quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Terceiro aniversário do único museu de geologia e paleontologia da Galiza

Representação da história geológica da Galiza no museu de Quiroga
  


Em 2 de dezembro de 2014 completa-se o terceiro ano sobre a abertura do museu de geologia e paleontologia de Quiroga, que era na altura –e continua a ser hoje– o único da Galiza no seu gênero. O centro foi criado por iniciativa da câmara municipal de Quiroga com o assessoramento científico do instituto geológico Isidro Parga Pondal, pertencente à Universidade da Corunha. 





 
Coleção de minerais do museu (Foto: Alberto López)

 Uma boa parte do museu está dedicada à divulgação do patrimonio geológico da Serra do Courel, que compreende uma das formações mais singulares da Península Ibérica –o sinclinal de Campodola-Leixazós–, numerosas cavernas cársticas e pegadas dos glaciares que existiram na zona durante a última Idade do Gelo. Nesta parte do museu exibe-se uma ampla coleção de minerais próprios da Serra do Courel, o vale de Quiroga e os territórios vizinhos.




Réplica de um esqueleto de Ursus spelaeus (Foto: Alberto López)
Outra seção, centrada na história paleontológica da região, alberga uma réplica em tamanho natural de um esqueleto de urso das cavernas (Ursus spelaeus) construída com ossos reais de diferentes exemplares fósseis. É a única reprodução completa de uma ossamenta desta espécie extinta que existe na Galiza e uma das muito poucas que é possível ver em todo o Estado espanhol.
   O museu conta igualmente com uma seção dedicada à história da evolução humana no noroeste ibérico e tem previsto exibir uma coleção de indústrias do Paleolítico Inferior que foram descobertas na zona em tempos recentes. Outra área do museu conta a longa história da atividade mineira da zona, onde em diversas épocas foram exploradas minas e pedreiras de ouro, ferro, antimônio e ardósia.

    O museu serve aliás de ponto de partida para visitar as paragens de maior interesse geológico da zona, como o sinclinal de Campodola –situado a nove quilómetros– e a lagoa glaciar da Lucenza.



Castro de Arxeriz, un poblado de la Edad del Hierro en la Ribeira Sacra (Galicia)



El castro domina el Cabo do Mundo, un meandro del río Miño (Foto C. Rueda)

  En agosto de 2013 empezó la primera campaña de excavaciones arqueológicas en el castro de Arxeriz, un poblado protohistórico situado en el municipio de O Saviñao, en la provincia gallega de Lugo. El castro se halla en un terreno perteneciente al Ecomuseo de Arxeriz, creado y gestionado por la Fundación Xosé Soto de Fión, una entidad privada cuyo objetivo es estudiar, conservar y difundir el patrimonio etnográfico, histórico y arqueológico de la Ribeira Sacra. El antiguo asentamiento fue construido sobre un promontorio situado en el borde superior del valle del río Miño, a una altura de cerca de quinientos metros sobre el nivel del mar.

Restos de construcciones del castro (Foto Carlos Rueda)
 En las dos campañas arqueológicas realizadas ahora en el castro fueron puestos al descubierto los restos de diversas construcciones. Entre ellas hay varias viviendas y lo que se supone que es un depósito de cereales. En las excavaciones se encontraron también numerosos fragmentos de cerámica, algunas piezas de orfebrería y utensilios de piedra (molinos de mano, bruñidores, piedras de afilar y fusayolas). Los investigadores identificaron dos niveles arqueológicos distintos, correspondientes a diferentes ocupaciones que fueron datadas provisionalmente entre el siglo IV y el siglo I a.d.C. Hasta el momento no se descubrió ningún elemento arqueológico relacionado con la cultura romana, por lo que se cree que el poblado pudo haber sido abandonado ya antes de la romanización del noroeste ibérico.
 
