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sábado, 29 de novembro de 2014

Parentesco genético entre os ursos das cavernas de Cova Eirós (Galiza) e a gruta de Chauvet (França)

Ursus spelaeus (Museu de Quiroga). Foto Alberto López - La Voz de Galicia

 As pesquisas sobre a fauna fóssil do Quaternário das serras orientais galegas que leva atualmente a cabo o Instituto de Geologia Isidro Parga Pondal, da Universidade da Corunha, puseram em relevo a existência de uma ligação genética entre as populações de urso das cavernas (Ursus spelaeus) da Galiza e da França. Mais especificamente, entre os ursos que viveram em determinadas épocas do Pleistoceno em Cova Eirós (Triacastela, província de Lugo) e a caverna de Chauvet (departamento de Ardèche). As análises de ADN fóssil provaram que estes animais pertenciam à mesma linhagem genética, apesar de terem vivido em áreas geográficas muito afastadas
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Mandíbulas de Ursus spelaeus achadas em cavernas galegas
 Este relacionamento genético foi detetado em fósseis de urso das cavernas encontrados na jazida de Cova Eirós (que, de acordo com a datação por radiocarbono, têm uma antiguidade de entre 28.000 e 31.0000 anos) e outros fósseis de similar cronologia encontrados na caverna francesa.
    Os ursos de Cova Eirós mostram uma maior similitude genética com os da gruta de Chauvet do que com os fósseis descobertos em locais próximos das montanhas do leste da Galiza, como as cavernas de Linhares e Ceza (nas serras do Courel e Ancares), cuja idade oscila entre 38.000 e 48.000 anos. Por enquanto, porém, não é possível aprofundar muito neste estudo comparativo, porque na caverna de Chauvet, onde as condições de acesso são muito restritas, só se pôde extrair e analisar até agora um número muito reduzido de amostras de fósseis.


Distribuição geográfica do urso das cavernas
Os pesquisadores acreditam que a ligação genética entre os ursos de Cova Eirós e  Chauvet indica a existência de movimentos migratórios desta espécie entre o norte da Península Ibérica e outras regiões da Europa. Os ursos  deslocaram-se provavelmente do sul da França para a Galiza ao longo da faixa litoral do mar Cantábrico, seguindo uma rota que já foi constatada em outras espécies. Essas migrações parecem ter sido comuns nos períodos mais frios da última Idade Glacial, quando grandes áreas do continente estavam cobertas de gelo, o que obrigaria os animais de muitas espécies a migrar para o sul em busca de territórios mais aptos para a sobrevivência.

Reconstituição do Ursus spelaeus por Sergio de la Rosa
 Na jazida de Cova Eirós descobriram-se também fósseis de outras espécies, como o leão das cavernas, o urso pardo, o rinoceronte e o lince, além de veados, camurças e bovídeos. O local tornou-se particularmente conhecido nos últimos anos devido às importantes descobertas arqueológicas realizadas no quadro do projeto Ocupações humanas durante o Pleistoceno da bacia média do Minho. A caverna de Chauvet é um dos sítios arqueológicos mais importantes do Paleolítico europeu, devido principalmente ao fato de conter um dos conjuntos de pinturas rupestres mais antigos e ricos do mundo, e foi recentemente popularizada pelo filme de Werner Herzog Caverna dos sonhos esquecidos.



Fontes: Instituto Universitario de Geologia da Corunha, La Voz de Galicia

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Terceiro aniversário do único museu de geologia e paleontologia da Galiza

Representação da história geológica da Galiza no museu de Quiroga
  


Em 2 de dezembro de 2014 completa-se o terceiro ano sobre a abertura do museu de geologia e paleontologia de Quiroga, que era na altura –e continua a ser hoje– o único da Galiza no seu gênero. O centro foi criado por iniciativa da câmara municipal de Quiroga com o assessoramento científico do instituto geológico Isidro Parga Pondal, pertencente à Universidade da Corunha. 





