terça-feira, 4 de junho de 2013

Cova Eirós, a pegada mais profunda do homem de Neandertal na Galiza

Escavações na jazida de Cova Eirós (Foto: GEPN / IPHES)

No verão boreal de 2008 foi descoberto no sítio paleolítico de Cova Eirós (no concelho de Triacastela, perto do Caminho de Santiago) o rasto mais importante do homem de Neandertal conhecido até agora na Galiza. Não é esta a primeira jazida do Paleolítico Médio achada no noroeste da Península Ibérica. Anteriormente já foram descobertas algumas indústrias líticas desse período nos concelhos de Cortegada, Toén e Monforte de Lemos. Porém, Cova Eirós apresenta um interesse científico muito maior do que esses outros locais. É a única jazida neandertal galega situada em uma caverna cárstica e contém não só um grande número de artefatos de pedra de várias épocas, como também muitos fósseis de animais e outros restos orgânicos que podem fornecer abundantes informações sobre a tecnologia, os métodos de aprovisionamento e as mudanças climáticas e ambientais da pré-história remota. Também é o único sítio paleolítico do noroeste ibérico onde se conservam pegadas de ocupações dos neandertais e do Homo sapiens moderno, o qual permite comparar as estratégias de sobrevivência e os estilos de vida dessas duas espécies humanas em um mesmo território.

Recriação dos neandertais de Cova Eirós por Xurxo Constela
Em escavações sucessivas realizadas desde então na caverna —no quadro do projeto Ocupações humanas durante o Pleistoceno da bacia média do Minho, em que  colaboram pesquisadores das universidades de Santiago de Compostela e Tarragona— apareceram dois níveis arqueológicos correspondentes a duas épocas diferentes do  Paleolítico Médio, que foram datados com a técnica da termoluminescência do quartzo. Um desses níveis tem entre 84.000 e 87.000 anos. O outro nível, mais profundo, foi datado de 118.000 anos, o que o coloca entre os mais antigos assentamentos do homem de Neandertal registados no norte da península, embora seja muito mais recente do que o da caverna de Letzetxiki, no País Basco, cuja antiguidade remonta a cerca de 300.000 anos.

Ponta de quartzito de tipo Levallois (Foto: GEPN / IPHES)
Nestes dois níveis arqueológicos foram encontrados numerosos artefatos de tecnologia musteriense, a mais caraterística do homem de Neandertal. Um estudo sobre as indústrias do nível mais recente, publicado em 2011 na revista Trabajos de Prehistoria, identificou pontas de projétil utilizadas como armas de caça e diferentes tipos de ferramentas empregadas para despedaçar  animais, cortar e talhar madeira e preparar peles secas para a confecção de vestimentas. As ferramentas do nível mais antigo têm uma feição mais tosca e entre elas há um número muito menor de peças elaboradas com as técnicas Levallois e discoidal, as mais sofisticadas que desenvolveram os neandertais. Os materiais também são de qualidade inferior, com menos presença de quartzitos de granulação fina e abundância de peças grossas de quartzo. Segundo os arqueólogos, isso pode indicar um nível tecnológico menos desenvolvido, mas também pode ser devido a que os grupos que fabricaram tais ferramentas ocuparam a caverna durante períodos mais curtos, gastando menos tempo em procurar materiais de boa qualidade e em fabricar utensílios líticos. Os ocupantes do nível mais recente, pelo contrário, teriam morado no abrigo por longos períodos, seguindo uma estratégia de sobrevivência em longo prazo e dedicando mais tempo à busca de matérias-primas e ao fabrico de utensílios.

Lasca de quartzo de Cova Eirós (Foto: Alberto López - La Voz de Galicia)
Um traço que diferencia as indústrias de Cova Eirós de outros assentamentos neandertais da vizinha Cordilheira Cantábrica é o uso freqüente de quartzo para produzir ferramentas líticas. Nos depósitos da área cantábrica é muito menos comum encontrar peças feitas com essa matéria-prima, mais difícil de talhar do que o sílex e o quartzito, pois o quartzo quebra-se de um modo mais irregular. O uso deste material indica uma adaptação às condições ambientais da região, onde abunda o quartzo, enquanto o sílex não é encontrado de forma natural. Essa particularidade técnica também tem sido observada em certos assentamentos neandertais da região francesa de Midi-Pirineus, onde escasseia o sílex e onde o quartzo foi frequentemente utilizado no fabrico de ferramentas de pedra.
  Nos níveis arqueológicos do Paleolítico Médio de Cova Eirós, juntamente com uma grande quantidade de ossos de animais de várias espécies, apareceram restos carbonizados de materiais vegetais. Os arqueólogos tentam atualmente averiguar se esses resíduos orgânicos são vestígios de fogueiras.

