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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Galaicodytes caurelensis, uma testemunha da deriva dos continentes na Serra do Courel (Galiza)

Galaicodytes caurelensis
Em 1997, o biólogo José María Salgado, professor da Universidade de Leão, descobriu um inseto de uma espécie desconhecida na Cova do Eixe, uma caverna cárstica da Serra do Courel. A nova espécie foi estudada e classificada com a colaboração de Vicente Ortuño, catedrático da Universidade Autônoma de Madrid e especialista em carábidos. A descoberta foi dada a conhecer em 2000 em um trabalho publicado pelo European Journal of Entomology. A espécie, denominada Galaicodytes caurelensis pelos seus descobridores, constitui também um novo gênero zoológico.
O Galaicodytes caurelensis é um coleóptero de entre 4,5 e 4,7 milímetros de comprimento, desprovido de olhos e de asas, que se orienta com as antenas e vive a maior parte do tempo nas fendas das rochas. Como a maioria dos cárabidos, é um predador que se alimenta de insetos vivos.

Pouco tempo atrás, o entomólogo alemão Thorsten Assmann descobrira na vizinha Serra dos Ancares uma espécie de coleóptero que denominou Galiciotyphlotes weberi, cuja descrição coincide com a do Galaicodytes caurelensis. Acredita-se que as duas descrições correspondem a um único inseto. Assman inclui esta espécie na tribo Perigonini, enquanto Salgado e Ortuño a classificaram na tribo Platynini. Porém, Assmann utilizou para a sua caraterização um único exemplar macho. Salgado e Ortuño estudaram três exemplares, machos e fêmeas, de modo que a sua descrição é mais completa. Outros especialistas consideram mais plausível a pertença da espécie à tribo Platynini, pois a distribuição geográfica dos Perigonini torna menos provável a sua presença de forma natural na Península Ibérica

Desenho do G. caurelensis por Xan G. Muras
O especial interesse científico do Galaicodytes caurelensis reside no seu caráter de espécie relicta e de testemunho vivente das antigas condições biogeográficas. É a única espécie cavernícola conhecida da tribo Platynini na região paleártica ocidental. As outras espécies desta tribo que vivem no subsolo foram descritas em áreas geográficas muito distantes: Japão, Taiwan, Papua-Nova Guiné, Havaí, sul dos Estados Unidos, México, Guatemala e Venezuela. Segundo Salgado e Ortuño, o Galaicodytes caurelensis apresenta mais afinidades morfológicas com as espécies norte-americanas dessa tribo —concretamente, as que pertencem aos gêneros Rhadine e Tanystoma— do que com as espécies da América do Sul e do Pacífico. Ao seu juízo, a espécie ibérica e os seus parentes longínquos da região neoártica procedem de um ancestro comum que se estendeu durante o Cretáceo Inferior pelos atuais territórios da América do Norte e a Europa. A presença deste inseto nas montanhas da Galiza, portanto, seria mais uma prova da deriva continental, indicando a existência de uma relação biológica direta entre a América do Norte e a Europa em tempos remotos. De acordo com esta hipótese, outras espécies do mesmo grupo que possivelmente viveram no atual território europeu extinguiram-se devido às mudanças climáticas de finais do Cenozoico e do Pleistoceno.

   O designer gráfico e fotógrafo Xan G. Muras criou um desenho inspirado nesta rara espécie para ser utilizado como símbolo do património natural da Serra do Courel, um dos territórios de maior biodiversidade da Galiza. Este emblema é comercializado em camisetas estampadas

  

sábado, 25 de maio de 2013

O dólio: um esquecido instrumento musical românico na Ribeira Sacra (Galiza)

Mísula da igreja de Atán (Foto : Alberto López)
A igreja de Santo Estevo de Atán, no concelho de Pantón, faz parte do vasto património românico da Ribeira Sacra. Pertenceu a um mosteiro desaparecido que já é mencionado em fontes documentais do século IX. Um desses documentos, datado do ano 816, contém a mais antiga referência conhecida sobre a viticultura na região. O edifício sofreu numerosas reformas e alterações, e da velha fábrica românica só restam o portal e um conjunto de mísulas esculpidas. Conserva também alguns elementos de origem pré-românica. Na fachada sul da igreja chama a atenção uma peculiar figura lavrada numa mísula, uma cabeça humana que parece estar a sorver vinho de uma pipa. Esculturas muito similares a esta podem ver-se em diversas igrejas românicas do norte da Península Ibérica. Essas figuras foram denominadas bebedores ou bêbedos e interpretadas como sátiras da embriaguez e da gula. Porém, segundo um estudo recente, tais esculturas não têm nenhuma intenção moralizadora. São representações reais de um antigo instrumento musical, um tipo de aerofone que deixou muito poucas pegadas históricas.