 
Coleção de minerais do museu (Foto: Alberto López)

 Uma boa parte do museu está dedicada à divulgação do patrimonio geológico da Serra do Courel, que compreende uma das formações mais singulares da Península Ibérica –o sinclinal de Campodola-Leixazós–, numerosas cavernas cársticas e pegadas dos glaciares que existiram na zona durante a última Idade do Gelo. Nesta parte do museu exibe-se uma ampla coleção de minerais próprios da Serra do Courel, o vale de Quiroga e os territórios vizinhos.




Réplica de um esqueleto de Ursus spelaeus (Foto: Alberto López)
Outra seção, centrada na história paleontológica da região, alberga uma réplica em tamanho natural de um esqueleto de urso das cavernas (Ursus spelaeus) construída com ossos reais de diferentes exemplares fósseis. É a única reprodução completa de uma ossamenta desta espécie extinta que existe na Galiza e uma das muito poucas que é possível ver em todo o Estado espanhol.
   O museu conta igualmente com uma seção dedicada à história da evolução humana no noroeste ibérico e tem previsto exibir uma coleção de indústrias do Paleolítico Inferior que foram descobertas na zona em tempos recentes. Outra área do museu conta a longa história da atividade mineira da zona, onde em diversas épocas foram exploradas minas e pedreiras de ouro, ferro, antimônio e ardósia.

    O museu serve aliás de ponto de partida para visitar as paragens de maior interesse geológico da zona, como o sinclinal de Campodola –situado a nove quilómetros– e a lagoa glaciar da Lucenza.



segunda-feira, 17 de junho de 2013

O primeiro mamute descoberto na Galiza (1961)

Dente molar do mamute de Buxán (Foto: Xoán A. Soler - La Voz de Galicia)
Em 1961 foram descobertos em uma pedreira do concelho do Íncio (província de Lugo) os primeiros restos fósseis de mamute encontrados na Galiza. O achado produziu-se de um modo fortuíto no lugar de Buxán, durante as tarefas de extração de rocha calcária para uma fábrica de cimento da antiga empresa Cementos del Noroeste, hoje pertencente à multinacional portuguesa Cimpor. Os restos apareceram misturados com argila no interior de uma fenda rochosa. O chefe da pedreira, Ramón Pedreño, compreendeu que deviam pertencer a uma espécie extinta de grande porte e comunicou a descoberta ao geólogo Isidro Parga Pondal, accionista da empresa cimenteira. Ao examinar as peças, o cientista constatou que se tratava de um conjunto de dentes e fragmentos de osso de um mamute.

Mammuthus primigenius - Ilustração de Mauricio Antón
Os restos fósseis achados na pedreira de Buxán consistem em um molar inferior direito quase inteiro, de 19,5 centímetros de comprimento e 14 de largura, e um pedaço de molar inferior esquerdo, de 8 centímetros de comprimento e 18 de largura. No local também apareceram duas vértebras fragmentadas, um pedaço de osso longo e pequenos fragmentos ósseos não identificados. No estudo das peças participou o paleontólogo Emiliano Aguirre, quem anos mais tarde seria o primeiro diretor das escavações das célebres jazidas paleolíticas da Serra de Atapuerca. Os pesquisadores  concluíram que os restos pertenciam a um mamute lanoso (Mammuthus primigenius). Desde então não se descobriram mais vestígios desta espécie na Galiza. O fóssil de Buxán continua sendo o animal de maior tamanho, de qualquer época, encontrado no noroeste da Península Ibérica.