Pingente gravetiano de Cova Eirós (Foto: GEPN / IPHES)
Em Cova Eirós descobriram-se também importantes vestígios de ocupações do Paleolítico Superior. Entre eles figuram as primeiras mostras de indústrias da cultura aurignaciana registadas na Galiza. Nas escavações realizadas em 2009 apareceu o objeto de adorno mais antigo conhecido até hoje no noroeste ibérico. Trata-se de um colmilho de um carnívoro de pequeno porte —provavelmente uma raposa-vermelha— talhado e perfurado para servir como pingente. As datações com carbono-14 atribuíram uma antiguidade de 26.000 anos a esta peça, enquadrada na cultura gravetiana,  assim como outros artefatos descobertos no mesmo nível. Estas são também as primeiras indústrias desse período cultural encontradas na Galiza. A cultura gravetense desenvolveu-se durante uma das fases mais frias da última glaciação. A caverna fica a uma altura de 780 metros acima do nível do mar, perto do límite das geleiras que cobriam nessa época as zonas mais altas das serras orientais galegas. O achado indica que, mesmo nesse periodo de frio extremo, a região ofereceu umas condições ambientais suportáveis para os grupos humanos. Até aí, a ausência de jazidas dessa época fizera supor que o território galego ficara na altura totalmente desabitado.

Uma das pinturas rupestres achadas na galeria interior (Foto: GEPN / IPHES)
Em agosto de 2012, aliás, foi dado a conhecer o achado em Cova Eirós das primeiras mostras de arte parietal paleolítico descobertas na Galiza, um conjunto de pinturas e gravuras localizado em uma galeria interior da caverna. Segundo as estimações dos pesquisadores, algumas dessas manifestações artísticas poderiam situar-se entre os períodos Gravetense e Solutrense —com uma antiguidade aproximada de entre 25.000 e 20.000 anos—, enquanto as outras datariam do período Magdaleniano e poderiam ter entre 15.000 e 10.000 anos.

Escavações na galeria exterior (Foto: Alberto López - La Voz de Galicia)
 Em conjunto, a jazida de Cova Eirós contem a sequência mais completa de assentamentos paleolíticos de diferentes épocas  documentada até agora no noroeste da penísula. Os arqueólogos supõem que a caverna pode conservar também testemunhos de épocas anteriores ao homem de Neandertal. Uma sondagem com georradar indicou que os sedimentos que conformam o solo da cavidade têm uma profundidade de cerca de três metros. As escavaçoes só atingiram até à data uma profundidade de metro e meio e não se sabe ainda o que pode haver nos níveis mais profundos do subsolo. Na atualidade está em processo de produção o primeiro documentário sobre os achados arqueológicos realizados nesta caverna.

domingo, 2 de junho de 2013

Cova Eirós, el rastro más profundo del hombre de Neandertal en Galicia

Excavaciones en el yacimiento de Cova Eirós (Foto: GEPN / IPHES)
En el verano boreal de 2008 fue descubierto en el yacimiento paleolítico de Cova Eirós (en el municipio de Triacastela, cerca del Camino de Santiago) el rastro más importante del hombre de Neandertal conocido hasta ahora en Galicia. No es el primer yacimiento del Paleolítico Medio encontrado en el noroeste de la Península Ibérica. Con anterioridad ya se habían localizado algunas industrias líticas de ese periodo en los municipios de Cortegada, Toén y Monforte de Lemos. Pero Cova Eirós ofrece un interés científico mucho mayor que el de estos otros lugares. Es el único yacimiento neandertal gallego situado en una cueva cárstica y contiene no solo un gran número de artefactos líticos de diversas épocas, sino también muchos fósiles de animales y otros vestigios orgánicos, con lo que puede proporcionar abundantes informaciones sobre la evolución tecnológica, los tipos de alimentación y los cambios climáticos y ambientales de la prehistoria remota. Es además el único yacimiento paleolítico del noroeste ibérico que conserva a la vez huellas de las ocupaciones del hombre de Neandertal y del Homo sapiens moderno, lo que permite comparar las estrategias de supervivencia y los modos de vida de estas dos especies humanas en un mismo territorio.