Vista exterior de la croa o recinto central del castro (Foto Carlos Rueda)

 Los vestigios de estructuras constructivas desenterrados en las excavaciones fueron consolidados para garantizar su conservación. Los responsables del Ecomuseo de Arxeriz ya abrieron el yacimiento arqueológico a las visitas turísticas. Su intención es mostrar a los visitantes todos los restos de las antiguas edificaciones del castro a medida que vayan avanzando las excavaciones.


 
Molino de mano encontrado en el castro (Foto Carlos Rueda)
 Los orígenes del castro de Arxeriz se encuadran en la civilización castreña que se desarrolló en el noroeste de la Península Ibérica en la Edad del Hierro, en los siglos que precedieron a la colonización romana. El área de expansión de la cultura castreña abarca principalmente los territorios de Galicia y el norte de Portugal. En el territorio gallego se conocen centenares de asentamientos de esa época, que solo en una pequeña medida fueron objeto de investigaciones arqueológicas. En Galicia son especialmente notables los castros de Santa Trega, Baroña y Viladonga (situado este último junto a un importante museo). En Portugal, donde se conservan muchos monumentos de ese período, es particularmente conocida la citania de Briteiros.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Castro de Arxeriz, uma povoação da Idade do Ferro na Ribeira Sacra (Galiza)

O castro sobranceia o Cabo do Mundo, um meandro do rio Minho (Foto: C. Rueda)
Em agosto de 2013 começou a primeira campanha de escavações arqueológicas no castro de Arxeriz, uma povoação proto-histórica situada no concelho do Savinhão, na província galega de Lugo. O castro encontra-se em um terreno pertencente ao Ecomuseu de Arxeriz, criado e gerido pela Fundação Xosé Soto de Fión, uma entidade privada cujo intuito é estudar, conservar e divulgar o património etnográfico, histórico e arqueológico da Ribeira Sacra. O antigo assentamento foi construído em um promontório situado sobre a borda superior do vale do rio Minho, a uma altura de perto de quinhentos metros acima do nível do mar. 
 
Restos de edificações desenterradas no castro (Foto: Carlos Rueda)

Nas duas campanhas arqueológicas realizadas até agora no castro foram postos ao descoberto os restos de diversas construções. Entre elas há várias vivendas e o que se supõe ser um armazém de cereais. Nas escavações acharam-se também numerosos fragmentos de olaria, algumas peças de ourivesaria e utensílios de pedra (moinhos manuais, brunidores, pedras de amolar e fusaiolas). Os pesquisadores identificaram dois níveis arqueológicos diferentes, correspondentes a distintas ocupações que foram datadas provisoriamente de entre o século IV e o século I a.C. Até hoje não foi descoberto nenhum elemento arqueológico relacionado com a cultura romana, pelo qual se acredita que a povoação pôde ficar abandonada já antes da romanização do noroeste ibérico. 
 
Vista exterior da croa ou recinto central do castro (Foto: Carlos Rueda)
  
Os vestígios de estruturas construtivas desenterrados nas escavações foram consolidados para garantir a sua conservação. Os responsáveis pelo Ecomuseu de Arxeriz já abriram o sítio arqueológico às visitas turísticas. A sua intenção é mostrar aos visitantes todos os restos das antigas edificações do castro à medida que forem avançando as escavações.



Um moinho manual descoberto no castro (Foto: Carlos Rueda)
 As origens do castro de Arxeriz enquadram-se na civilização castreja que se desenvolveu no noroeste da Península Ibérica na Idade do Ferro, nos séculos que precederam à colonização romana. A área de expansão da cultura castreja abrange principalmente os territórios da Galiza e do norte de Portugal. No território galego conhecem-se centenas de assentamentos dessa época, que só em uma pequena medida foram objecto de pesquisas arqueológicas. Na Galiza são especialmente notáveis os castros de Santa Trega, Baronha e Viladonga (situado junto de um importante museu). Em Portugal, onde se conservam muitos monumentos desse período, é particularmente conhecida a citânia de Briteiros.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Baltasar Merino, um botânico nas florestas da Galiza

Baltasar Merino (1845 - 1917)