Dólio de Oloritz (Foto: Romanicoaragones.com)
O instrumento, totalmente desconhecido até há poucos anos, foi identificado pelo historiador e musicólogo Faustino Porras Robles, especialista em representações musicais na arte românica, quem publicou em 2007 um trabalho sobre este assunto na Revista de Folklore que edita a Fundação Joaquín Díaz. Porras Robles deu a este instrumento —cujo nome original se desconhece— a denominação de dólio, do latim dolium (pipa ou tonel). O pesquisador descarta a possibilidade de os objectos representados nestas esculturas serem cubas de vinho e frisa que em todos os casos estão situados por baixo da figura humana. «Se se tratasse de uma imagem carregada de conteúdo simbólico e finalidade moralizante, o tonel situar-se-ia sobre as costas do personagem para apresentá-lo como a pesada carga que deve suportar aquele que não domina as suas fraquezas», aponta. Por outro lado, indica que este «tonel» apresenta amiúde uma feição cilíndrica, mas em outros casos tem forma de elipse ou de prisma, e além disso aparece sempre representado com um grande bico —por onde supostamente «bebe» o personagem— que não desempenharia nenhuma função em um tonel real. Estas figuras, aliás, aparecem em certos lugares acompanhadas de outras que indubitavelmente representam músicos e dançarinos.
 
Interior da igreja de Atán (Foto: Carlos Rueda)
As representações iconográficas do dólio estão espalhadas por todo o norte da Península. No seu trabalho de 2007, Faustino Porras Robles  menciona as igrejas de Monasterio de Rodilla, Miñón, Escalada, Moarves de Ojeda (Castela e Leão), S. Romão de Lousada, Sta. Marinha de Esposende, S. Tomé de Serantes, Santiago de Bembrive, S. Martinho de Moanha, S. Pedro de Rebón, a freguesia de Santiago na cidade da Corunha e a catedral de Lugo (Galiza). Em um novo artigo publicado em fevereiro de 2013 alarga a listagem, indicando também a presença do instrumento em esculturas medievais de El Pla de Santa Maria (Catalunha), Artze, Oloritz, Vadoluengo (Navarra), Canales de la Sierra (La Rioja), Los Barrios de la Bureba, Navas de Bureba, Tablada de Villadiego, Vallejo de Mena, Villamayor de Treviño, Ventosilla (Castela e Leão), Santo Estevo de Atán e Santiago de Compostela (Galiza).

Organistrum (Wikimedia Commons)

Baseando-se na cronologia das representações plásticas do dólio, Porras Robles considera que o instrumento foi usado sobretudo na segunda metade do século XII, ainda que parece ter pervivido até à Baixa Idade Média. O exemplo mais tardio que se conhece é uma escultura da Casa Gótica de Santiago de Compostela, do século XIV. O investigador fez também uma estimação acerca do possível tamanho desses instrumentos, calculando que poderiam medir entre 45 e 50 centímetros os de maior volume (os mais frequentes) e arredor de 30 centímetros os mais pequenos. Analisando a iconografia, supõe que era um aerofone de tom grave e pouca variedade sonora, cuja função seria a de enriquecer melodias executadas com outros instrumentos, contribuindo para o desenvolvimento da polifonia que estava em auge nesse período histórico. Na maioria dos casos, o dólio aparece integrado em cenas jogralescas, com outros músicos que tocam instrumentos de corda e de sopro, com dançarinas, animais amestrados e contorcionistas, pelo que cabe inferir que foi utilizado principalmente em contextos populares. A causa provável da desaparição do dólio —acrescenta o autor do estudo— seria o desenvolvimento de outros instrumentos de técnica mais evoluída e com possibilidades protopolifónicas, como a gaita, o alboque ou o organistrum (predecessor da sanfona), que tornariam desnecessário o seu uso. 

domingo, 19 de maio de 2013

Batuko Tabanka, música de Cabo Verde feita na Galiza

Videoclipe de Brinca kumi, de Batuko Tabanka
Batuko Tabanka é um grupo musical formado por mulheres da comunidade de origem cabo-verdiana residente no concelho de Burela, no norte da Galiza. A partir da década de 1970, numerosos imigrantes vindos de Cabo Verde assentaram-se nesta vila, onde se encontra um dos mais importantes portos pesqueiros do mar Cantábrico, para trabalhar nas pescas. Dentro desta comunidade imigrada formou-se primeiramente a associação Tabanka, com o fim de conservar e dignificar a cultura tradicional do seu país de origem. No interior da associação surgiu depois o grupo musical, cujo nome reúne as denominações de dois gêneros tradicionais da música cabo-verdiana: o batuko (batuque, batuku ou batuk) e a tabanka, caraterísticos da ilha de Santiago.