Recreación de los neandertales de Cova Eirós por Xurxo Constela
En las sucesivas excavaciones realizadas desde entonces en la gruta —dentro del proyecto Ocupaciones humanas durante el Pleistoceno de la cuenca media del Miño, en el que colaboran investigadores de las universidades de Santiago de Compostela y Tarragona— se han podido datar dos niveles arqueológicos correspondientes a distintas épocas del Paleolítico Medio utilizando la técnica de la termoluminiscencia del cuarzo. Uno de ellos tiene entre 84.000 y 87.000 años. El otro nivel, más profundo, fue datado en 118.000 años, lo que lo sitúa entre los poblamientos neandertales más antiguos registrados en el norte de la península, aun siendo mucho más reciente que el de la cueva de Letzetxiki, en el País Vasco, cuya antigüedad se remonta a unos 300.000 años.

Punta de cuarcita de tipo Levallois (Foto: GEPN / IPHES)
En estos dos niveles arqueológicos se hallaron numerosos artefactos de tecnología musteriense, característica del hombre de Neandertal. Un estudio sobre las industrias del más reciente de estos niveles, publicado en 2011 en la revista Trabajos de Prehistoria, identificó puntas de proyectil usadas como armas de caza y diversas clases de herramientas utilizadas para despiezar animales, cortar y tallar madera y preparar pieles secas para confeccionar vestimentas. 
Las herramientas del nivel más antiguo presentan una factura más tosca y entre ellas hay un número mucho más reducido de piezas fabricadas con las técnicas Levallois y discoidal, las más sofisticadas que produjo el hombre de Neandertal. Los materiales también son de peor calidad, con una menor presencia de cuarcitas de grano fino y más abundancia de piezas gruesas de cuarzo. Según los arqueólogos, esto puede indicar un nivel tecnológico menos desarrollado, pero también podría deberse a que los grupos que fabricaron tales herramientas ocuparon la cueva durante periodos más breves, invirtiendo menos tiempo en buscar materiales de buena calidad y en tallar los útiles líticos. Los pobladores del nivel más reciente, en cambio, habrían vivido en este refugio durante periodos más prolongados, siguiendo una estrategia de supervivencia más planificada y a largo plazo y dedicando más tiempo a la búsqueda de materias primas y a la fabricación de utensilios.

Lasca de cuarzo de Cova Eirós (Foto: Alberto López - La Voz de Galicia)
Un rasgo que diferencia estas industrias de las de otros asentamientos neandertales de la vecina Cordillera Cantábrica es el uso frecuente del cuarzo para elaborar herramientas liticas. En los yacimientos cantábricos es mucho menos habitual hallar piezas fabricadas con esta materia prima, más difícil de tallar que el sílex o la cuarcita, ya que se rompe de una forma más irregular. El uso de este material  indica una adaptación a las condiciones ambientales de la zona, donde el cuarzo abunda, mientras que no se encuentra el sílex de forma natural. Esta peculiaridad técnica también se ha observado en los yacimientos neandertales de Quercy, en el sur de Francia, donde escasea igualmente el sílex y se utilizó a menudo el cuarzo en la fabricación de útiles líticos.
    En los niveles arqueológicos del Paleolítico Medio de Cova Eirós, junto con una gran cantidad de huesos de animales de diversas especies, se han encontrado restos de materias vegetales carbonizadas. Los arqueólogos intentan averiguar actualmente si se trata de rastros de hogueras.