Woolly mammoth: Secrets from the Ice (Documentário da BBC - 2012)
 Os restos do mamute de Buxán conservam-se no Museu de História Natural Luis Iglesias, pertencente à Universidade de Santiago de Compostela. Desconhece-se a sua antiguidade exacta, pois até agora não se realizou com eles uma datação radiométrica. Cabe supor, porém, que datam de um dos períodos mais frios do Pleistoceno. Um estudo publicado pelos paleontólogos Diego Álvarez-Lao e Nuria García na revista Quaternary Science Reviews explica que a presença de espécies como o mamute lanoso, o rinoceronte lanoso e a rena na Península Ibérica não foi constante, mas que se regista apenas nos episódios de frio más intenso da Idade do Gelo. Durante esses períodos, os animais adaptados ao clima glacial veriam-se obrigados a migrar para o sul para sobreviverem, pois as camadas de gelo que então cobriam vastas regiões do centro e do norte de Europa não lhes permitiam encontrar pastagens. No sul do continente conviveram com espécies como o veado, a corça e o javali, mais próprias dos climas temperados.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Caverna de Valdavara (Becerreá, Galiza) : primeiro registo fóssil de Chioglossa lusitanica, uma salamandra endêmica do noroeste ibérico

Desenho da Chioglossa lusitanica publicado na primera descrição científica da espécie (Barbosa du Bocage, 1864)
 A caverna de Valdavara, no concelho de Becerreá (no leste da província de Lugo), tornou-se nos últimos anos um dos principais pontos de referência para o estudo da pré-história da Galiza. A existência de um sítio arqueológico nesta pequena gruta cárstica, localizada seiscentos metros acima do nível do mar, foi descoberta por finais da década de 1950 pelo pesquisador amador Carmelo Alonso. No entanto, as escavações sistemáticas só começaram no ano 2007, no âmbito do projeto Ocupações humanas durante o Pleistoceno na bacia média do Minho, em que colaboram cientistas das universidades de Santiago e Tarragona. Desde então encontraram-se na caverna abundantes vestígios de assentamentos humanos do Paleolítico Superior, do Mesolítico, do Neolítico e da Idade do Bronze

Ch. lusitanica - Foto Gustavo Rivas (La Voz de Galicia)
  Mas a jazida também contém um dos mais importantes depósitos de fósseis de microvertebrados da Galiza, onde foram identificadas dezenas de espécies de anfíbios, répteis, insetívoros, quirópteros e roedores. Dado que a fauna de pequeno tamanho é particularmente sensível às mudanças climáticas, este depósito fossilífero oferece um grande interesse para estudar as alterações do clima e do meio ambiente na transição do Pleistoceno ao Holoceno no noroeste da Península Ibérica. A jazida possui um especial valor, porque na Galiza é muito raro encontrar fósseis de qualquer época. A natureza ácida dos solos da maior parte do seu território (devido à presença abundante de granito) não permite a conservação dos vestígios biológicos antigos. Isto apenas é possível em algumas áreas de rocha calcária como as montanhas onde está localizada a caverna de Valdavara.
   Entre os achados realizados no local figuram os primeiros fósseis conhecidos da salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), um anfíbio urodelo endêmico cuja área de distribuição está  limitada ao norte de Portugal, Galiza, Astúrias e a extremidade ocidental da Cantábria. A espécie foi descrita pela primeira vez em 1864 pelo zoólogo português José Vicente Barbosa du Bocage. Os restos fósseis foram achados em um nível arqueológico que, conforme a datação radiométrica efetuada com o método do carbono-14, tem uma antiguidade de cerca de 4.500 anos.
   A salamandra-lusitânica, conhecida em galego como saramaganta ou píntega rabilonga, é o único representante vivo do género Chioglossa, ao qual também pertence a espécie extinta Chioglossa meini, conhecida por restos fósseis encontrados na França, na Alemanha, na Suíça, na Áustria e na República Checa. A presença deste anfíbio, muito sensível à poluição, é um importante indicador da qualidade ambiental das águas. A descoberta vai ajudar a reconstruir a história da propagação desta espécie no  território que ocupa atualmente e conhecer melhor a evolução do clima na área. Os pesquisadores acreditam que durante o último período glacial a Chioglossa lusitanica  sobreviveu em áreas de refúgio situadas em torno dos rios Douro e Mondego, em Portugal, expandindo-se depois para o norte à medida que o clima se tornava mais suave.