Uma atuação de Batuko Tabanka em 2008
Com base na tradição musical do arquipélago, as integrantes do grupo compõem os seus próprios temas, cantados em crioulo cabo-verdiano, que aludem amiúde à sua vida quotidiana e à sua experiência como imigrantes. Cultivam um estilo muito diferente da morna que popularizou Cesária Évora, a intérprete cabo-verdiana mais conhecida mundialmente. Em dezembro de 2009 apareceu seu primeiro disco, Djunta mô (Juntemos as mãos), em que colaboram músicos de Cabo Verde, Galiza, Portugal, Brasil e a Estremadura espanhola.

sábado, 18 de maio de 2013

A literatura de Machado de Assis segundo Guerra da Cal : um grande projeto inconcluso

Machado de Assis
Há agora 55 anos, o escritor, filólogo e crítico literário galego Ernesto Guerra da Cal (1911-1994) anunciou pela primeira vez o seu projeto de consagrar um vasto estudo à obra de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), um dos maiores autores das letras brasileiras e um dos grandes vultos da literatura em língua portuguesa de todos os tempos. O anúncio teve uma importante repercussão, porquanto Guerra da Cal gozava na altura de um sólido prestígio intelectual. Seu livro Língua e estilo de Eça de Queirós (1954) contribuíra em grande medida para a revalorização e a difusão internacional da obra do grande romancista português, e encontrara larga acolhida nos meios culturais brasileiros, a começar por Gilberto Freyre: É um livro esse, do professor Da Cal, que nenhum devoto brasileiro do Eça e do
seu estilo, da sua expressão literária, deve deixar de ler
.
Sua obra de criação também foi bem considerada no Brasil. O grande poeta e crítico Manuel Bandeira elogiou o primero poemário de  Guerra da Cal, Lua de Além-Mar (1959). O projeto de dedicar a Machado de Assis um estudo semelhante ao que publicara sobre Eça de Queirós foi assim recebido com muito interesse e divulgado em diferentes meios de comunicação brasileiros, como o Jornal do Brasil, o Diário de Pernambuco, o Diário de Notícias da Bahia e o Jornal de Letras e o Correio da Manhã do Rio de Janeiro, entre outras publicações.

Ernesto Guerra da Cal em 1960
 Ernesto Guerra da Cal residia desde 1939 em Estados Unidos, onde se exilara depois de ter combatido no bando republicano na Guerra Civil Espanhola. Em 1945 adotou a cidadania estadunidense. Durante toda a sua vida foi um firme defensor do reintegracionismo, corrente que vindica a relação histórica e linguística da Galiza com o mundo lusófono. Desenvolveu um intenso labor académico como professor na Universidade de Nova Iorque, preocupando-se especialmente por difundir no âmbito norte-americano e anglófono as culturas e literaturas de expressão portuguesa.  Em agosto de 1959 foi nomeado doutor honoris causa da Universidade da Bahia pelo seu apoio à cultura do Brasil e participou nessa mesma cidade no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. Em 1960, pelo mesmo motivo, recebeu a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a Medalha Padre Anchieta e a designação de cidadão de honra da cidade do Rio de Janeiro.


Guerra da Cal recebendo o título de doutor honoris causa na Bahia em 1959
  Guerra da Cal, provavelmente por falta de tempo, nunca pôde levar a termo o seu grande estudo sobre  Machado de Assis. Porém, continuava a acalentar o projeto em 1970, época em que visitou a Universidade Federal do Rio de Janeiro para apresentar uma edição brasileira da sua obra sobre Eça de Queirós. Nessa altura qualificou o estilo machadiano como mais hermético e difícil de analisar e dissecar do que o estilo do romancista português. Em 1981 publicou em Portugal um ensaio sobre o conto de Machado de Assis Missa do Galo, onde afirmou que neste gênero literário ele atingiu a máxima altura nas modernas letras luso-brasileiras -e talvez nas universais.
     Um trabalho publicado em 2004 pelo filólogo, ensaísta e jornalista galego Joel R. Gômez reconstroi a história da relação de Ernesto Guerra da Cal com a cultura brasileira e do seu nunca realizado projeto sobre Machado de Assis. Um outro estudo mais recente, publicado em 2013 na Revista da Universidade Federal de Goiás, aprofunda na longa labuta de Da Cal como defensor e divulgador da cultura e dos interesses do Brasil em Estados Unidos.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Caverna de Valdavara (Becerreá, Galiza) : primeiro registo fóssil de Chioglossa lusitanica, uma salamandra endêmica do noroeste ibérico

Desenho da Chioglossa lusitanica publicado na primera descrição científica da espécie (Barbosa du Bocage, 1864)
 A caverna de Valdavara, no concelho de Becerreá (no leste da província de Lugo), tornou-se nos últimos anos um dos principais pontos de referência para o estudo da pré-história da Galiza. A existência de um sítio arqueológico nesta pequena gruta cárstica, localizada seiscentos metros acima do nível do mar, foi descoberta por finais da década de 1950 pelo pesquisador amador Carmelo Alonso. No entanto, as escavações sistemáticas só começaram no ano 2007, no âmbito do projeto Ocupações humanas durante o Pleistoceno na bacia média do Minho, em que colaboram cientistas das universidades de Santiago e Tarragona. Desde então encontraram-se na caverna abundantes vestígios de assentamentos humanos do Paleolítico Superior, do Mesolítico, do Neolítico e da Idade do Bronze