Colgante gravetiense de Cova Eirós (Foto: GEPN / IPHES)
En Cova Eirós se han descubierto también importantes rastros de ocupaciones del Paleolítico Superior. Entre ellos figuran las primeras muestras de industrias de la cultura auriñaciense registradas en Galicia. En las excavaciones de 2009 se encontró el objeto de adorno más antiguo conocido hasta ahora en el noroeste ibérico. Se trata de un colmillo de carnívoro de pequeño tamaño —posiblemente un zorro— tallado y perforado para servir como colgante. Las dataciones por carbono-14 han asignado una antigüedad de 26.000 años a esta pieza, encuadrada en la cultura gravetiense,  al igual que otros artefactos descubiertos en el mismo nivel. Estas son también las primeras industrias de esa etapa cultural halladas en Galicia. La cultura gravetiense se desarrolló durante una de las fases más frías de la última glaciación y la cueva se encuentra a a 780 metros de altura sobre el nivel del mar, cerca del límite de los glaciares que cubrieron en esa época las zonas más altas de las montañas orientales gallegas. El hallazgo sugiere que incluso en ese periodo de frío extremo la región ofreció unas condiciones ambientales soportables para los grupos humanos. La ausencia de yacimientos de esa etapa había hecho suponer a algunos investigadores que el territorio gallego pudo haber quedado por entonces totalmente deshabitado.

Una de las pinturas descubiertas en la galería interior (Foto: GEPN / IPHES)
En agosto de 2012, por otra parte, se dio a conocer el hallazgo en Cova Eirós de las primeras muestras de arte parietal paleolítico descubiertas en Galicia, un conjunto de pinturas y grabados situados en una galería interior de la cueva. Según las estimaciones de los investigadores, algunas de estas manifestaciones artísticas podrían situarse entre los periodos Gravetiense y Solutrense, —con una antigüedad aproximada de entre 25.000 y 20.000 años—, mientras que otras datarían del periodo Magdaleniense y podrían tener entre 15.000 y 10.000 años.

Excavación en la galería exterior (Foto: Alberto López - La Voz de Galicia)
 En conjunto, el yacimiento de Cova Eirós contiene la secuencia más completa de poblamientos paleolíticos de diferentes épocas que se ha podido documentar hasta el momento en el noroeste de la penísula. Los investigadores creen que la gruta puede encerrar también testimonios de épocas anteriores al hombre de Neandertal. Un sondeo con georradar indicó que los sedimentos que forman el suelo de la cavidad tienen una profundidad de cerca de tres metros. Por ahora solo se ha excavado en torno a metro y medio y no se sabe lo que puede haber en los niveles más profundos del subsuelo. En la actualidad está en proceso de producción el primer documental sobre los hallazgos arqueológicos realizados en este yacimiento.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Galaicodytes caurelensis, un testigo de la deriva continental en la Sierra del Courel (Galicia)

Galaicodytes caurelensis

En 1997, el biólogo José María Salgado, catedrático de la Universidad de León, descubrió un insecto de una especie desconocida en la Cova do Eixe, una gruta kárstica de la Sierra del Courel. La nueva especie fue estudiada y clasificada en colaboración con Vicente Ortuño, catedrático de la Universidad Autónoma de Madrid y especialista en carábidos. El hallazgo fue dado a conocer en 2000 en un trabajo publicado por el European Journal of Entomology. La especie, denominada Galaicodytes caurelensis por sus descubridores, constituye también un nuevo género zoológico.
El Galaicodytes caurelensis es un coleóptero de entre 4,5 y 4,7 milímetros de longitud, desprovisto de ojos y de alas, que se orienta con las antenas y vive la mayor parte del tiempo en las grietas de las rocas. Como la mayoría de los cárabidos, es un predador que se alimenta de insectos vivos.

Poco tiempo antes, el entomólogo alemán Thorsten Assmann había descubierto en la vecina Sierra de Ancares una especie de coleóptero que denominó Galiciotyphlotes weberi, cuya descripción coincide con la del Galaicodytes caurelensis. Se cree que las dos descripciones corresponden a un único insecto. Assman incluye esta especie en la tribu Perigonini, mientras que Salgado y Ortuño la clasificaron en la tribu Platynini. Sin embargo, Assmann utilizó para su caracterización un único ejemplar macho. Salgado y Ortuño estudiaron tres ejemplares, machos y hembras, de modo que su descripción es más completa. Otros especialistas consideran más plausible la pertenencia de la especie a la tribu Platynini, puesto que la distribución geográfica de los Perigonini hace menos probable su presencia de forma natural en la Península Ibérica