Escavação em Valdavara - Foto Alberto López (La Voz de Galicia)
 A análise dos fósseis de microvertebrados deste depósito foi divulgada em um artigo publicado na revista Geobios. O autor principal do trabalho, Juan Manuel López-García (pertencente ao Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social), nota que a investigação permitiu observar um aumento na diversidade de táxons de microvertebrados na Pré-história recente (cerca de 4.500 anos) em relação com o Magdaleniano (entre 13.000 e 15.000 anos). Segundo o pesquisador, esta circunstância está provavelmente relacionada com uma expansão da vegetação e uma melhoria geral do clima. Na Pré-história recente apareceram na região espécies como o musaranho-de-dentes-brancos (Crocidura russula) e o rato silvestre ruivo (Myodes glareolus), que estiveram ausentes durante o Magdaleniano,  o que é possivelmente devido à melhoria do clima que ocorreu no início do Holoceno, 11.700 anos atrás. No local também se encontraram os primeiros registos fósseis da Península Ibérica da rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi) e do fura-pastos (Chalcides striatus). Além disso, foi documentada pela primeira vez no noroeste peninsular a antiga presença do rato-de-cabrera (Microtus cabrerae) e do rato Micromys minutus, agora ausentes desta área geográfica.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Fósseis da Era Paleozoica nas ruínas do castelo de Carbedo (Serra do Courel, Galiza)


Ruínas do castelo de Carbedo (Foto Roi Fernández)
 As ruínas do lendário castelo de Carbedo sempre foram um dos lugares mais emblemáticos e populares da Serra do Courel, no extremo leste da Galiza. Muito menos conhecido é o fato de que ao pé da antiga fortaleza —construída em algum momento incerto da Baixa Idade Média— se conservam testemunhos de épocas incomparavelmente mais velhas. As rochas em que se assenta o castelo contêm fósseis de pequenos animais que viveram no Cambriano Inferior, há entre 530 e 515 milhões de anos.
  
Antiga moeda de 100 pesetas sobre rastos de arqueociatos
  A descoberta destes fósseis não é nova, mas é praticamente desconhecida fora dos círculos científicos. A existência da jazida foi dada a conhecer em um estudo dos geólogos Thilo Bechstädt e A. Russo publicado na Revista de la Sociedad Geológica de España em 1994. O castelo de Carbedo é mencionado erroneamente neste estudo como Carredo. Este não é o único lugar da serra onde os pesquisadores acharam pegadas biológicas dessa fase do Paleozoico. O trabalho de Bechstädt e Russo apresenta os resultados de uma investigação realizada na zona situada entre as localidades de Visunha e Pedrafita do Courel, onde aflora a chamada Formação Vegadeo, um vasto conjunto de rochas calcárias e dolomíticas que foi identificado pela primeira vez pelo geólogo francês Charles Barrois no século XIX. Os autores do estudo também descobriram fósseis do mesmo tipo perto das aldeias de Moreda e Visunha.

Alguns tipos de arqueociatos (Wikimedia Commons)
Os fósseis encontrados nestes lugares não são muito reconhecíveis à primeira vista, já que eles não têm conchas, pinças ou outras estruturas que permitam distingui-los com facilidade. Alguns deles são arqueociatos, uns pequenos animais de forma cónica ou cilindro-cónica e vários centímetros de comprimento que alguns cientistas incluem na família dos poríferos ou esponjas, enquanto para outros constituem um grupo separado. Estas criaturas estavam presentes em grande parte do planeta e seus fósseis foram localizados em todos os continentes. Apesar dessa expansão, já estavam extintos no Cambriano Médio, entre dez e quinze milhões de anos depois de terem aparecido.
    Os outros fósseis presentes na jazida pertencem ao grupo dos calcimicróbios, uns organismos microscópicos que se agrupavam em grandes colônias, formando os recifes de coral mais antigos que se conhecem. Tal como acontece na Serra do Courel, os arqueociatos e os calcimicróbios aparecem normalmente associados nos depósitos fossilíferos dessa época. Tudo indica que esses organismos viviam em plataformas de águas rasas —charcas ou lagoas— localizadas nas margens continentais. Os arqueociatos são de particular interesse para os cientistas porque eles experimentaram grandes transformações evolutivas —o que ajuda a reconhecer as diferentes fases bioclimáticas que ocorreram durante esse período geológico— e seus fósseis são muito úteis para determinar onde estavam os limites dos antigos continentes  e mares. Sua presença no castelo de Carbedo indica que, embora este lugar fique agora a 930 metros acima do nível do mar, as rochas em que assenta se formaram nas margens do oceano. Durante o Cambriano Inferior, grande parte das terras emergidas estavam agrupadas no supercontinente Gondwana. Os terrenos que atualmente constituem a Serra do Courel estavam no extremo norte dessa antiga massa continental.
   