Natural de Lerma (província de Burgos, Espanha), o sacerdote jesuíta Baltasar Merino passou uma grande parte da sua vida na Galiza, onde desenvolveu um intenso labor em diversos campos científicos. Ingressou na Companhia de Jesus aos quinze anos de idade. Ao terminar seus estudos de filosofia, foi enviado à Havana, onde ensinou retórica durante três anos. Morou mais tarde em Baltimore (Maryland, Estados Unidos), onde estudou teologia. Após a ordenação, foi destinado ao seminário de Porto Rico, mas seus problemas de saúde impediram-no de seguir a viver na região antilhana. Foi então transferido para um colégio da vila da Guarda (provincia de Pontevedra), onde residiria até sua morte. Lá dedicou-se a ensinar química, física, meteorologia e botânica. Nestas duas últimas disciplinas científicas realizou importantes contributos como pesquisador.
 

Uma página da Flora descriptiva e ilustrada de Galicia, de Baltasar Merino

Merino é lembrado principalmente por suas pesquisas no campo da botânica. Durante anos percorreu sistematicamente o território galego para identificar e classificar numerosas espécies vegetais, muitas das quais foram catalogadas pela primeira vez por ele nesta zona geográfica. Entre 1905 e 1909 foi editada em três volumes sua obra mais importante, Flora descriptiva e ilustrada de Galicia. O Real Jardim Botânico de Madrid publicou uma edição digital íntegra desse extenso trabalho. A mesma instituição recuperou outros estudos de Merino sobre a flora galega: Algunas plantas raras que crecen espontáneamente en las cercanías de La Guardia (1895), Contribución a la flora de Galicia (1897-1904) e Adiciones a la flora de Galicia (1917).
 
Floresta da Devesa da Rogueira (Foto: Descubrelugo.com)

Entre os méritos científicos de Baltasar Merino figura o fato de ter sido o primeiro pesquisador que resaltou o excecional valor da floresta da Devesa da Rogueira, na Serra do Courel, hoje considerada como um dos mais importantes santuários da biodiversidade da Galiza. Neste espaço de apenas duzentas hectares de extensão, nas abas do monte Formigueiros (de 1.643 metros de altura), convivem centenas de espécies vegetais, entre as quais há muitas variedades que raro se encontram no noroeste da Península Ibérica. Merino descreveu-a como «aquela
 selva que, contando séculos de vida, conservava como novas as galas da sua primeira idade». Em 2010, a Universidade de Santiago de Compostela criou nas cercanias desta floresta a Estação Científica do Courel. Surpreendentemente, apesar de seu caráter único, o governo autônomo da Galiza nunca mostrou nenhum interesse pela conservação e proteção deste espaço natural.

Baltasar Merino, un botánico en los bosques de Galicia

Baltasar Merino (1845 - 1917)
Natural de Lerma (provincia de Burgos, España), el sacerdote jesuita Baltasar Merino pasó una gran parte de su vida en Galicia, donde desarrolló una intensa labor en diversos campos científicos. Ingresó en la Compañía de Jesús a los quince años. Al terminar sus estudios de filosofía, fue enviado a La Habana, donde enseñó retórica durante tres años. Vivió después en Baltimore (Maryland, Estados Unidos), donde estudió teología. Tras su ordenación fue destinado al seminario de Puerto Rico, pero sus problemas de salud le impidieron seguir viviendo en la región antillana. Fue trasladado entonces a un colegio de la villa de A Guarda (provincia de Pontevedra), donde residiría hasta su muerte. Allí se dedicó a enseñar química, física, meteorología y botánica. En estas dos últimas disciplinas científicas realizó importantes contribuciones como investigador.
 