Ch. lusitanica - Foto Gustavo Rivas (La Voz de Galicia)
  Mas a jazida também contém um dos mais importantes depósitos de fósseis de microvertebrados da Galiza, onde foram identificadas dezenas de espécies de anfíbios, répteis, insetívoros, quirópteros e roedores. Dado que a fauna de pequeno tamanho é particularmente sensível às mudanças climáticas, este depósito fossilífero oferece um grande interesse para estudar as alterações do clima e do meio ambiente na transição do Pleistoceno ao Holoceno no noroeste da Península Ibérica. A jazida possui um especial valor, porque na Galiza é muito raro encontrar fósseis de qualquer época. A natureza ácida dos solos da maior parte do seu território (devido à presença abundante de granito) não permite a conservação dos vestígios biológicos antigos. Isto apenas é possível em algumas áreas de rocha calcária como as montanhas onde está localizada a caverna de Valdavara.
   Entre os achados realizados no local figuram os primeiros fósseis conhecidos da salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), um anfíbio urodelo endêmico cuja área de distribuição está  limitada ao norte de Portugal, Galiza, Astúrias e a extremidade ocidental da Cantábria. A espécie foi descrita pela primeira vez em 1864 pelo zoólogo português José Vicente Barbosa du Bocage. Os restos fósseis foram achados em um nível arqueológico que, conforme a datação radiométrica efetuada com o método do carbono-14, tem uma antiguidade de cerca de 4.500 anos.
   A salamandra-lusitânica, conhecida em galego como saramaganta ou píntega rabilonga, é o único representante vivo do género Chioglossa, ao qual também pertence a espécie extinta Chioglossa meini, conhecida por restos fósseis encontrados na França, na Alemanha, na Suíça, na Áustria e na República Checa. A presença deste anfíbio, muito sensível à poluição, é um importante indicador da qualidade ambiental das águas. A descoberta vai ajudar a reconstruir a história da propagação desta espécie no  território que ocupa atualmente e conhecer melhor a evolução do clima na área. Os pesquisadores acreditam que durante o último período glacial a Chioglossa lusitanica  sobreviveu em áreas de refúgio situadas em torno dos rios Douro e Mondego, em Portugal, expandindo-se depois para o norte à medida que o clima se tornava mais suave.

Escavação em Valdavara - Foto Alberto López (La Voz de Galicia)
 A análise dos fósseis de microvertebrados deste depósito foi divulgada em um artigo publicado na revista Geobios. O autor principal do trabalho, Juan Manuel López-García (pertencente ao Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social), nota que a investigação permitiu observar um aumento na diversidade de táxons de microvertebrados na Pré-história recente (cerca de 4.500 anos) em relação com o Magdaleniano (entre 13.000 e 15.000 anos). Segundo o pesquisador, esta circunstância está provavelmente relacionada com uma expansão da vegetação e uma melhoria geral do clima. Na Pré-história recente apareceram na região espécies como o musaranho-de-dentes-brancos (Crocidura russula) e o rato silvestre ruivo (Myodes glareolus), que estiveram ausentes durante o Magdaleniano,  o que é possivelmente devido à melhoria do clima que ocorreu no início do Holoceno, 11.700 anos atrás. No local também se encontraram os primeiros registos fósseis da Península Ibérica da rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi) e do fura-pastos (Chalcides striatus). Além disso, foi documentada pela primeira vez no noroeste peninsular a antiga presença do rato-de-cabrera (Microtus cabrerae) e do rato Micromys minutus, agora ausentes desta área geográfica.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Contos populares da Irlanda em tradução galega

Tris Tram, uma pequena editora com sede em Lugo (Galiza), publicou em 1999 Contos populares irlandeses, uma edição em galego das histórias tradicionais compiladas em 1892 por Joseph Jacobs em seu livro Celtic Fairy Tales
 O livro de Jacobs contém 26 contos recolhidos por vários folcloristas entre as populações de língua gaélica da Irlanda e da Escócia. O livro editado por Tris Tram contém catorze contos de origem irlandesa: Connla and the Fairy Maiden [Connla e a fada], Guleesh, The Field of Boliauns [A leira dos nabos], The Horned Women [As mulheres dos cornos], Hudden and Dudden and Donald O'Neary [Hudden, Dudden e Donald O'Neary], The Story of Deirdre [A história de Deirdre], Munachar and Manachar [Munachar e Manachar], King O'Toole and his Goose [O rei O'Toole e o seu ganso], Jack and his Comrades [Jack e os seus camaradas], The Shee An Gannon and the Gruagach Gaire [Shee An Gannon e Gruagach Gaire], A Legend of Knockmany [Uma lenda de Knockmany], Fair, Brown, and Trembling [Bela, parda e tremente], Jack ans his Master [Jack e o seu amo] e The Story-Teller at Fault [O contador de histórias ao que não lhe ocorria nada].  