Diseño del G. caurelensis por Xan G. Muras
El especial interés científico del Galaicodytes caurelensis reside en su carácter de especie relicta y de testimonio viviente de las antiguas condiciones biogeográficas. Es la única especie cavernícola conocida de la tribu Platynini en la región paleártica occidental. Las demás especies de esta tribu que viven en el subsuelo fueron descritas en áreas geográficas muy distantes: Japón, Taiwán, Papúa-Nueva Guinea, Hawái, sur de Estados Unidos, México, Guatemala y Venezuela. Según Salgado y Ortuño, el Galaicodytes caurelensis presenta más afinidades morfológicas con las especies norteamericanas de esa tribu —concretamente, las que pertenecen a los géneros Rhadine y Tanystoma— que con las especies de América del Sur y del Pacífico. A su parecer, la especie ibérica y sus parientes lejanos de la región neártica proceden de un ancestro común que se extendió durante el Cretácico Inferior por los actuales territorios de América del Norte y Europa. La presencia de este insecto en las montañas de Galicia, por lo tanto, sería una prueba más de la deriva continental, indicando la existencia de una relación biológica directa entre América del Norte y Europa en tiempos remotos. De acuerdo con esta hipótesis, otras especies del mismo grupo que posiblemente vivieron en el actual territorio europeo se extinguieron a causa de los cambios climáticos de finales del Cenozoico y del Pleistoceno.

   El diseñador gráfico y fotógrafo Xan G. Muras creó un logotipo inspirado en esta rara especie para ser utilizado como símbolo del patrimonio natural de la Sierra del Courel, uno de los territorios de mayor biodiversidad de Galicia. Este emblema es comercializado en camisetas estampadas

  

Galaicodytes caurelensis, uma testemunha da deriva dos continentes na Serra do Courel (Galiza)

Galaicodytes caurelensis
Em 1997, o biólogo José María Salgado, professor da Universidade de Leão, descobriu um inseto de uma espécie desconhecida na Cova do Eixe, uma caverna cárstica da Serra do Courel. A nova espécie foi estudada e classificada com a colaboração de Vicente Ortuño, catedrático da Universidade Autônoma de Madrid e especialista em carábidos. A descoberta foi dada a conhecer em 2000 em um trabalho publicado pelo European Journal of Entomology. A espécie, denominada Galaicodytes caurelensis pelos seus descobridores, constitui também um novo gênero zoológico.
O Galaicodytes caurelensis é um coleóptero de entre 4,5 e 4,7 milímetros de comprimento, desprovido de olhos e de asas, que se orienta com as antenas e vive a maior parte do tempo nas fendas das rochas. Como a maioria dos cárabidos, é um predador que se alimenta de insetos vivos.

Pouco tempo atrás, o entomólogo alemão Thorsten Assmann descobrira na vizinha Serra dos Ancares uma espécie de coleóptero que denominou Galiciotyphlotes weberi, cuja descrição coincide com a do Galaicodytes caurelensis. Acredita-se que as duas descrições correspondem a um único inseto. Assman inclui esta espécie na tribo Perigonini, enquanto Salgado e Ortuño a classificaram na tribo Platynini. Porém, Assmann utilizou para a sua caraterização um único exemplar macho. Salgado e Ortuño estudaram três exemplares, machos e fêmeas, de modo que a sua descrição é mais completa. Outros especialistas consideram mais plausível a pertença da espécie à tribo Platynini, pois a distribuição geográfica dos Perigonini torna menos provável a sua presença de forma natural na Península Ibérica

Desenho do G. caurelensis por Xan G. Muras
O especial interesse científico do Galaicodytes caurelensis reside no seu caráter de espécie relicta e de testemunho vivente das antigas condições biogeográficas. É a única espécie cavernícola conhecida da tribo Platynini na região paleártica ocidental. As outras espécies desta tribo que vivem no subsolo foram descritas em áreas geográficas muito distantes: Japão, Taiwan, Papua-Nova Guiné, Havaí, sul dos Estados Unidos, México, Guatemala e Venezuela. Segundo Salgado e Ortuño, o Galaicodytes caurelensis apresenta mais afinidades morfológicas com as espécies norte-americanas dessa tribo —concretamente, as que pertencem aos gêneros Rhadine e Tanystoma— do que com as espécies da América do Sul e do Pacífico. Ao seu juízo, a espécie ibérica e os seus parentes longínquos da região neoártica procedem de um ancestro comum que se estendeu durante o Cretáceo Inferior pelos atuais territórios da América do Norte e a Europa. A presença deste inseto nas montanhas da Galiza, portanto, seria mais uma prova da deriva continental, indicando a existência de uma relação biológica direta entre a América do Norte e a Europa em tempos remotos. De acordo com esta hipótese, outras espécies do mesmo grupo que possivelmente viveram no atual território europeu extinguiram-se devido às mudanças climáticas de finais do Cenozoico e do Pleistoceno.