Sinclinal do Courel (Foto Alberto López)
 Os fósseis de Carbedo pertencem a uma época muito mais antiga que aquela que viu nascer o monumento geológico mais conhecido e espetacular da Serra dol Courel, o grande sinclinal de Campodola-Leixazós. Esta estrutura configurou-se durante o Carbonífero, há entre 324 e 305 milhões de anos. Os quartzitos e as ardósias que o compõem datam do Ordoviciano (488-468 milhões de anos). Nas primeiras fases do Cámbrico, o período que precedeu ao Ordoviciano, produziu-se a grande explosão biológica, isto é, a rápida aparição —em termos de tempo geológico— de uma enorme quantidade de organismos multicelulares complexos. Ainda não se encontrou uma explicação unificada para esta multiplicação das espécies, que mudou a história da evolução.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sinclinal da Serra do Courel, um monumento geológico de 305 milhões de anos na Galiza


O sinclinal visto da estrada de Quiroga a Folgoso (Foto Alberto López)
A Serra do Courel, um dos espaços naturais mais importantes da Galiza (embora com graves problemas de conservação), possui um património geológico de excecional interesse. Neste território montanhoso de pouco mais de 21.000 hetáreas de extensão, pertencente às serras orientais da Galiza, concentra-se a terça parte das paragens galegas incluídas na lista Global Geosites, um inventário de locais geológicos de relevância mundial elaborado pela União Internacional das Ciências Geológicas. Dentro deste património ocupa um lugar proeminente o sinclinal do Courel, também chamado sinclinal de Campodola-Leixazós. 

A Serra do Courel no mapa de Domingo Fontán (1845)
   O sinclinal do Courel figura entre os grandes monumentos geológicos da Península Ibérica, mas não foi reconhecido como tal até tempos recentes. Em 1983, o Instituto Geológico e Mineiro de Espanha promoveu a sua classificação como ponto de interesse geológico internacional e em maio de 2012 a Junta da Galiza aprovou a sua declaração como monumento natural. Constitui um exemplo típico do que se conhece como dobra deitada ou recumbente. É uma dobra cuja concavidade esteve inicialmente voltada para cima mas que por efeito das forças tectônicas se foi inclinando até adotar uma posição mais ou menos horizontal.
 
Vista da dobra no miradouro de Campodola (Foto Alberto López)
A estrutura geológica emerge entre os quilómetros 7 e 28 da estrada LU-651, do norte da vila de  Quiroga até a aldeia de Ferreirós de Abaixo, no concelho de Folgoso do Courel. A seção mais espetacular da dobra acha-se à altura do quilómetro 9 da dita estrada, no vale do rio Ferreirinho (em território do concelho de Quiroga), sobranceando as aldeias de Campodola e Leixazós. Nesse local encontra-se a charneira, o ponto de máxima curvatura da dobra. A erosão cortou longitudinalmente o cordão montanhoso e deixou ao descoberto a estrutura interna do sinclinal, que se enxerga aqui con uma precisão incomum. Os flancos ou metades paralelas da estrutura estendem-se para o norte ao longo de entre dez e doze quilómetros.  