Tram Tris também publicou em 1996 o livro Contos celtas, uma antologia de contos populares da Irlanda, da Escócia, do País de Gales, da Ilha de Man, da Ilha de Wight e da Bretanha. Este volume inclui os contos irlandeses Fior Usga e The Spirit Horse [O cavalo encantado], de Thomas Crofton Croker (do livro Fairy Legends and Traditions of the South of Ireland, 1825-27), e The Soul Cages [As gaiolas de almas], de Thomas Keightley (do livro The Fairy Mythology, 1850-1870).


Contos populares irlandeses. Joseph Jacobs. Tradução da Equipa Tris Tram (Editorial Tris Tram, Lugo 1999. ISBN: 84-89377-22-7)
Contos celtas. VV.AA. Tradução da Equipa Tris Tram (Editorial Tris Tram, Lugo 1996. ISBN: 84-89377-03-0)

terça-feira, 30 de abril de 2013

Fósseis da Era Paleozoica nas ruínas do castelo de Carbedo (Serra do Courel, Galiza)


Ruínas do castelo de Carbedo (Foto Roi Fernández)
 As ruínas do lendário castelo de Carbedo sempre foram um dos lugares mais emblemáticos e populares da Serra do Courel, no extremo leste da Galiza. Muito menos conhecido é o fato de que ao pé da antiga fortaleza —construída em algum momento incerto da Baixa Idade Média— se conservam testemunhos de épocas incomparavelmente mais velhas. As rochas em que se assenta o castelo contêm fósseis de pequenos animais que viveram no Cambriano Inferior, há entre 530 e 515 milhões de anos.
  
Antiga moeda de 100 pesetas sobre rastos de arqueociatos
  A descoberta destes fósseis não é nova, mas é praticamente desconhecida fora dos círculos científicos. A existência da jazida foi dada a conhecer em um estudo dos geólogos Thilo Bechstädt e A. Russo publicado na Revista de la Sociedad Geológica de España em 1994. O castelo de Carbedo é mencionado erroneamente neste estudo como Carredo. Este não é o único lugar da serra onde os pesquisadores acharam pegadas biológicas dessa fase do Paleozoico. O trabalho de Bechstädt e Russo apresenta os resultados de uma investigação realizada na zona situada entre as localidades de Visunha e Pedrafita do Courel, onde aflora a chamada Formação Vegadeo, um vasto conjunto de rochas calcárias e dolomíticas que foi identificado pela primeira vez pelo geólogo francês Charles Barrois no século XIX. Os autores do estudo também descobriram fósseis do mesmo tipo perto das aldeias de Moreda e Visunha.

Alguns tipos de arqueociatos (Wikimedia Commons)
Os fósseis encontrados nestes lugares não são muito reconhecíveis à primeira vista, já que eles não têm conchas, pinças ou outras estruturas que permitam distingui-los com facilidade. Alguns deles são arqueociatos, uns pequenos animais de forma cónica ou cilindro-cónica e vários centímetros de comprimento que alguns cientistas incluem na família dos poríferos ou esponjas, enquanto para outros constituem um grupo separado. Estas criaturas estavam presentes em grande parte do planeta e seus fósseis foram localizados em todos os continentes. Apesar dessa expansão, já estavam extintos no Cambriano Médio, entre dez e quinze milhões de anos depois de terem aparecido.
    Os outros fósseis presentes na jazida pertencem ao grupo dos calcimicróbios, uns organismos microscópicos que se agrupavam em grandes colônias, formando os recifes de coral mais antigos que se conhecem. Tal como acontece na Serra do Courel, os arqueociatos e os calcimicróbios aparecem normalmente associados nos depósitos fossilíferos dessa época. Tudo indica que esses organismos viviam em plataformas de águas rasas —charcas ou lagoas— localizadas nas margens continentais. Os arqueociatos são de particular interesse para os cientistas porque eles experimentaram grandes transformações evolutivas —o que ajuda a reconhecer as diferentes fases bioclimáticas que ocorreram durante esse período geológico— e seus fósseis são muito úteis para determinar onde estavam os limites dos antigos continentes  e mares. Sua presença no castelo de Carbedo indica que, embora este lugar fique agora a 930 metros acima do nível do mar, as rochas em que assenta se formaram nas margens do oceano. Durante o Cambriano Inferior, grande parte das terras emergidas estavam agrupadas no supercontinente Gondwana. Os terrenos que atualmente constituem a Serra do Courel estavam no extremo norte dessa antiga massa continental.
   