   O designer gráfico e fotógrafo Xan G. Muras criou um desenho inspirado nesta rara espécie para ser utilizado como símbolo do património natural da Serra do Courel, um dos territórios de maior biodiversidade da Galiza. Este emblema é comercializado em camisetas estampadas

  

domingo, 26 de maio de 2013

El dolio: un olvidado instrumento musical románico en la Ribeira Sacra (Galicia)

Canecillo de la iglesia de Atán (Foto : Alberto López)

La iglesia de Santo Estevo de Atán, en el municipio de Pantón, forma parte del vasto patrimonio románico de la Ribeira Sacra. Perteneció a un monasterio desaparecido que ya es mencionado en fuentes documentales del siglo IX. Uno de estos documentos, fechado en el año 816, contiene la más antigua referencia conocida sobre la viticultura en la región. El edificio ha sufrido numerosas reformas y alteraciones, y  de la vieja fábrica románica solo quedan la portadada y un conjunto de canecillos esculpidos. También conserva algunos elementos de origen prerrománico. En la fachada sur de la iglesia llama la atención una peculiar figura labrada en un canecillo, una cabeza humana que parece estar sorbiendo vino de un barril. Esculturas muy similares a ésta se pueden ver en numerosas iglesias románicas del norte de la Península Ibérica. Estas figuras fueron denominados bebedores o borrachos e interpretadas como sátiras de la embriaguez y la gula. Sin embargo, según un estudio reciente, estas esculturas tienen ninguna intención moralizante. Son representaciones reales de un antiguo instrumento musical, un tipo de aerófono que dejó muy pocas huellas históricas.


Dolio de Oloritz (Foto: Romanicoaragones.com)
El instrumento, totalmente desconocido hasta hace pocos años, fue identificado por el historiador y musicólogo Faustino Porras Robles, especialista en representaciones musicales en el arte románico, quien en 2007 publicó un trabajo sobre este asunto en la Revista de Folklore que edita la Fundación Joaquín Díaz. Porras Robles dio a este instrumento, cuya denominación original se desconoce, el nombre  de dolio (del latín dolium o tonel). El investigador descarta la posibilidad de que los objetos representados en estas esculturas sean cubas de vino y señala en que en todos los casos aparecen situados por debajo de la figura humana. «Si se tratase de una imagen cargada de contenido simbólico y finalidad moralizante, el tonel se situaría sobre la espalda del personaje para presentarlo como la pesada carga que debe soportar aquel que no controla sus debilidades», apunta. Por otro lado, indica que este «tonel» presenta a menudo una hechura cilíndrica, pero en otros casos tiene forma de elipse o de prisma, y por otra parte siempre aparece representado con un gran pico —por donde supuestamente «bebe» el personaje— que no desempeñaría ninguna función en un tonel real. Estas figuras, además, aparecen en algunos lugares acompañadas de otras que sin duda representan músicos y bailarines.
 
Interior de la iglesia de Atán (Foto: Carlos Rueda)
Las representaciones iconográficas del dolio están diseminadas por todo el norte de la Península. En su trabajo de 2007, Faustino Porras Robles menciona las iglesias de Monasterio de Rodilla, Miñón, Escalada, Moarves de Ojeda (Castilla y León), San Román de Lousada, Santa Mariña de Esposende, Santo Tomé de Serantes, Santiago de Bembrive, San Martiño de Moaña, San Pedro de Rebón, la parroquia de Santiago en la ciudad de A Coruña y la catedral de Lugo (Galicia). En un nuevo artículo publicado en febrero de 2013 amplía la lista, indicando también la presencia del instrumento en esculturas medievales de El Pla de Santa Maria (Cataluña), Artze, Oloritz, Vadoluengo (Navarra), Canales de la Sierra (La Rioja), Los Barrios de la Bureba, Navas de Bureba, Tablada de Villadiego, Vallejo de Mena, Villamayor de Treviño, Ventosilla (Castilla y León), Santo Estevo de Atán y Santiago de Compostela (Galicia).