Una página de la Flora descriptiva e ilustrada de Galicia, de Baltasar Merino

Merino es recordado principalmente por sus investigaciones en el campo de la botánica. Durante años recorrió sistemáticamente el territorio gallego para identificar y clasificar numerosas especies vegetales, muchas de las cuales fueron catalogadas por primera vez por él en esta zona geográfica. Entre 1905 y 1909 fue editada en tres volúmenes su obra más importante, Flora descriptiva e ilustrada de Galicia. El Real Jardín Botánico de Madrid ha publicado una edición digital íntegra de este extenso trabajo. La misma institución recuperó otros estudios de Merino sobre la flora gallega: Algunas plantas raras que crecen espontáneamente en las cercanías de La Guardia (1895), Contribución a la flora de Galicia (1897-1904) y Adiciones a la flora de Galicia (1917).
 
Devesa da Rogueira (Foto: Descubrelugo.com)

Entre los méritos científicos de Baltasar Merino figura el hecho de haber sido el primer investigador que puso de manifiesto el excepcional valor del bosque de la Devesa da Rogueira, en la Sierra del Courel, hoy considerado como uno de los más importantes santuarios de la biodiversidad de Galicia. En este espacio de solo doscientas hectáreas de extensión, en las faldas del monte Formigueiros (de 1.643 metros de altura), conviven centenares de especies vegetales, entre las que figuran muchas variedades que rara vez se encuentran en el noroeste de la Península Ibérica. Merino la describió como «aquella selva que, contando siglos de vida, conservaba como nuevas las galas de su primera edad». En 2010, la Universidad de Santiago de Compostela creó en las cercanías de este bosque la Estación Científica del Courel. Sorprendentemente, pese a su carácter único, el gobierno autónomo de Galicia nunca ha mostrado el menor interés por la conservación y protección de este espacio natural.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Bertrand du Guesclin, un éphémère comte breton en Galice




 Les biographies de Bertrand du Guesclin (Beltram Gwesklin en breton), dit l’Aigle de Bretagne et le Dogue noir de Brocéliande, ne mentionnent pas le fait que pendant une courte période, au moins nominalement, il a été le seigneur de l’un des plus importants comtés de la Galice médiévale. Du Guesclin —l’un des personnages les plus célèbres de la Guerre de Cent Ans— a éte nommé comte de Lemos en 1366, mais tout indique qu’il n’a jamais gouverné ce domaine. Cet épisode peu connu est mentionné par certains historiens galiciens, comme Germán Vázquez et Eduardo Pardo de Guevara, qui le décrit comme «un bref et confus chapitre dans l’histoire du comté de Lemos».



Forteresse comtale et monastère de Monforte de Lemos (Photo Alberto López)


La nomination de Bertrand du Guesclin comme comte de Lemos a eu lieu dans le cadre d’une longue guerre civile par la possession de la Couronne de Castille, à laquelle était soumis le Royaume de Galice depuis le règne de Ferdinand III. Dans cette guerre se battaient les partisans du roi Pierre Ier le Cruel et ceux de son demi-frère Henri de Trastamare. Ce dernier, qui s’est emparé finalement du trône et regna sous le nom d’Henri II, trouva un important soutien dans les forces mercenaires de Du Guesclin, caracterisées par une grande efficacité militaire et une extrême férocité. Lorsque le chef breton a été nommé comte de Lemos, cependant, il n’était pas le seul à détenir ce titre, et la guerre où il prenait part était encore loin d’être gagnée. Cette même année, Pierre Ier a accordé le même titre (qui n’était pas encore héréditaire à l’époque) au noble galicien Fernando Ruiz de Castro, l’un de ses partisans les plus importants. Fernando Ruiz de Castro était le fils de l’ancien comte de Lemos Pedro Fernández de Castro —dit l’Homme de guerre— et le demi-frère d’Inés de Castro, la célèbre reine morte du Portugal. Son aide a été particulièrement utile pour Pierre lorsqu’ils s’est réfugié en Galice après avoir été battu à Séville par les troupes d’Henri de Trastamare et de Bertrand du Guesclin.


