra do Courel estavam no extremo norte dessa antiga massa continental.
   
Sinclinal do Courel (Foto Alberto López)
 Os fósseis de Carbedo pertencem a uma época muito mais antiga que aquela que viu nascer o monumento geológico mais conhecido e espetacular da Serra dol Courel, o grande sinclinal de Campodola-Leixazós. Esta estrutura configurou-se durante o Carbonífero, há entre 324 e 305 milhões de anos. Os quartzitos e as ardósias que o compõem datam do Ordoviciano (488-468 milhões de anos). Nas primeiras fases do Cámbrico, o período que precedeu ao Ordoviciano, produziu-se a grande explosão biológica, isto é, a rápida aparição —em termos de tempo geológico— de uma enorme quantidade de organismos multicelulares complexos. Ainda não se encontrou uma explicação unificada para esta multiplicação das espécies, que mudou a história da evolução.