Sinclinal do Courel (Foto Alberto López)
 Os fósseis de Carbedo pertencem a uma época muito mais antiga que aquela que viu nascer o monumento geológico mais conhecido e espetacular da Serra dol Courel, o grande sinclinal de Campodola-Leixazós. Esta estrutura configurou-se durante o Carbonífero, há entre 324 e 305 milhões de anos. Os quartzitos e as ardósias que o compõem datam do Ordoviciano (488-468 milhões de anos). Nas primeiras fases do Cámbrico, o período que precedeu ao Ordoviciano, produziu-se a grande explosão biológica, isto é, a rápida aparição —em termos de tempo geológico— de uma enorme quantidade de organismos multicelulares complexos. Ainda não se encontrou uma explicação unificada para esta multiplicação das espécies, que mudou a história da evolução.


sábado, 27 de abril de 2013

Um guia das aves da Serra do Courel (Galiza)

Melro-das-rochas ou melro-ruivo (Monticola saxatilis)


Em 2004, a editora Lynx Edicions publicou o primeiro guia ornitológico da Serra do Courel, um dos territórios de maior biodiversidade da Galiza. A obra (disponível unicamente em espanhol) baseia-se em pesquisas realizadas por cientistas das universidades galegas ao longo de várias décadas e cataloga 114 espécies de aves em um território de dimensões relativamente pequenas. A Serra do Courel abrange uma superfície de 21.020 hetáreas que se estende principalmente pelos concelhos de Folgoso do Courel, Quiroga, Pedrafita do Cebreiro e Samos. Porém, o guia cinge-se basicamente ao primeiro destes municípios, com uma área de apenas 68,16 quilómetros quadrados. Este limitado espaço geográfico acolhe uma avifauna extremamente variada que compreende algumas espécies pouco comuns.





Sylvia communis
Motacilla cinerea

As aves da Serra do Courel vivem em nove tipos principais de habitat: 1) Rios e margens 2) Rochedos 3) Aldeias e terras de lavoura 4) Soutos (matas de castanheiros) 5) Devesas (nome local para um tipo caraterístico de bosque de montanha em que convivem diversas espécies de árvores) 6) Urzais 7) Reboleiras (matas de rebolo ou Quercus pyrenaica) 8) Azinhais e espinhais 9) Pinhais



Galinhola (Scolopax rusticola)

No território do Courel, que representa apenas um 0,8% da superfície total da Galiza, está presente a maior parte das aves galegas, excetuando as espécies marinhas e as próprias das zonas úmidas. Entre elas figuram várias espécies em perigo de extinção, como o bufo-real (Bubo bubo), a águia-real (Aquila chrysaetos) e a perdiz-cinzenta (Perdix perdix), denominada charrela na Galiza.


O livro, de 150 páginas, contém fichas descritivas de todas as espécies de aves catalogadas na Serra do Courel, com nomenclaturas em espanhol, galego e inglês e uma série de ilustrações à aquarela. A obra descreve também seis itinerários pedestres pelos locais mais apropriados para a observação das aves. 



O título original da obra é Guía de las aves de O Caurel. A grafia oficial do topônimo é Courel, mas a forma alternativa Caurel (hoje mais usual na língua falada) está também documentada desde antigo.





terça-feira, 23 de abril de 2013

«Flores e lenha», narrativa chinesa em língua galega

Capa da edição original de Flores e lenha

Temos que aceitar que a China é um mundo diferente, e cada dia sabe melhor que assim é quem dela se ocupa, mas não temos por que renunciar a perguntar-lhe o que à Humanidade lhe preocupa.

Com esta premissa, o escritor e tradutor Fernando Pérez-Barreiro Nolla deu ao prelo em 1982 o volume Flores e lenha, a primeira antologia de narrativa contemporânea chinesa publicada em língua galega. O livro recolhe contos de sete autores do século XX traduzidos diretamente do chinês: Lu Xun (鲁迅), Ba Jin (巴金), Lao She (舒庆春), Zhao Shuli (赵树理), Hao Ran (浩然 ), Lu Xinhua (吕新华) e Lu Jun Chao (陆俊超). O título da coletânea foi tirado de uma frase escrita por Mao Zedong em 1942: «A necessidade primordial não são mais flores no brocado mas lenha em meio da nevada». A obra não pretende apenas mostrar um panorama da literatura chinesa moderna. «A seleção dos autores responde a uma combinação de mérito literário e representatividade», diz a esse respeito o antólogo e tradutor. Os textos também foram escolhidos com o intuito de apresentar uma visão plural da  história recente da China através dos olhos dos seus escritores.


Cada uma das narrativas reunidas em Flores e lenha é precedida de um prefácio em que o autor da antologia apresenta uma breve biografia dos respetivos autores, uma introdução geral à sua obra e algumas considerações sobre o seu papel na literatura chinesa e a sua relação com os acontecimentos sociais e políticos da época em que viveram. O período histórico refletido neste conjunto de textos vai dos últimos anos do Império Chinês até o governo de Hua Guofeng, isto é, a própria época em que foi editada a antologia. O livro inclúi o célebre conto Cicatrizes, publicado por Lu Xinhua em 1978, que deu nome à chamada literatura das cicatrizes (伤痕文学), um gênero de ficção caraterizado por criticar abertamente as atrocidades cometidas durante a então muito recente Revolução Cultural. A antologia encerra-se com a que possivelmente é a primeira tradução para uma língua ocidental do conto de Lu Jun Chao Encontro em Antuérpia, aparecido em 1981.