Bataille de Nájera d’après une miniature des chroniques de Jean Froissart
  Le cours de la guerre, d’abord favorable à Henri de Trastamare, a semblé changer en 1367, lorsque Pierre frappa l’armée de son adversaire dans la bataille de Nájera avec l’aide des troupes anglaises sous le commandement du Prince noir. Cependant, le conflit a pris plus tard une nouvelle tournure et Henri a obtenu une victoire finale en 1369 à la bataille de Montiel. Après avoir été vaincu, Pierre Ier est mort dans une bagarre avec son demi-frère. La tradition affirme que Bertrand du Guesclin a aidé Henri à commetre ce meurtre, en inmobilisant le vaincu tandis qu’il prononçait une phrase qu’est devenue une locution proverbiale en langue espagnole: Ni quito ni pongo rey, pero ayudo a mi señor (Je ne veux faire ni défaire un roi, mais je veux secourir mon maître). Selon d’autres témoins, qui a aidé Henri à commettre le fratricide était le noble galicien Fernán Pérez de Andrade. Après la défaite, Fernando Ruiz de Castro a tenté de soulever en Galice la résistance contre le nouveau roi. Mais à la fin de 1370 Henri a envoyé ses troupes pour mater la rébellion et les mercenaires de Du Guesclin ont pris d’assaut les forteresses de Monforte de Lemos et Castro Caldelas. Fernando Ruiz de Castro a été vaincu près de Lugo au début de 1371. Du Guesclin retourna au royaume de France sans prendre possession du comté de Lemos.

Bataille d’Auray, pendant la Guerra de Succession de Bretagne
Né en 1320 au château de La Motte-Broons, près de Dinan, Bertrand du Guesclin appartenait à la petite noblesse bretonne. Analphabète et d’un caractère violent, il s’est fait remarquer très tôt dans le métier des armes. Il a commencé par prendre part à la Guerre de Succession de Bretagne (1341-1364) à la tête d’une armée de mercenaires et aventuriers. Il a été armé chevalier en 1357 et a combattu au service du roi français Charles V contre le roi de Navarre Charles le Mauvais. Après la fin de ce conflit, les compagnies qu’il commandait se sont livrées au pillage pour subsister. Charles V s’est débarrassé du problème en envoyant Du Guesclin pour servir Henri de Trastamare dans la guerre civile castillane. Quand le chef mercenaire est revenu en France en 1370, a été nommé connétable et il a continué à participer dans plusieurs guerres, en particulier dans la lutte pour évincer les Anglais des territoires qu’ils occupaient en France. Il mourut en 1380 au siège de la forteresse de Châteauneuf-de-Randon.
   La stratégie militaire de Bertrand du Guesclin s’est caracterisée par les tactiques de la guerre d’attrition, la guérilla et la terre brûlée. En France, il a toujours été un héros national. Beaucoup de nationalistes bretons, en revanche, l’ont considéré comme un traître pour avoir combattu au service de la couronne française contre la Bretagne, à l’époque un duché indépendant.

sábado, 22 de junho de 2013

Bertrand du Guesclin, um efêmero conde bretão na Galiza




 As biografias de Bertrand du Guesclin (Beltram Gwesklin em bretão), chamado Águia da Bretanha e Dogo Negro da Brocelianda, não costumam mencionar o fato de que por um curto período, ao menos nominalmente, foi senhor de um dos mais importantes condados da Galiza medieval. Em 1366, Du Guesclin —um dos personagens mais célebres da Guerra dos Cem Anos— foi nomeado conde de Lemos, mas tudo indica que em nenhum momento chegou a governar o condado. Este pouco conhecido episódio é mencionado por alguns historiadores galegos, como Germán Vázquez e Eduardo Pardo de Guevara, quem o qualifica de «breve e confuso capítulo da história do condado de Lemos».