Sinclinal do Courel e anticlinal do Piornal (Univ. de Oviedo)
   Por cima desta formação existiu uma outra dobra de similar tamanho, orientada em direção inversa: o anticlinal do Piornal, cujo flanco superior foi arrasado quase completamente pela erosão, mas do qual ficam pegadas ao sul desta paragem, na comarca de Valdeorras. Em realidade, o sinclinal do Courel é apenas a porção  mais visível de uma grande estrutura de mais de cem quilômetros de longitude que chega até mais a leste do alto do Morredero, nos Montes Aquilanos (na província de Leão, já fora da Galiza).

História geológica da Galiza (Museu de Geologia de Quiroga)
Uma longa investigação realizada em tempos recentes por geólogos e matemáticos do grupo  de análise de dobras geológicas da Universidade de Oviedo indica que o sinclinal do Courel se formou no período Carbonífero, há entre 324 e 305 milhões de anos. Este processo desenvolveu-se durante a primeira fase da orogenia varisca ou hercínica e desde então o sinclinal permaneceu praticamente inalterado na mesma posição em que se encontra hoje. Os movimentos da crusta terrestre que originaram a grande dobra estão associados à colisão de duas antigas massas continentais, Gondwana e Euramérica (ou Laurussia), que acabariam por se unir para formar o supercontinente Pangeia. Foi nessa época que emergeu do oceano o Maciço Hespérico, o território mais antigo da Península Ibérica. Por esta razão, o geólogo Juan Ramón Vidal Romaní tem proposto que o sinclinal seja considerado como um testemunho genuíno do nascimento da Galiza.
   
Estratos rochosos do sinclinal (Foto Alberto López)
As diferentes camadas de rochas que constituem a dobra na sua parte mais visível (ardósia e quartzito, mais exatamente quartzito armoricano) formaram-se em épocas mais remotas, em diversas fases do Ordoviciano. Os quartzitos datam do Ordoviciano Inferior (488-478 milhões de anos) e as ardósias, do Ordoviciano Médio (471-468 milhões de anos). A grande dureza dos quartzitos não impediu que os movimentos tectônicos comprimissem e dobrassem os estratos rochosos como se fossem pacotes de plasticina.
  
Formação de dobras

A enorme pressão que sofreram as massas rochosas nesse lento processo fez com que aquecessem a mais de 300 graus centígrados, adquirindo uma considerável elasticidade. As rochas que conformam a zona norte da dobra pertencem a outros períodos geológicos mais recentes: o Siluriano (443-416 milhões de anos) e o Devoniano (416-359 milhões de anos). Estudos realizados pelo geólogo José Ramón Martínez Catalán e outros investigadores sugirem que a formação destas dobras foi condicionada pela existência de falhas que estiveram ativas nesta parte da crusta terrestre durante o Ordoviciano.


Conodonte do período Siluriano achado no sinclinal
  As rochas que conformam o sinclinal, aliás, contêm rastos biológicos da Era Paleozoica. O geólogo e paleontólogo Juan Carlos Gutiérrez-Marco descobriu na zona fósseis de conodontes e outras espécies do Siluriano, algumas delas não identificadas até então. Trata-se obviamente de fauna marinha, a única existente nessa era geológica, quando os terrenos que hoje constituem as montanhas do leste da Galiza faziam parte da plataforma continental de Gondwana, no hemisfério sul.

Bosquejo do sinclinal (margem direita do rio Ferreirinho) realizado por Matte
Os primeiros cientistas que descreveram esta formação foram o alemão  Wynfrith Riemer e o francês Philippe Matte, quem foi assesorado e apoiado nas suas pesquisas pelo geólogo galego Isidro Parga Pondal.  Matte incluiu alguns desenhos do sinclinal em um estudo publicado em 1968 e comparou esta estrutura con as dobras deitadas dos Alpes Valaisanos, no sul da Suíça. Formações deste tipo vêem-se também na cordilheira dos Pireneus e em outras partes do mundo, mas muito raramente apresentan um tamanho comparável ao do sinclinal do Courel, podendo ao mesmo tempo ser percebidas com tanta nitidez.