Organistrum (Wikimedia Commons)

Basándose en la cronología de las representaciones plásticas del dolio, Porras Robles considera que el instrumento fue usado sobre todo en la segunda mitad del siglo XII, aunque parece haber pervivido hasta la Baja Edad Media. El ejemplo más tardío que se conoce es una escultura de la Casa Gótica de Santiago de Compostela, del siglo XIV. El investigador hace también una estimación acerca del posible tamaño de esos instrumentos, calculando que podrían medir entre 45 y 50 centímetros los de mayor volumen (los más comunes) y en torno a 30 centímetros los más pequeños. Analizando la iconografia, supone que era un aerófono de tono grave y poca variedad sonora,
cuya función sería la de enriquecer las melodías ejecutadas con otros instrumentos, contribuyendo al desarrollo de la polifonía que estaba en auge en ese periodo histórico. En la mayoría de los casos, el dolio aparece integrado en escenas juglarescas, con outros músicos que tocan instrumentos de cuerda y viento, con bailarinas, animales amaestrados y contorsionistas, por lo que cabe inferir que fue utilizado principalmente en contextos populares. La causa probable de la desaparición del dolio —añade el autor del estudio— sería el desarrollo de otros instrumentos de técnica más evolucionada y con posibilidades protopolifónicas como la gaita, la alboka o el organistrum (predecesor de la zanfoña), que harían innecesario su uso. 

sábado, 25 de maio de 2013

O dólio: um esquecido instrumento musical românico na Ribeira Sacra (Galiza)

Mísula da igreja de Atán (Foto : Alberto López)
A igreja de Santo Estevo de Atán, no concelho de Pantón, faz parte do vasto património românico da Ribeira Sacra. Pertenceu a um mosteiro desaparecido que já é mencionado em fontes documentais do século IX. Um desses documentos, datado do ano 816, contém a mais antiga referência conhecida sobre a viticultura na região. O edifício sofreu numerosas reformas e alterações, e da velha fábrica românica só restam o portal e um conjunto de mísulas esculpidas. Conserva também alguns elementos de origem pré-românica. Na fachada sul da igreja chama a atenção uma peculiar figura lavrada numa mísula, uma cabeça humana que parece estar a sorver vinho de uma pipa. Esculturas muito similares a esta podem ver-se em diversas igrejas românicas do norte da Península Ibérica. Essas figuras foram denominadas bebedores ou bêbedos e interpretadas como sátiras da embriaguez e da gula. Porém, segundo um estudo recente, tais esculturas não têm nenhuma intenção moralizadora. São representações reais de um antigo instrumento musical, um tipo de aerofone que deixou muito poucas pegadas históricas.


Dólio de Oloritz (Foto: Romanicoaragones.com)
O instrumento, totalmente desconhecido até há poucos anos, foi identificado pelo historiador e musicólogo Faustino Porras Robles, especialista em representações musicais na arte românica, quem publicou em 2007 um trabalho sobre este assunto na Revista de Folklore que edita a Fundação Joaquín Díaz. Porras Robles deu a este instrumento —cujo nome original se desconhece— a denominação de dólio, do latim dolium (pipa ou tonel). O pesquisador descarta a possibilidade de os objectos representados nestas esculturas serem cubas de vinho e frisa que em todos os casos estão situados por baixo da figura humana. «Se se tratasse de uma imagem carregada de conteúdo simbólico e finalidade moralizante, o tonel situar-se-ia sobre as costas do personagem para apresentá-lo como a pesada carga que deve suportar aquele que não domina as suas fraquezas», aponta. Por outro lado, indica que este «tonel» apresenta amiúde uma feição cilíndrica, mas em outros casos tem forma de elipse ou de prisma, e além disso aparece sempre representado com um grande bico —por onde supostamente «bebe» o personagem— que não desempenharia nenhuma função em um tonel real. Estas figuras, aliás, aparecem em certos lugares acompanhadas de outras que indubitavelmente representam músicos e dançarinos.
 