Fortaleza condal e mosteiro de Monforte de Lemos (Foto Alberto López)

A nomeação de Bertrand du Guesclin como conde de Lemos produziu-se no contexto de uma longa guerra civil entabulada no século XIV pela posse da coroa de Castela, à qual estava submetido o Reino da Galiza desde o reinado de Fernando III. A guerra enfrentava os partidários do rei Pedro I, o Cruel e de seu meio-irmão Henrique de Trastâmara. Este último, que acabou por ocupar o trono e reinou com o nome de Henrique II, teve um importante apoio nas tropas mercenárias de Du Guesclin, caraterizadas por uma grande eficácia militar e uma ferocidade extrema. Quando o caudilho bretão foi nomeado conde de Lemos, no entanto, não era o único que ostentava essa dignidade, e a guerra em que tomava parte estava longe de ser ganhada. Nesse mesmo ano, Pedro I outorgou o mesmo título (que ainda não era hereditário nessa altura) ao nobre galego Fernando Ruiz de Castro, um dos mais importantes partidários que teve ao longo do conflito. Fernando Ruiz de Castro era filho do anterior conde de Lemos —Pedro Fernández de Castro, chamado o da Guerra— e meio-irmão de Inês de Castro, a famosa rainha morta de Portugal. Sua ajuda foi especialmente útil a Pedro I quando se refugiou na Galiza depois de ser derrotado em Sevilha pelas tropas de Henrique e Bertrand du Guesclin.


Batalha de Nájera segundo uma miniatura das crónicas de Jean Froissart
  O curso da guerra, inicialmente favorável a Henrique de Trastâmara, pareceu mudar em 1367, quando Pedro desbaratou o exército do seu adversário na batalha de Nájera com o auxílio de tropas inglesas sob o comando do Príncipe Negro. Porém, o conflito deu mais tarde um novo giro e Henrique alcançou uma vitória definitiva em 1369 na batalha de Montiel. Depois de ser derrotado, ao que parece, Pedro I morreu em um forcejo com seu meio-irmão. A tradição diz que o próprio Bertrand du Guesclin ajudou Henrique no assassinato, segurando o vencido enquanto proferia uma frase que se tornaria um lugar-comum na língua espanhola: Ni quito ni pongo rey, pero ayudo a mi señor (Nem tiro nem ponho rei, mas ajudo meu senhor). Segundo outros testemunhos, quem ajudou Henrique a perpetrar o fratricídio foi o nobre galego Fernão Perez de Andrade. Após a derrota, Fernando Ruiz de Castro tentou de levantar na Galiza a resistência contra o novo rei. Mas por finais de 1370 Henrique enviou suas tropas para sufocar a rebelião e os mercenários de Du Guesclin assaltaram as fortalezas de Monforte de Lemos e Castro Caldelas. Fernando Ruiz de Castro foi vencido perto de Lugo por inícios de 1371. Du Guesclin voltou para o reino de França e não chegou a tomar posse do condado de Lemos. 

Batalha de Auray, na Guerra de Sucessão da Bretanha
Nascido em 1320 no castelo de La Motte-Broons, perto de Dinan, Bertrand du Guesclin pertencia à baixa nobreza bretã. Analfabeto e de caráter violento, destacou desde muito novo na carreira das armas. Começou tomando parte na Guerra de Sucessão da Bretanha (1341-1364) à frente de um exército de aventureiros e mercenários. Foi armado cavaleiro em 1357 e combateu ao serviço do rei francês Carlos V contra o monarca navarro Carlos II, o Mau. Ao terminar este conflito, as companhias que comandava subsistiram praticando a rapina. Carlos V desfez-se do problema enviando Du Guesclin a servir Henrique de Trastâmara na guerra civil castelhana. Quando o chefe mercenário voltou à França em 1370, foi nomeado condestável e continuou a participar em diversos conflitos bélicos, nomeadamente nas lutas para expulsar os ingleses dos domínios que detinham em território francês. Morreu em 1380, no cerco da fortaleza de Châteauneuf-de-Randon. 
   A estratégia militar de Bertrand du Guesclin caraterizou-se pelas táticas da guerra de atrito, a guerrilha e a terra arrasada. Na França foi tido tradicionalmente por um herói nacional. Muitos nacionalistas bretões, pelo contrário, consideraram-no um traidor por ter lutado ao serviço da coroa francesa contra a Bretanha, que era nessa época um ducado independente.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Cavernas no límite das geleiras da Serra do Courel (Galiza)

