Em 23 de novembro de 2012 veio ao
mundo Clara, o primeiro bebê nascido na aldeia de Froxán (Serra do Courel,
Galiza) em 28 anos. Por esses dias começou a rodagem de Tempo, um documentário
do fotógrafo e realizador audiovisual Manuel Valcárcel que continuará a ser filmado
durante os próximos meses. O primeiro ano de vida da criança é o fio condutor
do filme, que pretende recolher tudo quanto vai acontecendo no seu entorno mais próximo. O processo de produção poderia concluir no verão de 2014. Mas
uma parte do trabalho feito até agora pode ser vista no site
www.tempodocumental.com, inaugurado em 7 de março. O que se oferece no
site é um teaser que condensa as imagens gravadas durante o primeiro trimestre
de filmagem. Nos próximos meses irão sendo publicados outros resumos à medida
que o projecto for avançando.
Segundo o diretor, o eixo argumental de Tempo é o contraste entre a vida e a morte: «De um lado está a menina,
que representa a vida que começa e que é como um símbolo de esperança e de
futuro, e do outro lado está a parte da morte, ou seja, o envelhecimento e a
despopulação do mundo rural e a degradação ambiental que sofre este território».
E como testemunha de todos estes processos, o mundo natural da Serra do
Courel, que ocupará um importante espaço na história.
Valcárcel aponta por outro lado
que o documentário não conterá explicações nem entrevistas, pois pretende que
as imagens falem por si mesmas: «Não quis fazer uma denúncia direta dos
problemas do mundo rural, mas mostrar as pessoas na a sua vida cotidiana e o
mundo em que vivem, sem acrescentar nenhum comentário da nossa parte. Haverá
conversas, mas serão as que mantêm os moradores entre si, as conversas que se
podem ouvir num dia qualquer».
O diretor do filme espera que
Tempo seja compreensível para espectadores de qualquer país e qualquer ambiente
cultural, «porque o que se vai ver são coisas que acontecem em todo o
mundo, embora a paisagem e alguns detalhes sejam diferentes». Tal como foi concebido o
projeto, o processo de filmagem dependerá muito do que for acontecendo nos
próximos meses neste território, pois os autores querem refletir tudo quanto
condiciona a vida diária de seus habitantes. «Já temos previsto rodar
algumas coisas, mas outras são totalmente fortuítas e não dependem de nós, como
as nevadas, que neste inverno foram muito intensas na serra», diz
Valcarce. Ou como o temporal Gong, que em janeiro passado provocou um desabamento de terras e cortou durante quase 24 horas a principal estrada do Courel, um
episódio que também aparecerá no filme.
A captura de imagens é feita com uma câmera reflex digital. Na filmagem utiliza-se também um ortocóptero fornecido pela empresa Aeromedia que recolhe a vista de pássaro as espetaculares paisagens do Courel. Os autores recorrem ao time-lapse para mostrar as mudanças que experimenta o meio natural da serra ao longo das estações e servem-se com frequência do travelling para acentuar a sensação de movimento e conseguir que «as paisagens não sejam uma coleção de fotografias». A equipe técnica reduz-se ao próprio diretor, a assistente de direção Sara Álvarez, o ténico de som Alejandro García e Alejandro González, que compõe a trilha sonora, mas contam com o apoio de diversos parceiros.
Publicado originalmente em La Voz de Galicia, 7 de março de 2013