Interior da igreja de Atán (Foto: Carlos Rueda)
As representações iconográficas do dólio estão espalhadas por todo o norte da Península. No seu trabalho de 2007, Faustino Porras Robles  menciona as igrejas de Monasterio de Rodilla, Miñón, Escalada, Moarves de Ojeda (Castela e Leão), S. Romão de Lousada, Sta. Marinha de Esposende, S. Tomé de Serantes, Santiago de Bembrive, S. Martinho de Moanha, S. Pedro de Rebón, a freguesia de Santiago na cidade da Corunha e a catedral de Lugo (Galiza). Em um novo artigo publicado em fevereiro de 2013 alarga a listagem, indicando também a presença do instrumento em esculturas medievais de El Pla de Santa Maria (Catalunha), Artze, Oloritz, Vadoluengo (Navarra), Canales de la Sierra (La Rioja), Los Barrios de la Bureba, Navas de Bureba, Tablada de Villadiego, Vallejo de Mena, Villamayor de Treviño, Ventosilla (Castela e Leão), Santo Estevo de Atán e Santiago de Compostela (Galiza).

Organistrum (Wikimedia Commons)

Baseando-se na cronologia das representações plásticas do dólio, Porras Robles considera que o instrumento foi usado sobretudo na segunda metade do século XII, ainda que parece ter pervivido até à Baixa Idade Média. O exemplo mais tardio que se conhece é uma escultura da Casa Gótica de Santiago de Compostela, do século XIV. O investigador fez também uma estimação acerca do possível tamanho desses instrumentos, calculando que poderiam medir entre 45 e 50 centímetros os de maior volume (os mais frequentes) e arredor de 30 centímetros os mais pequenos. Analisando a iconografia, supõe que era um aerofone de tom grave e pouca variedade sonora, cuja função seria a de enriquecer melodias executadas com outros instrumentos, contribuindo para o desenvolvimento da polifonia que estava em auge nesse período histórico. Na maioria dos casos, o dólio aparece integrado em cenas jogralescas, com outros músicos que tocam instrumentos de corda e de sopro, com dançarinas, animais amestrados e contorcionistas, pelo que cabe inferir que foi utilizado principalmente em contextos populares. A causa provável da desaparição do dólio —acrescenta o autor do estudo— seria o desenvolvimento de outros instrumentos de técnica mais evoluída e com possibilidades protopolifónicas, como a gaita, o alboque ou o organistrum (predecessor da sanfona), que tornariam desnecessário o seu uso. 

domingo, 19 de maio de 2013

Batuko Tabanka, música de Cabo Verde feita na Galiza

Videoclipe de Brinca kumi, de Batuko Tabanka
Batuko Tabanka é um grupo musical formado por mulheres da comunidade de origem cabo-verdiana residente no concelho de Burela, no norte da Galiza. A partir da década de 1970, numerosos imigrantes vindos de Cabo Verde assentaram-se nesta vila, onde se encontra um dos mais importantes portos pesqueiros do mar Cantábrico, para trabalhar nas pescas. Dentro desta comunidade imigrada formou-se primeiramente a associação Tabanka, com o fim de conservar e dignificar a cultura tradicional do seu país de origem. No interior da associação surgiu depois o grupo musical, cujo nome reúne as denominações de dois gêneros tradicionais da música cabo-verdiana: o batuko (batuque, batuku ou batuk) e a tabanka, caraterísticos da ilha de Santiago.

Uma atuação de Batuko Tabanka em 2008
Com base na tradição musical do arquipélago, as integrantes do grupo compõem os seus próprios temas, cantados em crioulo cabo-verdiano, que aludem amiúde à sua vida quotidiana e à sua experiência como imigrantes. Cultivam um estilo muito diferente da morna que popularizou Cesária Évora, a intérprete cabo-verdiana mais conhecida mundialmente. Em dezembro de 2009 apareceu seu primeiro disco, Djunta mô (Juntemos as mãos), em que colaboram músicos de Cabo Verde, Galiza, Portugal, Brasil e a Estremadura espanhola.