Fernando Pérez-Barreiro Nolla (1931-2010)

 Fernando Pérez-Barreiro Nolla, nascido em Ferrol em 1931 e falecido em Lancaster (Reino Unido) em 2010, residiu durante grande parte da sua vida em Londres, onde trabalhou para os serviços exteriores da BBC. Conhecedor de uma dúzia de idiomas, tradutor de Shakespeare e Lewis Carroll para o galego, foi por um tempo o único cidadão espanhol com estudos superiores de língua e literatura chinesas. Cinco anos antes do seu passamento publicou Breviário do pensamento clássico chinês, uma antologia de textos de várias épocas a cuja introdução pertencem estas palavras:

Falou-se muito, há alguns anos, dos «valores confucianos» para explicar o êxito das práticas capitalistas dos países, então tão louvados, a que se chamavam «tigres asiáticos». Posso imaginar a surpresa dos pensadores chineses que encetaram os caminhos da modernização e do progresso por fins do século XIX e inícios do XX, se ouvissem defender como modernos e progressistas esses valores, alvo de suas demolidoras críticas. Libertar-se da herança confuciana era para eles o sine qua non do avanço, e mesmo da sobrevivência. Pode ser que exagerassem, mas o que eu quero salientar aqui é que eles reagiam contra a versão oficial da cultura chinesa. Os que hoje gabam os valores confucianos aceitam, no entanto, a versão de que esses valores são consubstanciais com a cultura do Império do Centro.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sinclinal da Serra do Courel, um monumento geológico de 305 milhões de anos na Galiza


O sinclinal visto da estrada de Quiroga a Folgoso (Foto Alberto López)
A Serra do Courel, um dos espaços naturais mais importantes da Galiza (embora com graves problemas de conservação), possui um património geológico de excecional interesse. Neste território montanhoso de pouco mais de 21.000 hetáreas de extensão, pertencente às serras orientais da Galiza, concentra-se a terça parte das paragens galegas incluídas na lista Global Geosites, um inventário de locais geológicos de relevância mundial elaborado pela União Internacional das Ciências Geológicas. Dentro deste património ocupa um lugar proeminente o sinclinal do Courel, também chamado sinclinal de Campodola-Leixazós. 

A Serra do Courel no mapa de Domingo Fontán (1845)
   O sinclinal do Courel figura entre os grandes monumentos geológicos da Península Ibérica, mas não foi reconhecido como tal até tempos recentes. Em 1983, o Instituto Geológico e Mineiro de Espanha promoveu a sua classificação como ponto de interesse geológico internacional e em maio de 2012 a Junta da Galiza aprovou a sua declaração como monumento natural. Constitui um exemplo típico do que se conhece como dobra deitada ou recumbente. É uma dobra cuja concavidade esteve inicialmente voltada para cima mas que por efeito das forças tectônicas se foi inclinando até adotar uma posição mais ou menos horizontal.
 
Vista da dobra no miradouro de Campodola (Foto Alberto López)
A estrutura geológica emerge entre os quilómetros 7 e 28 da estrada LU-651, do norte da vila de  Quiroga até a aldeia de Ferreirós de Abaixo, no concelho de Folgoso do Courel. A seção mais espetacular da dobra acha-se à altura do quilómetro 9 da dita estrada, no vale do rio Ferreirinho (em território do concelho de Quiroga), sobranceando as aldeias de Campodola e Leixazós. Nesse local encontra-se a charneira, o ponto de máxima curvatura da dobra. A erosão cortou longitudinalmente o cordão montanhoso e deixou ao descoberto a estrutura interna do sinclinal, que se enxerga aqui con uma precisão incomum. Os flancos ou metades paralelas da estrutura estendem-se para o norte ao longo de entre dez e doze quilómetros.  

Sinclinal do Courel e anticlinal do Piornal (Univ. de Oviedo)
   Por cima desta formação existiu uma outra dobra de similar tamanho, orientada em direção inversa: o anticlinal do Piornal, cujo flanco superior foi arrasado quase completamente pela erosão, mas do qual ficam pegadas ao sul desta paragem, na comarca de Valdeorras. Em realidade, o sinclinal do Courel é apenas a porção  mais visível de uma grande estrutura de mais de cem quilômetros de longitude que chega até mais a leste do alto do Morredero, nos Montes Aquilanos (na província de Leão, já fora da Galiza).