Exploração da caverna da Tara
Em 2009, o clube espeleológico Maúxo, com sede em Vigo, e o Instituto de Geologia Isidro Parga Pondal, da Universidade da Corunha, editaram a brochura As grandes covas do Courel, que recolhe pesquisas realizadas ao longo de quatro anos em diversas cavernas cársticas desta serra do leste da Galiza, caraterizada por uma grande diversidade geológica e biológica. A publicação descreve as principais caraterísticas de quatro cavernas calcárias: Arcóia, Pena Paleira, Rio Pérez e Tara. Todas elas encontram-se no límite das geleiras que existiram durante o Pleistoceno nas zonas mais altas da serra.


Concreções calcárias na caverna de Arcóia
O estudo científico destas cavidades, cuja formação está associada aos processos de drenagem das antigas massas de gelo, começou em tempos muito recentes. Algumas delas foram descobertas em 1993 e 2007. Na publicação catalogam-se os diversos tipos de espeleotemas que os espeleólogos e geólogos puderam observar neste conjunto de grutas: estalactites, estalagmites, antiestalagmites, helictites, escorrimentos, gours, calcitas flutuantes, coralóides...


Estalagmite de Arcóia (seção)
O Instituto de Geologia Isidro Parga Pondal, em colaboração com a universidade estadunidense da Geórgia, está a utilizar estalagmites extraídas da caverna de Arcóia em um projeto de investigação cujo fim é obter um registo dos climas pré-históricos das montahas da Galiza. Essa informação consegue-se analisando os isótopos de carbono e oxigênio que ficam encerrados no interior destes espeleotemas durante o seu lento processo de formação. Com esta técnica é possível determinar as condições de umidade e temperatura que se davam na região há milhares de anos. Em uma primeira tentativa obteve-se uma sequência de dados climáticos que se estende desde há 14.000 anos —por finais da última glaciação— até à época atual. Agora estão a realizar-se análises com um fragmento de uma estalagmite de maior tamanho, e portanto muito mais antiga, das quais se pretende extrair dados dos últimos 235.000 anos. Os pesquisadores já identificaram nesta estalagmite as pegadas de sete etapas bioclimáticas diferentes.

As geleiras pré-históricas deixaram muitas outras pegadas na Serra do Courel, como a lagoa de Lucenza, situada 1.400 metros acima do nível do mar.

Grutas de la cota glaciar de la Sierra del Courel (Galicia)

Exploración de la cueva de A Tara
En 2009, el club espeleológico Maúxo, radicado en Vigo, y el Instituto de Geología Isidro Parga Pondal, de la Universidad de A Coruña, editaron el folleto As grandes covas do Courel, que recoge investigaciones realizadas durante cuatro años en diversas grutas kársticas de esta sierra del este de Galicia, caracterizada por una gran diversidad geológica y biológica. La publicación describe las principales características de cuatro cavernas: Arcoia, Pena Paleira, Río Pérez y A Tara. Todas ellas están situadas en el límite de los glaciares que existieron durante el Pleistoceno en las zonas más altas de la sierra.

Formaciones calizas en la cueva de Arcoia
 El estudio científico de estas cavidades, cuya formación está asociada a los procesos de drenaje de las antiguas masas de hielo, comenzó en tiempos muy recientes. Algunas de ellas fueron descubiertas en 1993 y 2007. En la publicación se catalogan los diversos tipos de espeleotemas que los espeleólogos y geólogos han podido observar en este conjunto de grutas: estalactitas, estalagmitas, helictitas, conulitos, coladas, gours, calcitas flotantes, coraloides...