Área declarada monumento natural

 
Zona de proteção
A área declarada monumento natural, de arredor de noventa hetáreas de extensão, situa-se na margem esquerda do rio Ferreirinho, em uma zona conhecida como Penas das Franzas e Pena Falcoeira. Mas a formação geológica também se avista na margem esquerda do vale fluvial, no monte chamado Penas dos Conventos (ou Recoxois), por onde corre a estrada de Quiroga a Folgoso do Courel. O fato de a zona de proteção não se ter estendido a essa parte da dobra (que não é visível da estrada) tem provocado alguns protestos públicos.





Miradouro geológico de Campodola (Foto Alberto López)
Miradouro de Campodola
Para facilitar a observação do sinclinal e para o valorizar como atração turística e como recurso educacional, a câmara municipal de Quiroga construiu em 2004 un miradouro à altura do quilómetro 9,5 da estrada LU-651, perto de um desvio que leva à aldeia de Campodola. É o primeiro miradouro da Galiza construído expressamente para observar um monumento geológico e permite contemplar a dobra em uma vista panorâmica de mais de dois quilómetros de extensão. As rochas de tons  mais claros são quartzitos. Os estratos mais escuros e cobertos de vegetação são consituídos de arenitos e ardósias. O miradouro foi construído com arenitos e quartzitos do período Cambriano. 

Museu geológico
O museu municipal de geologia e paleontologia de Quiroga, inaugurado en 2011, reserva uma das suas seções ao sinclinal do Courel. Outras salas do museu dedicam-se às pegadas geológicas da última glaciação, à fauna do Quaternário, aos povoamentos paleolíticos e à atividade mineira desenvolvida neste território desde os tempos do Império Romano.

Rota de pedestrianismo
Uma rota pedestre que une as aldeias de Leixazós, Campodola e Campos de Vila corre mesmo ao pé da parte mais espetacular da grande dobra.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Próxima abertura do museu de geologia e paleontologia de Quiroga (Galiza)

Sinclinal de Campodola, perto do novo museu
  
    Para o 2 de dezembro está prevista a inauguração do primeiro museu da Galiza dedicado de forma exclussiva à geologia e à paleontologia. Está ubicado no concelho de Quiroga (província de Lugo) e foi criado com o assessoramento científico do Instituto Universitário de Geologia da Corunha. O novo museu encontra-se nas proximidades da Serra do Courel e do sinclinal de Campodola, considerado como uma das paragens de maior interesse geológico da Península Ibérica, que será declarado proximamente como monumento natural pela Junta de Galiza.
   
   O museu conta com varias secções, dedicadas respectivamente ao sinclinal de Campodola, às pegadas geológicas da Era Glacial (visíveis sobretudo no vale da Seara), à fauna do Quaternário, aos povoamentos paleolíticos e à importante actividade mineira desenvolvida nesta comarca desde os tempos do Império Romano. A nova instalação museística exibirá colecções de minerais e fósseis e mais adiante contará também com artefatos paleolíticos.

domingo, 30 de outubro de 2011

Decifram o ADN humano mais antigo da Galiza


Cientistas do Instituto Universitário de Geologia da Universidade da Corunha decifram o ADN dos mais antigos restos humanos encontrados até agora na Galiza. O fóssil, de entre 8.000 e 10.000 anos de idade, foi descoberto há dois anos na Cova do Uro (Serra do Courel). Os pesquisadores esperam que a análise genética desses restos, que continuará durante os próximos meses, permita obter dados de grande interesse sobre as antigas populações do noroeste da Península Ibérica e suas possíveis relações filogenéticas com outros grupos humanos que habitaram o continente durante a transição do Paleolítico ao Neolítico.

Fonte: La Voz de Galicia