História geológica da Galiza (Museu de Geologia de Quiroga)
Uma longa investigação realizada em tempos recentes por geólogos e matemáticos do grupo  de análise de dobras geológicas da Universidade de Oviedo indica que o sinclinal do Courel se formou no período Carbonífero, há entre 324 e 305 milhões de anos. Este processo desenvolveu-se durante a primeira fase da orogenia varisca ou hercínica e desde então o sinclinal permaneceu praticamente inalterado na mesma posição em que se encontra hoje. Os movimentos da crusta terrestre que originaram a grande dobra estão associados à colisão de duas antigas massas continentais, Gondwana e Euramérica (ou Laurussia), que acabariam por se unir para formar o supercontinente Pangeia. Foi nessa época que emergeu do oceano o Maciço Hespérico, o território mais antigo da Península Ibérica. Por esta razão, o geólogo Juan Ramón Vidal Romaní tem proposto que o sinclinal seja considerado como um testemunho genuíno do nascimento da Galiza.
   
Estratos rochosos do sinclinal (Foto Alberto López)
As diferentes camadas de rochas que constituem a dobra na sua parte mais visível (ardósia e quartzito, mais exatamente quartzito armoricano) formaram-se em épocas mais remotas, em diversas fases do Ordoviciano. Os quartzitos datam do Ordoviciano Inferior (488-478 milhões de anos) e as ardósias, do Ordoviciano Médio (471-468 milhões de anos). A grande dureza dos quartzitos não impediu que os movimentos tectônicos comprimissem e dobrassem os estratos rochosos como se fossem pacotes de plasticina.
  
Formação de dobras

A enorme pressão que sofreram as massas rochosas nesse lento processo fez com que aquecessem a mais de 300 graus centígrados, adquirindo uma considerável elasticidade. As rochas que conformam a zona norte da dobra pertencem a outros períodos geológicos mais recentes: o Siluriano (443-416 milhões de anos) e o Devoniano (416-359 milhões de anos). Estudos realizados pelo geólogo José Ramón Martínez Catalán e outros investigadores sugirem que a formação destas dobras foi condicionada pela existência de falhas que estiveram ativas nesta parte da crusta terrestre durante o Ordoviciano.


Conodonte do período Siluriano achado no sinclinal
  As rochas que conformam o sinclinal, aliás, contêm rastos biológicos da Era Paleozoica. O geólogo e paleontólogo Juan Carlos Gutiérrez-Marco descobriu na zona fósseis de conodontes e outras espécies do Siluriano, algumas delas não identificadas até então. Trata-se obviamente de fauna marinha, a única existente nessa era geológica, quando os terrenos que hoje constituem as montanhas do leste da Galiza faziam parte da plataforma continental de Gondwana, no hemisfério sul.

Bosquejo do sinclinal (margem direita do rio Ferreirinho) realizado por Matte
Os primeiros cientistas que descreveram esta formação foram o alemão  Wynfrith Riemer e o francês Philippe Matte, quem foi assesorado e apoiado nas suas pesquisas pelo geólogo galego Isidro Parga Pondal.  Matte incluiu alguns desenhos do sinclinal em um estudo publicado em 1968 e comparou esta estrutura con as dobras deitadas dos Alpes Valaisanos, no sul da Suíça. Formações deste tipo vêem-se também na cordilheira dos Pireneus e em outras partes do mundo, mas muito raramente apresentan um tamanho comparável ao do sinclinal do Courel, podendo ao mesmo tempo ser percebidas com tanta nitidez.

Área declarada monumento natural

 
Zona de proteção
A área declarada monumento natural, de arredor de noventa hetáreas de extensão, situa-se na margem esquerda do rio Ferreirinho, em uma zona conhecida como Penas das Franzas e Pena Falcoeira. Mas a formação geológica também se avista na margem esquerda do vale fluvial, no monte chamado Penas dos Conventos (ou Recoxois), por onde corre a estrada de Quiroga a Folgoso do Courel. O fato de a zona de proteção não se ter estendido a essa parte da dobra (que não é visível da estrada) tem provocado alguns protestos públicos.





Miradouro geológico de Campodola (Foto Alberto López)
Miradouro de Campodola
Para facilitar a observação do sinclinal e para o valorizar como atração turística e como recurso educacional, a câmara municipal de Quiroga construiu em 2004 un miradouro à altura do quilómetro 9,5 da estrada LU-651, perto de um desvio que leva à aldeia de Campodola. É o primeiro miradouro da Galiza construído expressamente para observar um monumento geológico e permite contemplar a dobra em uma vista panorâmica de mais de dois quilómetros de extensão. As rochas de tons  mais claros são quartzitos. Os estratos mais escuros e cobertos de vegetação são consituídos de arenitos e ardósias. O miradouro foi construído com arenitos e quartzitos do período Cambriano. 

Museu geológico
O museu municipal de geologia e paleontologia de Quiroga, inaugurado en 2011, reserva uma das suas seções ao sinclinal do Courel. Outras salas do museu dedicam-se às pegadas geológicas da última glaciação, à fauna do Quaternário, aos povoamentos paleolíticos e à atividade mineira desenvolvida neste território desde os tempos do Império Romano.

Rota de pedestrianismo
Uma rota pedestre que une as aldeias de Leixazós, Campodola e Campos de Vila corre mesmo ao pé da parte mais espetacular da grande dobra.