Estalagmita de Arcoia (sección)
El Instituto de Geología Isidro Parga Pondal, en colaboración con la universidad estadounidense de Georgia, está utilizando estalagmitas extraídas de la cueva de Arcoia en un proyecto de investigación cuyo objetivo es obtener un registro de los climas prehistóricos de las montañas de Galicia. Esa información se consigue
analizando los isótopos de carbono y oxígeno que quedan
encerrados en el interior de estos espeleotemas durante su lento proceso de formación. Con esta técnica se pueden determinar las condiciones de humedad y temperatura que se dieron en la zona hace millares de años. En un primer ensayo se obtuvo una secuencia de datos climáticos que se extiende desde hace 14.000 años —a finales de la última glaciación— hasta la época actual. Ahora se están realizando análisis con un fragmento de estalagmita de mayor tamaño, y por lo tanto mucho más antigua, de los que se espera extraer datos de los últimos 235.000 años. Los investigadores ya identificaron en esta estalagmita las huellas de siete etapas bioclimáticas diferentes.

Los glaciares prehistóricos dejaron muchas otras huellas en la Sierra del Courel, como la laguna de Lucenza, a 1.400 metros de altura.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O primeiro mamute descoberto na Galiza (1961)

Dente molar do mamute de Buxán (Foto: Xoán A. Soler - La Voz de Galicia)
Em 1961 foram descobertos em uma pedreira do concelho do Íncio (província de Lugo) os primeiros restos fósseis de mamute encontrados na Galiza. O achado produziu-se de um modo fortuíto no lugar de Buxán, durante as tarefas de extração de rocha calcária para uma fábrica de cimento da antiga empresa Cementos del Noroeste, hoje pertencente à multinacional portuguesa Cimpor. Os restos apareceram misturados com argila no interior de uma fenda rochosa. O chefe da pedreira, Ramón Pedreño, compreendeu que deviam pertencer a uma espécie extinta de grande porte e comunicou a descoberta ao geólogo Isidro Parga Pondal, accionista da empresa cimenteira. Ao examinar as peças, o cientista constatou que se tratava de um conjunto de dentes e fragmentos de osso de um mamute.

Mammuthus primigenius - Ilustração de Mauricio Antón
Os restos fósseis achados na pedreira de Buxán consistem em um molar inferior direito quase inteiro, de 19,5 centímetros de comprimento e 14 de largura, e um pedaço de molar inferior esquerdo, de 8 centímetros de comprimento e 18 de largura. No local também apareceram duas vértebras fragmentadas, um pedaço de osso longo e pequenos fragmentos ósseos não identificados. No estudo das peças participou o paleontólogo Emiliano Aguirre, quem anos mais tarde seria o primeiro diretor das escavações das célebres jazidas paleolíticas da Serra de Atapuerca. Os pesquisadores  concluíram que os restos pertenciam a um mamute lanoso (Mammuthus primigenius). Desde então não se descobriram mais vestígios desta espécie na Galiza. O fóssil de Buxán continua sendo o animal de maior tamanho, de qualquer época, encontrado no noroeste da Península Ibérica.

Woolly mammoth: Secrets from the Ice (Documentário da BBC - 2012)
 Os restos do mamute de Buxán conservam-se no Museu de História Natural Luis Iglesias, pertencente à Universidade de Santiago de Compostela. Desconhece-se a sua antiguidade exacta, pois até agora não se realizou com eles uma datação radiométrica. Cabe supor, porém, que datam de um dos períodos mais frios do Pleistoceno. Um estudo publicado pelos paleontólogos Diego Álvarez-Lao e Nuria García na revista Quaternary Science Reviews explica que a presença de espécies como o mamute lanoso, o rinoceronte lanoso e a rena na Península Ibérica não foi constante, mas que se regista apenas nos episódios de frio más intenso da Idade do Gelo. Durante esses períodos, os animais adaptados ao clima glacial veriam-se obrigados a migrar para o sul para sobreviverem, pois as camadas de gelo que então cobriam vastas regiões do centro e do norte de Europa não lhes permitiam encontrar pastagens. No sul do continente conviveram com espécies como o veado, a corça e o javali, mais próprias dos climas temperados.